Cacau Cotta ganhou cargo na gestão Landim após conversa com delegado do Ninho, aponta defesa de Bandeira
A defesa do ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello obteve em uma audiência de instrução do processo no qual Bandeira é réu pelo incêndio no Ninho do Urubu uma admissão do delegado responsável pelo caso de que teve uma conversa “informal” com Cacau Cotta sobre a estrutura administrativa do Flamengo. Dias depois, Cotta foi nomeado pelo presidente Rodolfo Landim diretor de Relações Externas, cargo criado especificamente para acomodá-lo.
Agora, diante da projeção oferecida pelo cargo, na qual participa de sorteios e reuniões em federações e encontros com dirigentes de outros clubes, Cacau Cotta é pré-candidato a vereador pelo MDB, partido de Pedro Paulo, deputado federal que está ajudando o Flamengo no lobby pela compra do terreno do Gasômetro para um estádio próprio. Adversário político de Marcos Braz, que concorre à reeleição pelo mesmo cargo, Cotta foi afastado do futebol do clube.
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No depoimento, o delegado Márcio Petra admitiu que procurou Cacau por seu relacionamento pessoal com o então ex-dirigente do Flamengo – tinha ocupado o cargo de vice-presidente do Fla Gávea na gestão Patricia Amorim. Cacau era casado com uma prima do delegado.
“Ele não fez contato comigo. Eu que fui até ele, porque ele era referência para mim do Flamengo. Eu não gosto de futebol, não tenho time, né. Então, ele para mim era a pessoa que poderia me dar a estrutura do Flamengo. Eu não queria nomes, eu queria a estrutura. Como o Flamengo comportava e basicamente as responsabilidades”, afirmou Petra.
O delegado disse que não registrou o encontro com Cotta no inquérito por se tratar de uma “conversa informal”. No fim do inquérito, Petra não indiciou nenhum membro da atual gestão e acusou Bandeira de homicídio pela morte dos dez atletas.
A defesa de Bandeira quer usar a admissão de Petra para anular o indiciamento e consequentemente a denúncia contra o ex-presidente.
“As declarações de Luiz Claudio Cotta versaram sobre questões intimamente ligadas ao objeto do inquérito policial, sobretudo aquelas relativas ao escopo do trabalho da Diretoria, Vice-Presidência e Presidência do Flamengo. Foram justamente considerações dessa índole que levaram o Representado [Petra] à questionável conclusão de que o Representante [Bandeira de Mello] seria o gestor com domínio do fato”, diz a defesa de Bandeira no processo segundo o portal “Metrópoles”, que divulgou a notícia.
Os advogados de Bandeira alegam que Petra feriu o princípio da impessoalidade ao permanecer à frente do inquérito após a nomeação do marido da sua prima para a diretoria do Flamengo.
“Assume especial relevo a coincidência da nomeação de Luiz Claudio Cotta – familiar do Representado e notório opositor do Representante – à função estratégica de Diretor de Relações Externas no Flamengo, apenas poucos dias após o triste episódio no Centro de Treinamento e em data próxima à entrevista informal colhida pelo Representado”, afirmam.
Para eles, a conversa de Petra com Cacau, a nomeação do dirigente e o resultado das investigações estão ligados.
“Ou seja, o entrevistado passou a integrar a atual gestão do Clube logo após ser atipicamente consultado pelo Representado. Não bastasse a coincidência de sua nomeação pelos novos mandatários, nenhum deles foi indiciado pelo Representado”, afirma a defesa.
Cacau foi nomeado para o cargo de diretor de Relações Externas por Landim no dia 28 de fevereiro de 2019, 20 dias após o incêndio no Ninho do Urubu. Por enquanto, Cacau e a diretoria do Flamengo não se pronunciaram sobre as novas revelações.