Braz e Spindel se defendem, mas mostram arrependimento por várias trocas de treinadores
O Flamengo apresentou Filipe Luís como novo técnico nesta terça-feira (1º), no Ninho do Urubu. Após a entrevista do ídolo, foi a vez dos dirigentes Marcos Braz e Bruno Spindel falarem com a imprensa. Indo para o 11º treinador em seis anos, o vice-presidente e o diretor executivo de Futebol citaram títulos da gestão para amenizar as muitas trocas, mas também admitiram que poderiam ter feito diferente.
Braz iniciou a resposta elencando os principais títulos que o Flamengo conquistou nesses últimos anos apesar das muitas trocas de técnico. Mesmo citando tanto a quebra do trabalho quanto o custo do clube com uma demissão, entende que o saldo do Departamento de Futebol é positivo diante das muitas conquistas.
➕️ Landim aponta vantagem que Filipe Luís traz ao Flamengo
“Você trocar de técnico sempre é difícil, custoso para o clube. Agora você falou do Departamento de Futebol, mas com esses técnicos a gente conseguiu duas Libertadores, dois Campeonatos Brasileiros, quatro Estaduais, o primeiro título internacional do Maracanã que foi a Recopa, duas Supercopas.”
Destaca-se que o Flamengo não venceu títulos no último ano e, ainda que tenha conquistado o Carioca, a torcida se preocupa com a chance de mais um ano sem conquistas expressivas. Nesse período, o time foi comandado por Vitor Pereira, Jorge Sampaoli e Tite. Agora a missão de vencer passa para Filipe Luís.
A balança pesa favoravelmente aos títulos, segundo Braz, mas não impede o dirigente de reconhecer que gostaria de ter dado sequência para alguns técnicos. O VP de Futebol disse, inclusive, que as muitas mudanças no comando técnico seria algo que tentaria fazer diferente caso voltasse ao cargo no futuro. Mas sem deixar de falar sobre a diferença entre Brasil e Europa, e dos técnicos de gestões passadas.
“A gente teve dez técnicos, mas treze títulos. Então, claro que não era o que a gente queria, mais uma vez. Queríamos trabalhar com um técnico, a gente queria ter dado sequência. Não foi possível. Só que você passa por outras questões aqui em relação a que os clubes não têm dono, como na Inglaterra, na Espanha. Agora está começando a ter. Na Inglaterra, na Espanha, na Arábia, que você tem condição de bancar um técnico um pouquinho a mais, de você suportar algumas pressões um pouco a mais”, disse antes de completar.
“Foram alguns possíveis erros, a gente poderia ter sido um pouquinho mais assertivos. Eu não vou falar em erros, mas a gente poderia ter ficado mais assertivos. Mas deixar claro que a gestão, não sei se você sabe, a gestão anterior, ela teve mais técnicos contratados do que a gente. Um pouquinho menos de título. Só um pouquinho. E os outros seis para trás.”
Saída de Jorge Jesus
Marcos Braz determinou o marco zero para as muitas trocas de técnicos: a saída de Jorge Jesus. O português fez trabalho histórico ao vencer Brasileiro e Libertadores em 2019, e o time começou muito bem 2020. A Pandemia de Covid-19, no entanto, o fez desejar retornar a Portugal. O Flamengo foi atrás do técnico espanhol Domenec Torrent, e Braz admite que acreditava que seria uma escolha acertada.
“Então, assim, é lógico que eu queria ter ganho esses títulos todos com um técnico só. Não foi possível. Quando a gente traz de maneira assertiva o Jorge Jesus, porque agora o Jorge Jesus virou pauta da política. Está todo mundo aí prometendo ele. Ninguém conhecia o Jorge Jesus aqui. Quem conhecia era eu e o Bruno. Veio para cá, fez o trabalho dele e ele quis voltar. Talvez se o Jorge tivesse continuado…”
Foi então que falou sobre a decisão de trazer Domenec: “De fato a gente foi ali já para um técnico em que a gente poderia já começar a ficar amaturado (sic) com o Jorge. Não foi possível. A gente fez essas trocas”.
Por fim, lembrou os muitos pedidos de demissão de Rogério Ceni que não atendeu e os títulos brasileiro, da Supercopa e do Carioca conquistados. E, usando esse exemplo, falou como encararia essa situação de outra forma caso tivesse nova chance no cargo.
“‘Eu entendo a tua pergunta e, de fato, se eu tivesse uma outra oportunidade de voltar a comandar o futebol do Flamengo, com certeza seria um item que eu iria, talvez, mais me policiar para que a gente pudesse ter uma sequência maior com menos técnicos como são na Europa”, finalizou Braz.
Spindel cita diferenças do Brasil para a Europa com treinadores
Quem também se manifestou sobre as muitas mudanças de corpo técnico foi Bruno Spindel. O diretor executivo falou como os clubes europeus se adaptam aos técnicos, às vezes em processo que demora anos, e no Brasil é necessário vencer imediatamente. Isso é um fator que atrapalha na continuidade de técnicos que poderiam desenvolver um bom trabalho.
Ele fala também sobre os diferentes modelos de jogos e diversas formas de aplicá-los, o que nem sempre casa com um elenco. Mas é importante destacar que também admitiu que o clube poderia ter feito de uma forma melhor.
“Como o Marco disse, é óbvio que é uma coisa que a gente gostaria de ter feito melhor, de não ter tido tantas trocas, algumas por decisões nossas, outras por decisões dos treinadores, algumas saídas foram por decisões dos treinadores. O processo de contratação dos treinadores, por vezes ele é feito de uma forma mais longa, detalhada e ampla, por vezes ele é feito por necessidade, depende de quem está disponível no mercado”, disse, pouco antes de finalizar:
“A necessidade de dar resultado muito rápido no Brasil, determinados modelos de contratação de treinador na Europa e paciência com o trabalho e resultado, no Brasil eles não seriam possíveis, você precisa assim, na Europa os treinadores de forma geral, eles têm ideias de jogo, modelos de jogo muito claros e o clube se adapta àquela ideia e àquele modelo de jogo, ele vai se adaptando, faz alguns ajustes em uma primeira janela, outros na segunda, outros na terceira, em dois anos.”
Dirigente comenta multas pagas pelo Flamengo aos técnicos
“O patrimônio do Flamengo acho que cresceu 600 ou 700 milhões de reais em 6 anos, se você for olhar os indicadores de endividamento, eles despencaram, o faturamento multiplicou por duas vezes e meia, quase três, então assim, isso está dentro de todo um contexto, ele ser olhado de forma isolada é uma análise que fica muito incompleta, então óbvio, é melhor não pagar multa nenhuma, mas quando você coloca ele dentro de um contexto da gestão financeira do Flamengo, o Flamengo teve muito sucesso dentro do campo ao longo desses 6 anos, sendo responsável financeiramente, dando lucro, crescendo bastante o patrimônio e também cuidando muito bem da redução da sua dívida”, disse Bruno Spindel.
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.