Em 26 de julho de 2006, Flamengo e Vasco se enfrentaram para decidir a Copa do Brasil. Com a vantagem construída no primeiro jogo, vencido por dois a zero, o rubro-negro se preparou para esperar o adversário. Mas a história mudou quando Valdir Papel, surpresa na escalação cruzmaltina, recebeu o cartão vermelho aos dezesseis minutos de jogo.
Renato Gaúcho mal teve tempo de reajustar seu time (depois de empurrar o atacante expulso na saída do gramado), quando subiu a plaquinha indicando a mudança de Ney Franco no Flamengo: aos dezenove, saiu o volante Toró para a entrada do atacante Obina.
A mensagem de Ney Franco era clara. Quando o adversário perde um jogador, a obrigação do treinador é esperar o ajuste e instantaneamente mover suas peças para quebrar a nova formação.
Ney Franco poderia ter mantido seu 3-6-1, sentado ainda mais em cima da vantagem, e o Flamengo provavelmente teria sido campeão. Em vez disso, foi ousado, partiu para cima, dominou o jogo e levantou a taça sem dar chances ao adversário.
A faca de Coutinho
Claudio Coutinho, histórico treinador do Flamengo, dizia para os jogadores que quando o time fazia um gol era como “enfiar uma faca no adversário”. Insistia que ali não era o momento de tirar a faca, mas justamente o melhor momento para partir para cima, aproveitando o baque psicológico. “Enfia a faca e depois roda” foi a frase que ficou famosa repetida pelos super craques daquela geração.
Contra o Bahia, Zé Ricardo apenas assistiu enquanto o adversário perdeu o zagueiro Lucas Fonseca, expulso aos 30 minutos do primeiro tempo, e Jorginho foi obrigado a recompor a defesa tirando um jogador de meio-campo. O nosso técnico nada fez. Esperou o intervalo sem conseguir dominar uma equipe inferior com um jogador a menos. Se a faca chegou perto da equipe do Bahia, Zé preferiu limpá-la, esterilizá-la e guardá-la longe do alcance das crianças.
Voltou para o segundo tempo sem mudanças, mesmo com a péssima partida de Arão e a atuação apagada de Éverton Ribeiro e Diego, além da injustificável presença de Matheus Sávio (que não é ruim, mas não pode ser o primeiro da fila hoje).
Pelo contrário, viu o adversário fazer uma troca na frente, colocando um jogador de velocidade e aumentando a mobilidade do time.
Finalmente, as trocas
Não havia um rubro-negro, vivo ou morto, que não pedisse uma substituição no time. A primeira veio aos 12 minutos, com Vinicius Junior entrando no lugar de Matheus Sávio, e a segunda aos 19, com a entrada de Berrío para saída de Arão.
O time saiu de um 4-2-3-1 para um 4-1-4-1, formando uma linha de meio-campo extremamente ofensiva, tendo Berrío e Vinicius abertos e Diego e Éverton Ribeiro centralizados juntos. O Flamengo não chegou a colocar pressão, mas aos 27 minutos o gol saiu. Agora, com o Bahia totalmente em frangalhos, iríamos engolir…
Ledo engano. Não deu nem tempo de recomeçar o jogo e Cuellar já estava em campo no lugar de Éverton Ribeiro, com o intuito de fechar a casinha. Foram mais quinze minutos com o time recuado, chamando o horroroso Bahia, que se sentiu convidado a atacar e chegava perto do gol através de uma profusão de faltas perto da área. Parecia que quem tinha um a menos era o Flamengo.
Tá difícil, comandante!
Dizem que o inteligente é aquele que aprende com os próprios erros e o sábio é aquele que aprende com os erros dos outros. O que seria Zé Ricardo, que aparentemente não aprendeu nada com os pecados cometidos na Libertadores? Convidar os adversários para a sua festa não é uma boa ideia, principalmente quando não se tem um bom plano para sair dali.
A surpresa positiva do jogo ficou por conta de Rhodolfo, melhor em campo. Mas quando o zagueirão é o melhor do time em um jogo como esses, tem algo muito, muito errado.
Para um time que quer ser campeão, é importante vencer também quando joga mal. Vencemos e chegamos no topo da tabela. Mas tá difícil, Zé Ricardo. Tá muito difícil!
Téo Ferraz Benjamin escreve as análises táticas do MRN. Siga-o no Twitter: @teofb
Foto destacada nas redes sociais: Gilvan de Souza/ Flamengo
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