Bandeira: "Minha condenação abrirá precedente no Flamengo de punição a opiniões que desagradem quem está no poder"

Ex-presidente do Flamengo em dois mandatos (2013-2018), Eduardo Bandeira de Mello vai viver um dia decisivo na sua vida no clube na próxima segunda-feira. O Conselho Deliberativo do Rubro-Negro vai se reunir para julgar recurso do ex-mandatário, que suspendeu a punição de suspensão por 90 dias do quadro social do clube.
Bandeira é acusado de ferir o estatuto do Flamengo ao dar declarações consideradas danosas à imagem do clube em uma entrevista para o jornalista Jorge Nicola, então na ESPN, em abril de 2020.
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Na ocasião, Bandeira de Mello afirmou que se “ainda fosse presidente, tenho quase certeza que não teria acontecido o incêndio”. Alguns dias depois, o Grupo Vanguarda Rubro-Negra, do ex-candidato à presidência pela chapa branca, Marcelo Vargas, protocolou no Conselho de Administração do Fla um pedido de inquérito contra as declarações do antigo mandatário. No protocolo, o grupo afirmou que Bandeira de Mello infringiu o Artigo 49 do estatuto do clube, que lê:
Art. 49. Veicular expressões desonrosas, por qualquer meio de comunicação, contra o
FLAMENGO, ou os membros de seus Poderes, em campanha eleitoral, ou em razão de suas
funções.
Penalidade: suspensão até trezentos e sessenta dias ou eliminação.
Em maio de 2020, o Conselho de Administração do Flamengo abriu processo administrativo contra o ex-presidente. Mais de um ano depois, em agosto de 2021, saiu a decisão do Conselho de Administração. Com 52 votos a favor, 30 contra, um branco e um nulo, Bandeira de Mello foi condenado à suspensão por 90 dias.
Naquele momento, a sanção o deixaria impedido de votar nas eleições presidenciais do clube, que aconteceram em Dezembro. Na ocasião, o ex-dirigente afirmou que: “Meus acusadores torturaram o estatuto do clube para encontrar uma forma de me alijar do quadro associativo e do processo eleitoral do Flamengo. Num processo com motivação política, fui punido por crime de opinião. Tenho orgulho de estar do lado oposto ao deles. Vou recorrer da decisão e tenho certeza que em dezembro estarei na Gávea para votar no meu candidato.”
O recurso de Bandeira de Mello foi vitorioso. Em setembro de 2021, o presidente do CA, Bernardo Amaral acatou o recurso do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e suspendeu a decisão que determinava a perda dos direitos políticos por 90 dias. É esse recurso que será julgado pelos membros do Conselho Deliberativo do Flamengo, em 11 de abril. Se perder, Bandeira volta a ser suspenso. Se vencer, o processo é extinto.

Bandeira fala com exclusividade ao Mundo Bola
O Mundo Bola falou com exclusividade nesta quarta-feira (6) com o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello. Por telefone, ele reafirmou que suas declarações não acusaram o Flamengo ou qualquer membro da diretoria atual.
“A denuncia é política. Esse fato foi reconhecido inclusive pelo presidente da Comissão de Acusação do Conselho de Administração. Eu falei diversas vezes que não estava acusando ninguém. Eu estava apenas me defendendo. O fato é que os meninos ja estavam ocupando o CT novo em dezembro de 2018. Se eles voltaram para os containers depois, não foi na minha administração”, reafirmou Bandeira.
O ex-mandatário afirmou ainda que uma condenação no seu caso pode representar um momento perigoso para a democracia do Clube.
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“Com certeza, a minha condenação pode abrir um precedente. Futuras opiniões que não agradem a diretoria poderão se punidas da mesma forma que as minhas. Punidas até com expulsão do quadro social do Flamengo”, disse o ex-presidente.
Sobre o processo em si, Bandeira explicou que está confiante em um final feliz. Ele conta com presença maciça dos conselheiros do clube.
“Na segunda-feira, vai ser lido o teor da acusação e do meu recurso e haverá tempo para sustentação oral por parte da defesa. Depois disso, todos os membros do Conselho Deliberativo presentes vão votar. Eu confio que se houver um comparecimento maciço, eu tenho mais chances de vencer. São mais de 2000 membros”, finalizou Bandeira.
Sócios lançam carta de apoio a Bandeira
Nesta quarta-feira (6), um grupo de sócios divulgou nas redes sociais uma carta aberta em apoio à absolvição de Bandeira de Mello. Entitulado “O Flamengo pede paz (mais uma vez)”, a carta classifica uma eventual confirmação da suspensão como “um arbitrário exílio, um desterro que roubaria parte da sua identidade.”
O texto diz também que o “crime” cometido por Bandeira seria “a livre manifestação de sua opinião para um órgão de imprensa, sem ter imputado qualquer responsabilidade a qualquer pessoa ou a atual gestão.”
O texto encerra convocando os conselheiros a comparecerem e votarem a favor de Bandeira. Ao Mundo Bola, o ex-presidente lembrou que depois de punido por 90 dias, ele está sujeito a expulsão caso seja acusado de uma nova infração.