Biografia Rubro Negra: Capítulo 13 - O Campeonato Brasileiro de 1980 Parte 1

27/08/2015, 16:39
Atualizado: 10/11/2023

 


Gustavo Roman |Twitter  @guroman

A estreia foi diante do Santos, no Morumbi. Para surpresa de todos, inclusive de Coutinho, o Flamengo se apresentou muito bem e mandou no jogo, chegando à vitória com naturalidade. Zico marcou o gol que deu os primeiros dois pontos ao Mengo no brasileiro. O treinador disse que a equipe ainda tinha muito a melhorar, mas que estava feliz com a atuação.

De volta ao Rio, o clube recebe uma proposta formal por Leandro, sonho de consumo do técnico Ênio Andrade. Aliás, o colorado era justamente o próximo adversário do Fla. Para este clássico, a diretoria pensa em uma renda de mais de 10 milhões de cruzeiros. Afinal, estariam frente a frente o Tricampeão carioca e o Tri nacional!

Cláudio Adão recebe uma proposta e pode deixar o clube. Essa possibilidade faz Coutinho voltar a pensar em um atacante de nome para reforçar o elenco. Os cartolas também aceitam a proposta do Inter e aceitam trocar Leandro pelo meio campista Cléo.

No coletivo apronto, grande atuação dos titulares. Não foi surpresa a goleada por sete a dois. Zico (4), Adílio (2) e Júnior fizeram os gols. Descontaram Cláudio Adão e Gérson Lopes.

No domingo, o público não foi o esperado. Mas no duelo de Zico contra Falcão, o galinho levou a melhor. Um a zero, gol dele próprio.

Precisando achar um substituto para Adão, o Fla faz proposta de 20 milhões de cruzeiros por Roberto Dinamite, então jogador do Barcelona. Nunes, no América do México, é o plano B.

Na véspera da terceira rodada, Marinho sentiu a coxa e foi vetado da partida. Aliás, o jogo contra o Botafogo da Paraíba foi pra se esquecer. Mesmo jogando no Maracanã, o time jogou de maneira irreconhecível e foi derrotado pelos bravos paraibanos, por dois a um. Tita, atuando como centroavante, foi o autor do tento de honra.

Essa derrota, aliás, teve um fato curioso. Preocupado com a repercussão do revés, o supervisor Domingo Bosco encenou um roubo nos vestiários do estádio. As roupas do craque Zico sumiram e foram prato cheio para a imprensa, que divulgou e explorou amplamente o caso. A derrota acabou ficando em segundo plano.

A torcida não aceita a derrota e passa a cobrar do time. Insatisfeito, Coutinho muda a equipe. Reinaldo e Carlos Henrique são os novos titulares das pontas. Toninho volta a lateral direita e Adílio retorna ao meio de campo.

Enquanto isso, Leandro é devolvido pelo Inter ao não ser aprovado nos exames médicos. Segundo o DM colorado, com os joelhos que tinha, ele não poderia jogar futebol em alto nível por muito tempo.

Na quarta rodada, o desempenho da equipe não agrada, mas a vitória acontece. Por dois a zero, o time bate o Mixto, fora de casa, com gols de Carlos Henrique e Zico.

Com o Vasco se sentindo traído e entrando forte na briga por Roberto, o Fla recua e retira a proposta pelo artilheiro cruzmaltino. Mas Coutinho recebe o reforço que desejava. Nunes vem por empréstimo, por 1, 8 milhões de cruzeiros.

Na quinta rodada, a equipe volta ao Maracanã e enfrenta novamente as vaias. Mais uma vez, a apresentação não foi nada boa. O triunfo diante do Ferroviário foi apenas por dois a um. Com dois gols de Zico, já um dos líderes da tabela de artilharia.

No dia seguinte, para desviar a atenção, Nunes é apresentado. Ele fica por seis meses, com passe fixado em 18 milhões. Deve estrear na última rodada da primeira fase, frente à Ponte Preta. Na Europa, Marcio Braga surpreende a todos e diz que tem em seu poder uma carta de opção de compra de Roberto. Por ele, o negócio seria fechado em breve. A Rede Globo chega a anunciar a transação e já imagina como seria uma dupla formada por Zico e Dinamite.

Desesperado, o Vasco apela para a recém criada CBF, a fim de impedir a concretização do negócio. A torcida se revolta e pixa os muros de São Januário. O Barcelona exige garantias bancárias e dá prazo ao Flamengo para apresentá-las.

Pela sexta rodada, o rubro-negro vai até Recife e garante a classificação para a próxima fase, ao empatar em dois a dois com o Náutico. Toninho e Tita foram os goleadores da tarde.

De volta ao Maraca, os comandados de Coutinho goleiam o frágil Itabaiana, por cinco a zero. Zico marca quatro vezes (o outro foi de Tita) e assume de vez a liderança dos artilheiros do campeonato.

No oitavo compromisso, a equipe foi até o Rio Grande do Sul e não saiu do zero a zero com o São Paulo local.

Finalmente, a questão dos centroavantes é resolvida. O telex da Federação Mexicana chega e Nunes já tem condições legais de estrear diante da Ponte, em uma grande festa no Maracanã. Enquanto isso, Roberto acaba aceitando a proposta do Vasco e volta ao clube que o revelou. Termina assim uma das grandes novelas da história do futebol carioca.

