Capítulo 9: O 2º Turno Campeonato Estadual de 1979

18/06/2015, 09:47

Por Gustavo Roman


Antes de iniciar o segundo turno, o Flamengo jogou um amistoso contra o ABCR, de Juiz de Fora. Tita (4), Cláudio Adão, Adílio e o juvenil Anselmo marcaram, no massacre de 7 a 0. Toninho e Manguito foram suspensos pelo Tribunal e estavam fora da estréia. Carpegiani, contundido, também.

Mesmo com esses desfalques, o rubro-negro começou a campanha com vitória. No Maracanã, fez 3 a 0 no Campo Grande. Tita, Cláudio Adão e Zico anotaram os tentos. Nos bastidores, a semana foi agitada na Gávea. Primeiro, o time acertou a contratação do meio campista Ademir Vicente. Depois, fez uma proposta de 4 milhões de cruzeiros pelo centroavante Bira, artilheiro do Remo. O clube paraense recusou o valor, mas estava disposto a seguir com a negociação. Para completar, Luisinho e Jorge Luís foram vendidos ao Al Nassr, por 5,5 milhões.

A segunda rodada marcou um tropeço, que ninguém esperava. Jogando no Maraca, o Flamengo foi derrotado pelo Americano, por 1 a 0. Apesar dos protestos da torcida após o revés, Coutinho disse ao jornal O Globo “que não havia motivos para desespero. O time jogou mal e pronto. Não vão transformar um tropeço em crise”.

Antes de tentar a recuperação no estadual, o time tinha que ir até Vitória, jogar contra a Desportiva, em amistoso que servia como parte do pagamento do passe de Carlos Henrique. A vitória, de 3 a 2, não foi suficiente para apaziguar os ânimos. Tita, Zico e Cláudio Adão marcaram. A nota triste ficou por conta da contusão de Adílio, que deixou o gramado com o tornozelo esquerdo bastante inchado.

De volta ao certame carioca, o mengo recuperou-se e goleou o Serrano, por 5 a 1, com gols de Zico (3), Cláudio Adão e Carpegiani. Precisando de um atacante para repor a saída de Luisinho e acalmar os torcedores, o clube anuncia a contratação do atacante Beijoca, do Bahia, por 5,5 milhões, mais o passe de André e a renda de um amistoso em Salvador.

A nova contratação chegou acima do peso e ainda ia demorar um pouco para estrear. Antes de embarcar para a Europa, onde disputaria o Troféu Ramon de Carranza, o Fla ainda bateu o América, por 2 a 0. João Luís (contra) e Cláudio Adão marcaram.

Na Espanha, a estréia era uma pedreira. O Bicampeão carioca enfrentaria ninguém mais, ninguém menos do que o Barcelona. Para piorar, Toninho, Carpegiani, Júnior, Tita, Zico e Coutinho só desembarcaram em terras espanholas cerca de 10 horas antes da partida. Todos eles estavam com a Seleção Brasileira que empatara com a Argentina, em Buenos Aires, garantindo a classificação para a semifinal da Copa América.

Nem todos esses problemas foram capaz de frear o Flamengo. Com gols de Júlio César e Zico, o time bateu o Barça, por 2 a 1. No dia seguinte, a decisão, diante do Ujpest, da Hungria. Sabendo que o adversário não tinha muitas informações a respeito do seu time, Coutinho, espertamente, mandou Cláudio Adão entrar com a camisa dois e Toninho, com a nove. Quando os húngaros se deram conta de que o seu zagueiro marcava o lateral direito do mengo, o placar já estava aberto. Aos 20 segundos, Zico fez 1 a 0. O mesmo Zico marcaria mais um e daria ao rubro-negro o título, fortalecendo ainda mais o nome da equipe na Europa. Essa conquista era apenas a segunda de um time brasileiro, nessa competição (o outro havia sido o Palmeiras). A imprensa espanhola se derreteu em elogios ao time de Coutinho. Diziam que era um futebol de outra galáxia. Estavam encantados!

De Cádiz, a delegação foi para a capital espanhola, onde enfrentou o Atlético de Madrid, dos brasileiros Leivinha e Luís Pereira. Zico, para variar, foi o autor do gol que garantiu o empate. Finalizando a excursão, a equipe foi até Paris, jogar contra o PSG. Desta vez, a atuação foi ruim e a derrota, por 3 a 1 (gol de Zico), justa.

