Na 1ª coletiva, Jesus promete novas ideias e busca por intensidade, mas sem 'revolução'
O novo técnico do Flamengo, o português Jorge Jesus, concedeu hoje sua primeira entrevista coletiva desde que foi anunciado no cargo. Veja abaixo um resumo dos principais trechos nas palavras do próprio Jesus:
Cartão de visita
O que eu quero principalmente é apresentar o trabalho que eu vou fazer no Flamengo. O meu passado como treinador está escrito, tem alguma importância porque os treinadores vivem, antes de começar a trabalhar, do seu currículo. Eu sou o treinador mais vencedor em Portugal, mas o que eu tenho que apresentar é meu trabalho no Flamengo.
Onde temos chegado temos apresentado trabalho. É claro que minhas ideias são diferentes, mas não vamos revolucionar nada. O que eu fiz na minha carreira nas maiores equipes portuguesas é exatamente o que eu vou fazer no Flamengo.
Impressão do Fla-Flu
Este foi o segundo jogo que eu vi do Flamengo ao vivo. Vi vários jogos na televisão. Vi em Minas Gerais, por sinal talvez não ganhou, e vi ontem. Vi uma equipe do Flamengo um bocadinho ansiosa, mas isso também é normal ao estar numa tentativa de recuperação em relação ao primeiro classificado. Vi o Fluminense com outras opções de olhar para o jogo, buscou não só a vitória, mas também não perder, e isso prejudicou a equipe do Flamengo, que jogou para querer ganhar. Isso (empate) aconteceu ao Marcelo, mas também pode acontecer comigo.
Ideias de jogo
Vai ser uma característica que eu vou apresentar aos jogadores do Flamengo jogar com o primeiro e o segundo avançado (atacante). Eu tenho um conceito, como é óbvio, uma ideia do jogo, mas hoje a evolução do futebol é não ter uma ideia do jogo, é ter várias ideias do jogo, é modificar constantemente, ter vários sistemas de jogo na mesma partida. Isso não é fácil, mas os melhores técnicos já estão fazendo e eu estou fazendo também. Os jogadores têm que saber o que fazer em todos os momentos do jogo, e é é isso que nós vamos apresentar à equipe.
Conhecimento do elenco
Claro que eu conheço o elenco todo do Flamengo. Eu não vi o Flamengo a partir do momento em que me convidaram pra trabalhar no Flamengo. Eu vejo todos os jogos do futebol brasileiro na minha casa. Eu via os jogos todos sem saber que eu podia treinar o Flamengo. A partir do momento que eu tive a possibilidade de treinar o Flamengo comecei a observar muito melhor. Não conheço tão bem como o Marcelo (Fera), é normal, mas vou conhecer. Quando conversei com os diretores do Flamengo, já havia várias posições que eles queriam contratar, eu concordei, acrescentei mais uma. É uma ou duas? É uma, mas pode ser duas.
Relações com ídolos do Flamengo
Em todas as atividades tu tens que ter paixão. E a minha paixão é o futebol. Eu sei que o Zico foi um grande ídolo do Flamengo, do Mengão. Eu tive a oportunidade de estar com ele em Portugal, ele foi visitar a academia do clube que eu estava a trabalhar, o Sporting. É um amigo que eu tenho, ainda bem que é um amigo que está ligado à história do Flamengo. O Zico caracterizava o símbolo do Flamengo para Portugal. O Leandro, fez a carreira inteira no Flamengo, isso quer dizer alguma coisa. O Júlio César no meu último ano de Benfica foi trabalhar comigo, ele tinha vindo de um percurso na seleção do Brasil um pouco complicado, tivemos uma conversa muito forte em cima disso. Também sei que é uma referência do Flamengo, como jogador não preciso falar.
Trabalho com brasileiros
Nós temos 20 dias para apresentar um trabalho. Vamos apresentar uma proposta aos jogadores, tentar explicar a eles nossas ideias, nossos conceitos, nossas metodologias de treino. Isso pra mim não é novidade nenhuma, o país não é o mesmo que o meu, mas eu já estou habituado a trabalhar com jogadores brasileiros, foram 156 na minha carreira. Eles têm muito talento, é um dos motivos de eu estar aqui.
