Os amistosos contra o Ceará e o Santa Cruz provam que, ao contrário das expectativas da torcida, Muricy não é milagreiro. A partir do momento que a diretoria manteve como plantel a base do time que fez vergonha em 2015, estava claro que seria necessário um trabalho intenso e muitas mudanças para termos um time sólido e vencedor.
De início vou deixar claro que o time titular não foi visto em nenhum jogo. Muricy parece ter usado os amistosos para fazer testes em diferentes formações e com jogadores posicionados em situações diferentes para assim encontrar o melhor time e as variações táticas possíveis.
O sólido 4-1-4-1 já mostrado na base com muita eficiência parece ser o esquema a ser adotado por Muricy, variando para o 3-4-3 quando o time tiver a posse da bola com o 1° volante recuando para fazer um falso zagueiro central, enquanto os laterais avançam para compor a linha de 4 e os meias abertos avançam como pontas podendo cortar para dentro e entrar na área.
Em qualquer esquema tático é fundamental que todos os jogadores marquem, recompondo rápido o posicionamento defensivo para não deixar espaços para o adversário criar ou penetrar na defesa sem marcação como vimos acontecer várias vezes nesses amistosos. Repito: Independe do esquema todos os jogadores precisam marcar e agrupar de modo compacto.
Tentarei explicar abaixo como o time deveria se comportar nesse 4-1-4-1 e, para deixar mais didático, não irei escalar nenhum time deixando apenas a numeração padrão nas imagens, deixando para depois indicar qual seria o melhor time para este esquema após a pré-temporada e levando em conta o histórico recente dos jogadores.
Vejam como as setas apresentam várias opções de movimentação, o que aponta a necessidade de ter jogadores versáteis, mas também com visão tática para perceber por onde os companheiros estão se movimentando e, assim, onde abre espaço para ser ocupado. Por exemplo, se o meia aberto segue até a linha de fundo pela lateral, o lateral daquele lado precisa cair pro meio e se apresentar na entrada na área pra receber e finalizar, na Copinha vemos o Thiago Ennes fazer isso várias vezes quando Cafu ou Kleber vai para linha de fundo cruzar.
Essas movimentações dependem de muito treino, trabalho repetido várias e várias vezes para que os jogadores aprendam por onde correr e conheçam melhor a movimentação dos companheiros para quem vão passar a bola. Obviamente se o jogador tiver visão tática se destaca nisso e passa a contribuir mais pro jogo coletivo.
Mas se os meias abertos e laterais podem usar e abusar da velocidade, cabe aos meias centrais ter uma visão de jogo mais apurada e criarem as jogadas de ataque, seja passando para deixar o companheiro em condições de finalizar, ou tabelando para entrar na área e finalizar. Esses meias distribuem o jogo e também aparecem na área para concluir, porém não ao mesmo tempo já que ter dois meias que avançam demais acaba deixando o time exposto a contra-ataques.
Já o volante que fica entre as linhas de 4 tem papel fundamental na saída de bola, principalmente quando a marcação adversária está encaixada, pois tanto pode sair jogando com os meias centrais em toques curtos quanto lançar pontas ou laterais, desde que estejam ocupando os espaços certos. Entretanto, se for para escolher entre um volante mais marcador e um que tenha um passe melhor, devemos dar preferência ao marcador já que os zagueiros do elenco são lentos, o que obriga os meias centrais a começarem o ataque um pouco mais recuados para executar a saída de bola.
Quando a posse é perdida e o time precisa recompor, passa a ser fundamental que os laterais recuem rápido para formar a primeira linha de 4, os meias centrais sustentam um combate alto com o centroavante, enquanto os pontas voltam para a posição aberta próximo a lateral. Claro que eventualmente um dos meias abertos que estavam na área pode recompor marcando pelo meio e o meia central abrir, o que não pode é a linha de 4 ficar desarrumada dando espaço ao adversário.
Levando o acima exposto em consideração, ao revermos os gols sofridos pelo Flamengo contra o Ceará e o Santa Cruz vemos que a recomposição defensiva não está funcionando nas laterais, pois os 2 jogadores que deveria estar por ali nas linhas de 4 não estavam marcando como deveriam deixando o zagueiro e o primeiro volante sobrecarregados.
Ofensivamente vemos também alguns problemas na criação pela falta de visão de jogo de alguns jogadores e pelo posicionamento equivocado de outros. Não dá para colocar 2 carregadores de bola como meias centrais, falta criação e distribuição de jogo, as jogadas tendem a incorrer pela individualidade e mais pelos lados, diminuindo o número de jogadores na área e facilitando a marcação o que deixou o time improdutivo no 1° tempo contra o Ceará e foi resolvido no 2° tempo com Mancuello e Canteros, depois Alan Patrick pela meia central. Do mesmo jeito não podemos ter meias lentos abertos como no 2° tempo contra o Santa Cruz onde notavelmente Jajá e Mancuello não funcionaram.
Assim acho que o time deveria ter na linha Pará, Wallace, Juan, Jorge – Jonas – Cirino, Canteros, Mancuello, Ederson – Guerrero. Na ausência de Ederson ou Cirino temos como opção Éverton ou dois jogadores que atuam bem em um tempo de jogo, Sheik e Gabriel, respectivamente. Nixon é um jogador que quando recuperado também pode atuar muito bem pelos lados do campo ou substituindo Guerrero. Em jogos com times mais frágeis aparece como boa opção ter Mancuello, Canteros e Arão no meio deixando para Canteros e Arão alternarem na posição de volante entre as linhas. Alan Patrick é, a princípio, um reserva desses três já que sai em desvantagem por não marcar e esse é um fundamento essencial no esquema de jogo sem um volante “cão de guarda”.
Por fim, cabe um comentário importantíssimo sobre Guerrero: Foi um dos melhores do Flamengo nos 2 jogos. O peruano se movimentou de forma muito inteligente no ataque, se aproximando do meio pra ajudar na criação, já que Arão e Éverton não formam um meio muito criativo, então ele se desloca para receber de costas pro gol e girar ou passar para um dos velocistas que sobe como no gol de Arão contra o Santa Cruz. Essa movimentação que tira a marcação da área também foi fundamental nos gols que saíram contra o Ceará onde vemos Sheik e Cirino aparecem livres ou com pouca marcação na área, no espaço aberto pelo peruano que sempre leva 2 ou 3 adversários consigo. Ou seja, ele não ter feito o gol não significa que não tenha participado do ataque ou que esteja jogando mal, pelo contrário, já que permitiu a outros marcarem para o Flamengo.
Saudações Rubro-Negras