Atlético-MG 0 x 1 Flamengo: com as novas forças que se ostentam
“Craque o Flamengo faz em casa”. Máxima que nunca deve ser esquecida. De valor intangível no coração de inúmeros rubro-negros. Garotos do qual o futuro a Deus pertence, mas que sem dúvida, honram esse manto sagrado como se fosse algo simples, natural.
Matheus Thuler, 19 anos, zagueiro, Garoto do Ninho. Não atuava entre os profissionais do Flamengo desde o dia 10 de março, na derrota para o Macaé, pelo Carioca, por 1 a 0. Uma das últimas apostas para destaque em uma partida com tantos nomes de peso ou jovens promissores e valendo a liderança do Campeonato Brasileiro 2018 em disputa direta com o atual líder. Mas a história rubro-negra tem dessas peculiaridades.
Flamengo vem a campo, com o “reforço” de Diego Ribas e com ausências dos expulsos na rodada anterior, Rhodolfo e Cuellar, além de Rever e Juan, lesionados, o que obriga as entradas de Léo Duarte, Thuler e Jonas entre os 11 iniciais.
O time ensaia uma marcação alta, encurtando espaços de passe da equipe atleticana, com até 6 jogadores pressionando no campo de ataque - Paquetá, Diego, Vinicius Jr, Éverton Ribeiro, Henrique Dourado e Jonas - que tenta responder a pressão com a tradicional “saída em U”, girando a bola da direita à esquerda, passando pelos pés dos zagueiros e dos volantes com muita movimentação de ambos, infiltrando-se nas entrelinhas ou recuando para cobrir a subidas dos laterais. Em um primeiro momento, marcação bem-sucedida, ao precipitar recuo de Cazares interceptado por Vinicius Jr, que perde oportunidade chutando entre as pernas de Bremer para defesa de Victor, aos 6’.
Depois desse momento inicial recua e passa a pressionar a saída apenas em seu campo. Isso faz com que os donos da casa passem a ter mais a posse de bola e domínio do jogo, com Blanco organizando o meio, caindo bastante pela direita buscando apoio de Cazares para tabelas, com inversões para o lado esquerdo. Flamengo aposta em contra-ataques, que vem com passe em profundidade de Diego a Dourado aos 8’, o qual é pego em impedimento mal assinalado pela arbitragem.
Ao se marcar no 4-1-4-1, há espaço em ambas as laterais que não podem ser cobertos por Jonas, único volante do esquema, que necessita então que os meias abertos fechem para não se tornarem corredores aos ataques dos adversários. Ainda que se esforcem em cobrir suas obrigações defensivas, Éverton Ribeiro e Vinicius Junior não têm vigor para exercê-las integralmente, o que faz com que Guedes e Cazares estejam constantemente em um contra um com os laterais e o time disperso em campo, com jogadores cobrindo espaços de outros, a famosa sensação de “um bando”. É aí que há o destaque da jovem dupla de zagueiros.
Pela juventude e velocidade dos veteranos machucados que não podem agregar ao time, as linhas ficam mais próximas e lançamentos entrelinhas podem ser interceptados ou acompanhados pelos próprios zagueiros, evitando a necessidade de os laterais fecharem tanto ao centro. Houveram equívocos, como aos 12’, com bola longa para Roger Guedes que se projeta entre Rodinei e Thuler, que termina a jogada com chute bloqueado pelo lateral.
Com essa postura defensiva oferecendo campo ao adversário, era necessária saída de bola dinâmica e rápida, ligando contra-ataques até Vinicius Jr e Henrique Dourado. Mas não aconteceu. Paquetá, Diego e Éverton Ribeiro não conseguiam desenvolver a transição e saída para o jogo, que terminava sendo executada erroneamente pelos laterais - influenciada pela omissão de Jonas, que ainda que tenha atuação defensiva impecável, com 9 desarmes, 1 interceptação e 11 de 19 duelos vencidos, pouco ajudou na distribuição da equipe. Tal situação encurralou os visitantes em seu campo e fez com que seus meias tivessem números defensivos destacáveis de 7 desarmes e 6 interceptações.
Falta de criatividade e mobilidade na saída de bola, pressão intensa e imposição física atleticana que teve a semana livre para treinos acuou o Fla. Parecia rendido o restante do 1º tempo. O gol atleticano parecia questão de tempo, sendo evitado com intervenções providenciais de Diego Alves (que continua demonstrando insegurança no jogo aéreo) e um travessão abençoado aos 27 minutos.
Dourado não fez uma partida tão nula como as anteriores, ainda que tenha tido a péssima marca de nenhum chute a gol, conseguiu dar prosseguimento em algumas jogadas. O estilo de jogo proposto pela equipe nessa temporada não o beneficia. É inquestionavelmente um atacante de área, com baixa participação ofensiva fora dela. Como os meias tendem a criar poucas jogadas pela zona central, buscando a conclusão a partir de seus pontas e chutes de fora-da-área, sua presença torna-se de pouca serventia.
Vinicius Junior está longe da maturação física e mental. Ainda erra inúmeros lances por preciosismo ou escolhas equivocadas mas possui veia artilheira, talento e capacidade de decidir jogos. Jogador com aptidão para se consagrar e consagrar outros. Seus altos e baixos ao longo de 90 minutos: contra-ataque aos 33’ que finaliza com displicência e perde ótima oportunidade e assistência no gol de Ribeiro aos 80’, em lance de extrema frieza e inteligência. Joia que se desenvolve a cada jogo que consolida sua titularidade. Mas Barbieri precisa adequar o sistema defensivo às suas dispersões.
Na segunda etapa, há um melhor ajuste no sistema defensivo rubro-negro, mas que continua com desempenho aquém de algumas peças, principalmente de Paquetá, que com o cansaço, começa a exagerar na retenção da posse. Não teve partida péssima como a contra o River Plate, mas continua na sequência de jogos medianos e jogadas equivocadas. Necessita de orientação.
Entrada de Jean Lucas aos 68’ visa reforçar o meio-campo que perdia em intensidade e liberar Diego e Vinicius Jr para puxada de contra-ataques ao liberá-lo das obrigações defensivas. Garoto de muita personalidade, ajuda a fechar o meio e agrega mais lucidez ao meio-campo com Éverton Ribeiro e Paquetá cada vez mais dispersos. Acertou os 7 passes que realizou e as 2 bolas longas que tentou, além de 1 desarme).
Justo no momento de maior pressão atleticana, após erro de escanteio, chutão para frente, sai o gol rubro-negro, em lance de velocidade e habilidade de Vinicius de ultrapassar o zagueiro, evitar a carga faltosa e servir sem vaidades Everton Ribeiro. Dali em diante pressão total de um Atlético-MG que acusa o golpe, e ainda que com chances, não consegue reverter o placar, exigindo ainda mais intervenções de Diego Alves.
Primeiro lugar recuperado, com excelente resultado fora de casa em fraco desempenho técnico e tático. Time continua se comportando como um bando em momentos de pressão e necessitando de individualidades, seja na defesa ou no ataque, para cobrir falhas e garantir resultados. Ausência de brilho de veteranos faz com que a estrela de garotos apareça, que desconhecem o peso dessa camisa e as ostentam com orgulho. Mostram o caminho, mas necessitam de uma comissão técnica que saiba usar e lapidar essas promessas. Nada conquistado, além de uma boa noite de sono na liderança da maior competição nacional.
Imagem destacada nos posts e nas redes sociais: Gilvan de Souza / Flamengo
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Matheus Miranda analisa os jogos do Mengão no MRN. Siga-o no Twitter: @Nicenerd04
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