João Luis Jr: Como Tite e a CBF tentaram afastar o rubro-negro da Seleção

14/12/2022, 00:05
everton ribeiro está na seleção brasileira na copa

Até bem pouco tempo atrás, ter um jogador do seu clube convocado para a Seleção Brasileira era algo que causava apenas sentimentos positivos. Você ficava feliz como torcedor, porque era um reconhecimento da qualidade do seu clube e dos jogadores que estavam nele. Além disso, você ficava feliz até como pessoa, porque era uma recompensa para atletas que estavam te dando alegria dentro de campo.

Se o seu camisa 10 está na seleção é porque ele é um ótimo camisa 10. E se o cidadão deu tantas felicidades pra você como torcedor, nada mais normal do que ficar feliz quando ele atinge seus sonhos como jogador. Tudo muito bonito, tudo muito bacana.

Leia mais do mesmo autor: Saída de Dorival é mais um show de amadorismo da diretoria rubro-negra

Mas como nada é tão perfeito que um dirigente de futebol não consiga estragar. A CBF passou grande parte dos últimos anos tentando seu melhor para fazer com que o torcedor gostasse cada vez menos de ver atletas do seu clube convocados para a Seleção.

Tite em coletiva de imprensa sobre próximo jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo
Ainda bem que agora já está liberado chamar de burro. Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Primeiro com um calendário de jogos da Seleção Brasileira que parecia ignorar a existência dos clubes brasileiros. Rodadas importantes do Brasileirão? Vamos marcar alguns importantes amistosos com seleções como Panamá, Guiné-Bissau e Vaticano no mesmo período. Libertadores chegando no mata-mata? Infelizmente coincidiu com importantíssimos jogos das Eliminatórias contra a Bolívia, onde precisaremos de força total. Afinal de contas, o Brasil está apenas em primeiro lugar, invicto, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

E depois, porque o último técnico da Seleção, em seus oito anos à frente do escrete canarinho, fez questão de mostrar que havia uma separação estilo “O Médico e o Monstro” entre o Dr. Tite e o Sr. Adenor. O primeiro, quando comandante do Corinthians, reclamava de calendário e das convocações. Já o segundo, já na CBF, fazia questão de tirar do Flamengo jogadores importantes para que eles tivessem cinco minutos em campo durante um amistoso contra a Albânia. Enquanto isso, a equipe rubro-negra enfrentava adversários de ponta de tabela no campeonato nacional.

Somando a isso as posturas bizarras do mesmo Tite em relação a Gerson – não era convocado quando vivia bom momento no Flamengo, foi convocado ao ir para a França, apenas para deixar de ser convocado porque não vivia mais um bom momento – e Gabigol – convocado para jogar fora de posição, passou a jogar na nova posição esperada por Tite, aí não foi mais convocado – e você tem um cenário em que o torcedor rubro-negro ficava cada vez menos animado com uma possível convocação dos seus jogadores.

gabigol seleção brasileira
Gabigol atuando pela segunda seleção mais importante do Brasil
Lucas Figueiredo/CBF

Afinal, qual a alegria de ver o atleta do seu time convocado se ele vai desfalcar o clube sem necessariamente ter a oportunidade de ajudar seu país? Quantas vezes o Flamengo não atuou sem Gabigol, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Rodrigo Caio para Tite deixá-los no banco durante um jogo qualquer? Tudo isso para perder a Copa do Mundo numa partida em que Everton, um dos mais cerebrais jogadores de criação do Brasil, ficou no banco para que Fred pudesse entrar de maneira desesperada e ser um dos pivôs da eliminação.

Que esse novo ciclo da Seleção sirva então não apenas para que a CBF cumpra a promessa de um calendário que respeite os clubes, como também que o novo treinador do Brasil saiba respeitar os jogadores envolvidos. Principalmente com menos hipocrisia, mais reconhecimento e, acima de tudo, um final um pouco mais feliz daqui a quatro anos. Como Gabigol bem falou, todo atleta rubro-negro já atua por uma seleção, mas enquanto brasileiros, nós queremos conseguir torcer em paz pelas duas.