Lembranças e sentimentos que jamais serão esquecidos: o Flamengo é um amor que nunca passa. Feliz Dia do Flamenguista!
Drummond escreveu o primeiro amor passou, o segundo amor passou, o terceiro amor passou, mas o coração continua.
Quando pequeno, eu achava que o Flamengo era o meu primeiro amor, o inaugural, o referente. Só o Flamengo não me abandonava nunca. Estava sempre ali, não apenas em dias de jogo, mas nas revistas amareladas, nos chaveiros com escudos mal desenhados, nos botões da Gulliver que eu dispunha no chão da sala enquanto imaginava a voz de Jorge Curi: – Lá vai Junior, alça a pelota a Zico, entrega a Júlio César.
Como saber, na infância, que aquilo não seria eterno? Zico, Junior, o Maracanã, a voz de Jorge Curi. O Flamengo do primeiro amor foi acabando e os membros se regenerando, urubu-salamandra. Não se regenerou, é verdade, o Maracanã, espaço hoje ocupado por um prótese malfeita.
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A vida mudou, pessoas sumiram no horizonte, algumas ainda doem, outras nem lembro mais. As revistas estão ainda mais amareladas, mas suas histórias fazem cada vez mais sentido. O álbum de recortes de fotos e manchetes retrata o desespero do menino que não queria que aquilo acabasse.
Pego o álbum na estante. A capa azul com a figura de um combatente rubro-negro colada com papel contact, cuidadosamente recortado por meu pai. Passear pelas páginas é revisitar títulos, jogos gloriosos, homenagens a Zico e uma época em que o Flamengo não estava ao alcance de um clique.
Certa feita, no colégio, a professora pediu que cada aluno levasse um objeto de sua afeição. Levei o álbum, ainda pela metade. A tarefa era fazer uma redação sobre o objeto. Aos doze anos, escrevi o seguinte:
Este não é um simples objeto. Aqui estão lembranças e sentimentos que não quero e não posso esquecer. Às vezes pergunto coisas para os mais velhos, e respondem que não lembram. Eu não quero esquecer o quanto fiquei feliz com o gol no final do jogo de ontem. Não quero esquecer a saudade que eu sinto do Zico, e quero continuar olhando para as páginas em branco e imaginar que um dia eu vou colar lá uma foto do Zico desembarcando no Galeão e a manchete “O Galinho voltou”.
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Este álbum não é só um objeto porque aqui estão minhas lembranças e minhas esperanças, e se um dia eu começar a esquecer quem eu sou, eu sei que é só pegar este álbum, porque ele sempre vai saber quem eu sou.
Neste Dia do Flamenguista, divido um pouco do meu álbum com vocês, desejando que possamos ser um pouco mais felizes nos próximos anos¹. Que o Flamengo una mais, exclua menos e se comporte à altura da nossa paixão. Mas seja como for, daqui a muitos anos ainda estaremos aqui.
Porque o Maracanã caiu, Jorge Curi Morreu, Zico parou. Mas o Flamengo continua.
Feliz Dia do Flamenguista, Nação!
¹Crônica escrita em celebração ao Dia do Flamenguista de 2017.
*Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Reprodução