Nunca pensei que precisaríamos justificar tantas coisas em tão pouco tempo, principalmente em um esporte tão sólido quanto o basquete dentro do Flamengo. E, por mais que não concorde com grande parte, cobranças em um clube do tamanho do Fla são naturais. O grupo, que mudou completamente de estilo com a troca de algumas peças, sofreu um grande baque nos últimos dias e a necessidade de dar uma virada no jogo é enorme. Mas o objetivo dessa carta não é falar por eles, mas sim para eles.
Ontem, durante a partida contra o Brasília, era inevitável notar a cabeça baixa de todos. E, por mais que muitas vezes quisesse gritar para que vocês a levantassem, eu também sabia que essa mudança de mentalidade precisava sair de dentro de cada um. Mais uma vez a bola chorou, mas não entrou. O que não quer dizer que ela não vá entrar posteriormente, mas os pontos só são marcados quando tentamos fazer a cesta e talvez seja isso que esteja faltando. Lembrar que ainda dá tempo de tentar.
Sei pouco da carreira de cada um, alguns mais do que outros, mas, ainda assim, não posso precisar as dificuldades que passaram ou o esforço diário que é a vida de vocês. Conheço pouco mais do que os sites podem me mostrar, mas com essa parcela de informações já sei que não foi fácil chegar até aqui. E vestir essa camisa rubro-negra se torna ainda mais difícil, porque o basquete conquista dia após dia seu espaço em um lugar dominado pelo futebol e com uma Nação de mais de 40 milhões de apaixonados.
Não posso falar se o atual momento é um dos mais complicados da história de cada um profissionalmente. Sei, porém, que quando vocês colocaram na cabeça o desejo de poder dizer que são jogadores de basquete, sabiam que não seria nada simples. Apesar disso, se apoiavam no grande sonho e no amor pelo esporte para seguir. E, ao menos na minha percepção, é isso que precisamos fazer quando passamos por um momento ruim. Relembrar o porquê corremos tanto atrás para chegar até ali.
A decepção da Liga das Américas não pode e não deve ser o suficiente para fazê-los esquecer disso. Foi ruim, mas passou, não dá mais para voltar atrás e refazer aquela jogada da melhor forma, ou tentar aquela cesta de um outro jeito que com certeza entraria. O rumo dessa temporada está nas mãos de vocês e somente de vocês. Tentar se justificar, martelar críticas nada construtivas na cabeça... Nada disso vai ajudar a mudar o rumo do que ficará marcado quando nos lembrarmos desse ano. Podemos lidar com as críticas de uma caminhada sem títulos, mas temos a chance de lembrar de vocês como um grupo que se superou brilhantemente em meio às adversidades.
Como torcedora, agora repórter de basquete e, principalmente, admiradora do grupo que chamo com prazer de Orgulho da Nação, peço que levantem a cabeça e comecem a verdadeiramente se divertir. Não é como se eu pudesse dizer "esqueçam isso". E, na minha opinião, não se deve esquecer um momento ruim, porque os bons são construídos a partir dele. A tristeza e frustração de vocês hoje pode servir de combustível amanhã. É brigar e lutar para que o sentimento ruim se transforme em bom, para que a decepção se transforme em alegria plena.
"Errei mais de 9000 arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Vinte e seis vezes fui escolhido para fazer o arremesso da vitória e errei. Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que tive sucesso", Michael Jordan.
Luiza Sá é estudante de jornalismo e cresceu nas arquibancadas do Maracanã ao lado de sua família. É a redatora de basquete do MRN e apaixonada pelo esporte da bola laranja.