Tentando entrosar Nunes com o restante da equipe, Coutinho comanda vários coletivos no decorrer da semana. No último, os titulares fazem seis a dois nos reservas. O novo atacante é um dos destaques do treinamento, anotando dois gols, se movimentando muito e entendendo-se muito bem com Zico. O próprio Galinho, Adílio, Júlio César e Júnior balançaram as redes para os titulares. Reinaldo e Anselmo descontaram para os reservas.

Flamengo 2x2 Ponte Preta - último jogo da primeira fase 
Na estréia do atacante, Carpegianni manteve o esquema 4-2-1-3, variando para o 4-3-3 com a bola e para o 4-5-1, sem ela. Raul era o camisa um. Carlos Alberto, Rondinelli, Marinho e Júnior formavam a linha defensiva. Carpegianni e Adílio marcavam mais e organizavam o time de trás. Zico jogava solto. Tita era o ponta direita. Nunes, o atacante e Júlio César, o extrema-esquerda.

Aos cinco, aconteceu a primeira oportunidade rubro-negra. Júlio César foi lançado, entortou o lateral Édson e cruzou forte. Carlos espalmou para o meio da área e Zico, de puxeta, mandou a bola no travessão. Um lance plástico e sensacional!
A blitz continuou. Aos sete, Júnior roubou uma bola no campo de ataque e inverteu a jogada para Tita. O ponta pegou firme, de primeira, para o meio da área. Zico desviou a trajetória da pelota e Carlos operou um verdadeiro milagre ao desviar com a ponta do pé esquerdo.

O jogo era bom. Aos 13, foi a vez da Ponte chegar. Humberto cobrou falta da intermediária e obrigou Raul a fazer uma difícil defesa, espalmando para o lado.

Aos 18, saiu o zero do placar. Zico lançou Tita na ponta direita. O camisa sete derivou para o meio e deu um passe açucarado para Nunes, nas costas da zaga. O novo artilheiro do mengo avançou e soltou uma bomba indefensável para Carlos.
Só que dois minutos depois, a zaga rubro negra falhou feio e quase permitiu o empate em um contra ataque campineiro. Marco Aurélio lançou Osvaldo nas costas de Júnior e Marinho. O meia finalizou. Raul defendeu e na sobra, Serginho tentou uma cavadinha por sobre o arqueiro caído. Felizmente, a bola bateu na trave e saiu.

O Flamengo parou em campo. Aos 25, Serginho passou como quis por Júnior e cruzou na segunda trave. Zé Mário cabeceou e mandou a pelota de volta ao ponto de origem. Serginho, de cabeça empatou a partida. Um a um! Depois da igualdade, a partida deu uma acalmada e nada de mais interessante aconteceu até o apito final.

Os times voltaram dos vestiários sem nenhuma alteração. No Flamengo, um pequeno ajuste tático. Tita ficava livre para flutuar por todo o meio de campo e Adílio era quem mais aparecia como ponteiro.

Aos nove, Nunes foi levando sem ser incomodado, passou por três e quando a marcação se aproximou, ele apenas rolou de lado para Zico. O galinho bateu de primeira, rasteiro. Carlos nem se mexeu. Flamengo dois a um!

Novamente, o Mengo pareceu parar em campo depois de conquistar a vantagem. Aos 15 e aos 17 a Ponte quase empatou em chutes de Édson e Marco Aurélio. Aos 30, Serginho ganhou na velocidade de Júnior, foi a linha de fundo e centrou. Osvaldo se antecipou a Rondinelli, mas desviou por sobre a meta de Raul.

Insatisfeita com o rendimento da equipe, a galera da geral começou a pedir para que Júlio César fosse substituído. Aos 31, Júnior fez grande jogada pela ponta esquerda e cruzou. Zico matou no peito e tocou de bico, na saída de Carlos. O zagueiro Juninho acompanhou o lance e salvou praticamente em cima da linha.

Três minutos depois, Coutinho atendeu ao pedido do torcedor. Pôs em campo Andrade no lugar de Júlio César, recuando um pouco mais a equipe, a fim de garantir o resultado. Com isso, Adílio passou a ocupar a ponta esquerda nos minutos finais.
Não deu certo. Aos 38, Humberto fez lançamento para Odirlei. Rondinelli falhou ao tentar cortar o lance e o lateral esquerdo ficou livre para fuzilar Raul e empatar a peleja. Dois a dois.

Coutinho tentou justificar o tropeço, dizendo que a equipe ainda não havia se entrosado com Nunes e que tanto fazia ganhar ou empatar, pois de qualquer forma, o time ficaria com o segundo lugar da chave, atrás do Santos, que vencera o Mixto na rodada.

O Grupo da próxima fase era formado por Bangu, Santa Cruz e Palmeiras. Os dois primeiros colocados avançavam a terceira fase. No coletivo apronto, vitória dos titulares, por dois a um. Reinaldo e Nunes marcaram. Anselmo descontou.

Na próxima semana:

Zico & Cia chegam às semis do Brasileirão!

 

BIOGRAFIA RUBRO-NEGRA – Capítulo 12: As férias e pré-temporada de 1980

Leia a Saga do Penta - BIOGRAFIA RUBRO-NEGRA

 

 


Gustavo Roman é jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros No campo e na moralFlamengo campeão brasileiro de 1987, Sarriá 82 - O que faltou ao futebol-arte? e 150 Curiosidades das Copas do Mundo. Conhecido como um dos maiores colecionadores de gravações de jogos de futebol, publica toda quinta-feira, aqui no Mundo Bola, a série "Biografia Rubro Negra 1978-1992", onde conta a saga do período mais vitorioso da história do clube mais querido do mundo.


 

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