Carta aos jogadores do Flamengo

15/10/2016, 22:05

Todo atleta de futebol deve encarar um jogo com o máximo respeito e seriedade.

Claro que há os jogos pequenos e os jogos grandes dentro de uma temporada.

Entretanto, nenhum time teria a oportunidade de jogar grandes decisões sem passar pelos tais jogos pequenos.

Daí tiramos a velha máxima do futebol: todo jogo é importante e todo adversário deve ser respeitado.

O Internacional está na zona de rebaixamento e passa por um dos piores momentos da sua história.

O futebol do Colorado está perdido no fundo de um poço nos pampas gaúchos.

A raça e força, somados ao fator campo e torcida, serão, sem sombra de dúvidas, as armas do nosso adversário neste domingo.

E com que armas cada um de vocês vai lutar? Não serei eu aqui, do alto da minha arrogância letrada, que tomará para si a labuta desta resposta.

Muito menos explicarei o momento único que o futebol proporcionou pra vocês.

Que ser campeão pelo Flamengo é especial? Disso vocês sabem, oras bolas!

Que vencer um Campeonato Brasileiro é a chave para entrar na história do futebol? Qualquer fraldinha está cansado de saber, certo?

Não é preciso explicar o óbvio. Muito menos para um dos elencos mais inteligentes que o Flamengo montou nas últimas décadas.

Quero mesmo é levá-los a refletir sobre os motivos da torcida lotar aeroportos e estádios recentemente.

Exatamente por que ela faz isso? Será mesmo que a luta pelo título é uma explicação correta?

Acho-a muito simplista.

A falta do Maracanã? Poderia ser uma explicação lógica se as manifestações não ocorressem também em São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso, Amazonas...

E o histórico horrível da temporada?

O ano de 2016 começou com a Primeira Liga. Fomos eliminados.

Veio o Carioca. Pessimamente jogado e batido por um time da segunda divisão.

A Copa do Brasil chegou e com ela a mancha de ser a pior de nossa história. Fomos excluídos por um time da terceira divisão.

A Copa Sul-Americana veio como um prêmio a este vexame terceiro do ano. E vocês conseguiram perder em casa para um time chileno sem nenhuma tradição e em crise.

Todo torcedor do mundo deixaria de louvar seu time da forma como está louvando.

Mesmo com a ótima campanha na competição mais importante desta mesma temporada.

Mesmo sem jogar na sua casa histórica. Em sua cidade-sede.

Há algo escondido no éter desses dias de carnaval vermelho e preto pelas cidades, pelos aeroportos, pelas ruas.

Aos milhares os torcedores dizem que estarão felizes ao final deste ano.

Com ou sem título.

 
Com...

ou...

sem título!
 

Percebo o brilho nos olhos de homens, mulheres e crianças, cada vez que elas falam sobre o Flamengo comigo.

Repito a pergunta: a torcida lota aeroportos e estádios alucinada por vocês exatamente por quê?

É agora que desvelo minha teoria transcendental sem medo de estar errado.

O que vocês fizeram foi simplesmente resgatar a confiança do torcedor flamengo.

Essa torcida, que enche estádios e aeroportos, passou a confiar em vocês.

 
Quem confia SEGUE.
 

Vocês estão trabalhando duro e isso que importa para estes mais de 40 milhões de rubro-negros.

Se o hepta virá ou não, quem pode saber?

Afinal, escrevo esta carta apenas com o intuito de agradecê-los por estabelecerem essa relação de confiança entre meu time e minha torcida.

Antes de encerrar esta missiva, porém, gostaria de pedir-lhes um pouca mais de atenção para uma curta e verdadeira história de guerra.

 

Um homem e seus comparsas conseguiram convencer seu povo desesperado pela miséria e fome a entrar em guerra com o mundo.

Ele tomou todo dinheiro de uma parcela da população do país dizendo que estes não eram da raça escolhida.

E por anos este país se esforçou para construir um grande poder militar.

Quando sentiu-se forte suficiente, invadiu e tomou um de seus países vizinhos e ficou ainda mais poderoso com a riqueza deste.

E depois invadiu e tomou outro.

E mais outro.

E muitos outros seguiram sendo invadidos, pilhados e sofrendo diversos tipos de atrocidades.

Em pouco tempo quase todo o continente estava dominado por esta nova força preconceituosa, cruel e assassina.

 
Uma grande e poderosa ilha é agora seu próximo alvo.

A desgarrada terra possui a melhor marinha de guerra do mundo. O inimigo escolhe os ares. E ataca com impiedosa facilidade.

Dia após dia a capital e diversas grandes cidades foram atacadas pelos céus.

 
Quando tudo parecia perdido o rei chamou um grande homem para assumir o Gabinete de Guerra e salvar o reino.

E foi o seu discurso de posse que mudou o destino daquela terrível guerra:

"Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós uma dura provação. Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz"
 

Guerra é guerra. Futebol é futebol.

Jogos, os pequenos ou os chamados grandes, pretensamente são vencidos pelo melhor.

Campeonatos difíceis, como o Brasileiro deste ano, apenas serão vencidos por quem derramar mais sangue, sofrimento, lágrimas e suor.

Bom jogo para todos nós.
 
 

Diogo Almeida (Twitter: @didazico)

Foto: Arte sobre foto de Gilvan de Souza.

 
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