Preocupado com o cansaço do time, Coutinho vetou a realização de novos amistosos. Queria os jogadores focados apenas na conquista do Tri. Enquanto isso, maravilhado com o futebol do jovem Leandro, o treinador dava seu aval a venda de Ramírez para o Independiente.

Na volta ao estadual, novo tropeço. Empate em 1 a 1 (gol de Júnior), diante do Bonsucesso.

Insatisfeitos, os torcedores invadem o gramado e cobram dos jogadores, “rebolado, não”!

O pior ainda estava por vir, na sexta rodada, o time confirmou a má fase e foi derrotado pelo Vasco, por 4 a 2 (Cláudio Adão e Zico). O que mais impressionou e irritou a torcida foi que o mengo ganhava o jogo e tomou a virada com um homem a mais. No dia seguinte, a Diretoria reuniu-se com Coutinho e exigiu mudanças na equipe. Tranqüilo, o treinador lembrou que para conquistar o segundo turno, bastava o Flamengo vencer o Goytacaz, em Campos e os clássicos frente à Fluminense e Botafogo.

Em Campos, precisando desesperadamente dos dois pontos, o time mais uma vez não jogou bem. Um solitário gol de Tita manteve a esperança na conquista do título. Só que, para jogar um balde de água fria nos rubro-negros, Zico deixou o campo com uma lesão muscular. Ele ficaria afastado do time por um longo período.

Na penúltima rodada, o time mostrou porque era o atual bicampeão. O Botafogo fez 1 a 0, com Renato Sá, aos 21 minutos do segundo tempo. Na base da raça, o rubro-negro conseguiu a virada, com dois gols de Cláudio Adão. E com direito ao tento da vitória ser marcado no último lance do jogo. Bem como os flamenguistas adoram!

A situação do campeonato a esta altura era a seguinte: Botafogo e Fluminense lideravam, com 4 pontos perdidos. O Flamengo vinha em seguida, com 5 pontos perdidos. E, o Vasco era outro que ainda tinha possibilidades, pois tinha 6 pontos perdidos.

No meio de semana, tricolores e alvinegros ficaram no 0 a 0, resultado que deixava o Flamengo na liderança, junto com os dois. Em Campos, o Vasco bateu o Americano (2x1) e manteve suas possibilidades. A última rodada marcava pro sábado, Botafogo x Vasco e, no domingo, Flamengo x Fluminense.

Para tentar melhorar o ambiente e dar tranqüilidade aos jogadores, a Diretoria anunciou a renovação do contrato de Toninho, que assim, retorna ao time diante do Flu. O último coletivo, porém, não foi nada animador. Empate em 3 a 3, diante dos juvenis, com gols de Tita, Manguito e Cláudio Adão.

No sábado, toda a delegação ficou ouvindo no rádio, o empate de 1 a 1 entre Vasco e Botafogo. Com o resultado, quem vencesse o fla x flu seria o campeão do segundo turno. O Mengo tinha a vantagem do empate, pois possuía melhor saldo de gols.

O jogo diante do Fluminense foi truncado. Mesmo precisando da vitória, o tricolor não se expunha demais, por saber que era inferior. A partida já caminhava para o empate sem gols, quando Tita, a dois minutos do apito final, marcou o gol do título. Flamengo 1x0 Fluminense. Era o sexto turno em seqüência conquistado pelo time da Gávea. O Globo, do dia 24 de Setembro (dia seguinte ao jogo) estampava em sua primeira página os seguintes dizeres: “Flamengo (outra vez) campeão”. Para o terceiro e decisivo turno, o Fla entraria com 2 pontos extras e já em vantagem diante dos outros 7 rivais. O Tricampeonato estava se aproximando!

No próximo texto: O Terceiro turno e a conquista do Tricampeonato.


Gustavo Roman é jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros No campo e na moralFlamengo campeão brasileiro de 1987, Sarriá 82 - O que faltou ao futebol-arte? e 150 Curiosidades das Copas do Mundo. Conhecido como um dos maiores colecionadores de gravações de jogos de futebol, publica toda quinta-feira, aqui no MRN, a série "Biografia Rubro Negra 1978-1992", onde conta a saga do período mais vitorioso da história do clube mais querido do mundo.


 

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