Eu tive a oportunidade de lançar alguns jogadores brasileiros que foram para Portugal jovens e que fizeram parte da seleção do Brasil. David Luiz, Ramires, o Luisão, Talisca, saiu daqui um jogador desconhecido, também chegou à seleção do Brasil. Em Portugal nós fomos habituados a ter muitos jogadores brasileiros. Como o futebol brasileiro é um futebol de muita técnica, os jogadores brasileiros são jogadores de muito talento. A maior parte deles chega melhor à seleção depois que vai para a Europa, com a metodologia de treino, obviamente que não são todos os treinadores. Trabalhar com brasileiros para mim vai ser fácil.
Diego e Gabigol
O Diego nunca foi meu jogador, mas conheço bem, teve uma passagem muito boa pelo futebol português. O Gabigol eu tenho uma história curiosa, ele estava no Inter de Milão, e o Inter tinha contratado um jogador do Sporting, João Mário, por 45 milhões, e eles eram muito amigos, falavam muito um com o outro. E o Gabigol um dia falou pro João Mário que queria vir jogar em Portugal, queria vir pro Sporting. E eu falei com ele, mas ele acabou indo ao Benfica. Tem várias equipes que vários jogadores já trabalharam comigo, mas no Flamengo não.
Exigência de qualidade de jogo
Quando tu treinas a melhor equipe do país, estamos falando do Flamengo, todos os adeptos querem que a equipe tenha essa performance, ganhar só não basta, querem qualidade de jogo. Isso é normal, o jogador do Flamengo tem que saber que só ganhar não basta, e o treinador também tem que saber que só ganhar não basta, que a torcida exige além da vitória.
Estreia em campo sintético
A realidade é essa, vai jogar num campo sintético. Poucos treinadores no mundo têm experiência de jogar em campo sintético, eu também pouco tenho. Já tive um jogo de Champions na Rússia, é completamente diferente. Não sou apologista de fazer uma adaptação em muitos treinos no campo sintético, porque por mim não haveria campos sintéticos. Mas tem que adaptar, tem que fazer alguns treinos, mas não muitos.
Possível saída de Cuéllar
Não sei por que me está a fazer essa pergunta, não sei se houve uma notícia ao contrário, é claro que conto (com o Cuéllar).
Contrato de um ano
A partir do momento em que saí do meu país, essa é minha segunda experiência fora de Portugal, no Al-Ahly fiz a mesma coisa, a direção queria fazer quatro anos de contrato, eu disse: “não, só faço um, se depois que eu me adaptar, vocês estiverem satisfeitos comigo, nós fazemos a renovação”. Aqui foi a mesma coisa, ninguém fica pendente de ninguém, e estamos contentes com isso.
Comissão técnica
Comigo são sete integrantes, um deles é o Evandro Mota, que vocês conhecem tão bem quanto eu. Trabalhou comigo no Benfica e no Sporting, depois foi para a seleção brasileira, agora vamos voltar a trabalhar juntos. Não vou especificar agora a responsabilidade de cada um deles, porque isso não têm muito interesse, mas somos sete.
Flamengo no caminho certo
É um grande clube, uma grande marca desportiva, que tem uma grande capacidade de estrutura e profissionalização, sabe bem o que quer. Não existe um grande clube sem uma massa adepta como o Flamengo tem, uma das massas com o maior número do clube. Isso leva a muito mais profissionalismo e muito mais capacidade de desenvolver essa marca. Isso incorpora o que é meu pensamento, sem organização, sem estrutura, você não consegue atingir os objetivos. E o Flamengo está no caminho certo, e eu acho que eu tenho experiência para ajudar nesse caminho.
Futebol brasileiro x europeu
Na Europa a intensidade do jogo é maior, também porque a temperatura ajuda a que seja maior. Digo sem bola, porque com bola o futebol brasileiro é muito intenso. O trabalho tático, o calor também faz as equipes se partirem no campo tático. São situações que eu conheço e que vou tentar introduzir no Flamengo uma equipe muito mais intensa quando não tem a bola. O Campeonato Brasileiro é um campeonato muito competitivo, muito difícil. Na Europa eles não têm a noção do que é a qualidade do jogador brasileiro. A forma como o jogador brasileiro cria situações é incrível, e as equipes têm que se defender melhor, o jogador brasileiro obriga a isso.