Cinco jogos.
Com duas vitórias, dois empates (sendo um seguido de derrota nos pênaltis) e uma derrota, efetivamente, o Flamengo voltou a ser pauta de debate entre molambos e não-molambos. E, entre opiniões sóbrias e tresloucadas, um mar de críticas. Seja pelo conjunto, pelas contratações, pelas evidentes fragilidades que o time ainda apresenta, pelo esquema de jogo ou pelo futebol até agora pouco constante (e empolgante), o futebol rubro-negro tem levantado dúvidas sobre "como será 2016?".
Um fascinante exercício de futurologia.
Quando a Chapa Azul assumiu o Flamengo, em 2013, contaram-nos o seguinte: "ó, tá foda. Vamos precisar da compreensão de vocês! Teremos alguns anos de vacas magras para, num futuro não muito distante, sermos uma potência. Beleza?". "Beleza", disse, surpreendentemente, a Magnética. E, assim, começava uma nova narrativa na história flamenga.
Ao longo de três parcos anos, o Flamengo contentou-se com campanhas medíocres (exceção à improvável conquista da Copa do Brasil, em 2013); o futebol do clube, tocado com raro (para aquela diretoria, não para a história recente do clube) amadorismo no período, ficou à espera do seu messias. Era pra ser o Carlos Eduardo, ficou claro que era o Elias; era pra ser o Marcelo Moreno e quem assumiu a responsa foi o Brocador; e foi assim com Mugni, com Canteros, com Éverton, Marcelo Cirino... até chegar em Guerrero.
A contratação do peruano, mais do que um puta ganho técnico, era um sinal: estamos virando a página, o capítulo "sofrência na miséria" acabou. Agora, é vida nova.
A estreia do camisa 9 foi como um conto de fadas. Não tardou para o contrapeso Alan Patrick emergir como o "camisa 10 que faltava". E aí veio Éderson, com passagem pela seleção. E tinha Sheik, o potencial "novo Pet de 2009". E Kayke, da problemática base rubro-negra, aparecia como o substituto ideal pro ataque. E a torcida, sedenta pelo próximo passo em direção à categoria de potência, mordeu a isca. Alternando atuações empolgantes e episódios deprimentes, 2015 terminou de maneira melancólica, alimentando ainda mais a pergunta que origina esse blá-blá-blá todo: como será o futuro?
Peguem o elenco do Flamengo que inicia 2016 e comparem com os elencos dos últimos 3, 4 anos. Temos muito mais talento e opções do que em anos anteriores. Isso significa que 1) devemos performar melhor e 2) temos um teto mais alto, um limite que nos permite ir muito além. Há deficiências no plantel, é claro. Fraquezas que são potencializadas à medida em que nosso conjunto não consegue replicar as ideias do novo comandante.
(Lembremos, por favor: o Muricy foi estudar o estilo de jogo do Barcelona, atualizar seus conhecimento sobre o jogo e NÃO roubar os poderes dos jogadores culés para enfrentar os Looney Tunes).
E aí é elementar, mas não custa lembrar: ninguém emula o estilo de jogo do Barcelona com 3 semanas de treino. Especialmente quando você tem um sem-número de jogadores cujo QI de futebol é baixo e/ou já possuem um estilo de jogo consolidado. Ou alguém espera, sinceramente, que o Márcio Araújo desenvolva novas ferramentas ao seu jogo depois dos 30? Ou que o Sheik, com sabe-se lá quantos anos, seja um ponta insinuante e agressivo como o Neymar? E o Wallace, será que arranja uma Shakira nessa folia?
Dito isto, devemos nos preocupar exclusivamente em como desenvolver um estilo de jogo que permita ao elenco rubro-negro bater nesse teto de capacidade. E, pra tanto, é necessário se perguntar o quanto realmente importam esses primeiros cinco resultados? Oras, dois jogos amistosos cujo objetivo era festejar com a Nação no Nordeste e conhecer as caras novas, dois outros jogos num torneio que torcida e clube não sabem se sabotam ou não.
Por fim, o jogo que deveria mais importar: a vitória contra o Atlético, com boa atuação na segunda etapa, amplo domínio das ações, comportamento vibrante dos atletas e alternativas que demonstram um pouco desse nosso potencial. É bem verdade que o primeiro tempo foi monótono, lembrando a identidade modorrenta de 2015. Mas é um início de trabalho, um processo de construção. Não apenas de um "onze ideal", mas de um padrão de jogo, de uma identidade coletiva.
Sei que às vezes é foda, mas não dá pra ficar vaiando jogador com cinco jogos na conta. Tumultua o ambiente, coloca uma pressão escrota e que nada tem a ver com o momento da temporada. Nosso teto é bem mais alto que isso. Faltam Mancuello, Cuellar, Éderson, Kayke. Quem sabe ainda um zagueiro. Fora as caras da base que invariavelmente serão testadas.
Aprendamos a dar relevância pro que merece. Vencemos o jogo mais importante que tivemos até, tivemos alguns (poucos, é verdade) ótimos momentos nos poucos testes do ano. Há muito pra melhorar, sem dúvida, mas fica aí a aposta: 2016 será muito bom!
@Danisendebo
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