Acompanhando o trabalho de Tite é fácil perceber que ele é obcecado por três coisas: equilíbrio, consistência e falar sempre de maneira absolutamente vaga e inconclusiva.
E ainda que a terceira parte possa sim ser um pouco cansativa – o jornalista pergunta quem vai ser o titular e Tite diz que todos são titulares e todos são reservas e nada é mais titular que o trabalho e a verdadeira titularidade são os amigos que fazemos pelo caminho – são as duas primeiras que tem tido mais importância nesse começo de temporada.
Porque não, não temos um Flamengo que dê show. Não que ninguém esperasse, num começo de Campeonato Carioca, ver uma equipe rubro-negra aplicando goleadas contundentes, humilhando adversários ou apresentando um futebol padrão 2019, aquele tempo em que você sentava pra ver o jogo sabendo que íamos ganhar, a dúvida era quão bonitos seriam os gols.
Mas temos um Flamengo organizado. Um time que sabe se defender e que raramente corre perigo. Que não pena nas bolas altas, que não tem dificuldades pra se recompor sem a bola. Sabemos quem são hoje os titulares – quer a gente concorde ou não – e temos a defesa menos vazada do Carioca, o que pode não ser um grande referencial, mas todos os outros grandes sofreram no mínimo 4 gols a mais do que nós.
E diante do que foi a temporada 2023, onde testemunhamos um Flamengo sem padrão algum, com técnicos que escondiam a escalação não apenas dos adversários como também dos próprios jogadores, resultando em eliminações bizarras em virtude de gols absurdos, é inegável a segurança que um trabalho estável com o de Tite pode oferecer.
Como ficou claro na vitória desta quinta-feira, diante do Bangu. Um jogo onde o Flamengo não esteve empolgante, não esteve eletrizante, não te fez se emocionar. Mas foi uma equipe eficiente, organizada, aproveitou as chances que foram criadas e em nenhum momento chegou a sequer correr risco de ser vazado, quanto mais de perder a partida. Um 3×0 categórico, sólido e indiscutível.
Somando a isso a bela partida de Igor Jesus – que se torna boa opção pra reserva de Pulgar diante de um Allan sempre machucado – numa noite iluminada de Pedro, que marcou três vezes, e você tem um jogo que é talvez a imagem mais clara dos benefícios do Titismo: eficiência, segurança, poder ir dormir sem tomar gol.
E ainda que a sensação seja de que ofensivamente o Flamengo, no decorrer da temporada, vai precisar de mais do que isso, já que a dificuldade dos desafios tende a ser bem maior, já é possível perceber que o Titismo, ainda que não seja exatamente o caminho da emoção, talvez seja uma rota mais pragmática, mais pé no chão e com menos gols sofridos em direção aos títulos que essa temporada precisa trazer.
Afinal, se você for analisar o futebol em suas premissas mais básicas, não tomar gol pode não ser o mais importante, mas é com certeza um ótimo começo.