Não. Próximo.
As SAFs diminuem a distância desses clubes para o Flamengo? Óbvio.
Os SAFeiros não estão ricos, mas a mudança, já em curto prazo, é gigantesca. O devaneio de alguns torcedores, como os que pedem Pedro (!) no Fogão (!!) pode ser engraçado, mas de fato Botafogo e Cruzeiro mudaram de prateleira. Não estão no alto, longe disso, mas já saíram do subsolo do fundo do poço.
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Quem imaginaria há seis meses o Botafogo indo atrás de Luís Castro e não de um Jair Ventura? Quem imaginaria o Cruzeiro quitando praticamente todas as dívidas que poderiam gerar transfer ban ou até perda de pontos? Quem imaginaria salários em dia???
Contudo, há uma evolução e vejo, de cara, quatro vantagens imediatas que Botafogo, Cruzeiro e, provavelmente, Vasco terão:
- Diretores amadores abrindo mão de poder, mimos e outras regalias e saindo de cena. Esse cenário só será possível porque era isso ou o fim do clube. Ou seja, a primeira vantagem é a interrupção da caminhada (que ia a passos largos) rumo à transformação desses clubes em um América-RJ ou Portuguesa-SP;
- Mudança da cultura organizacional. A tendência é que os clubes, antes caóticos, passem a adotar boas práticas de governança corporativa, focando em gestão de riscos, estabelecendo padrões éticos e legais e disseminando uma nova cultura, totalmente profissional, em cada departamento do clube (SAF). Teremos aventureiros? Sim, mas não parece ser o caso de John Textor (vulgo JonTex) e Ronaldo. Sobre a 777 ainda está cedo para avaliar;
- Separação do orçamento do futebol. Acaba a farra do clube social e esportes olímpicos deficitários. Só mesmo com a água no pescoço e o clube à beira da bancarrota para os sócios aceitarem perder sua boquinha. Essa me parece uma imensa vantagem das SAFs sobre o poliesportivo Flamengo, inclusive. No nosso caso, o futebol é o “investidor gringo” do clube.
- Por fim, o óbvio. É mais dinheiro mesmo. Receita nova. Fluxo de caixa. Isso, somado ao parcelamento de pai para filho, irá permitir investimentos em infraestrutura, gestão de processos, staff e até atletas. Só de não haver atrasos salariais já é um novo mundo para essa turma.
Enfim, não acredito que, tão cedo, as SAFs chegarão ao nível dos atuais rivais, bancados por sugar daddies e mommies, mas a distância delas para o pelotão de cima diminui, claro. E não vai parar por aí. Certamente veremos em breve clubes estruturados recebendo investimento externo. O Athletico do mago Petraglia, por exemplo, poderá escolher com calma o melhor parceiro e modelo de negócio. Duvido que “vendam” mais de 49,9% do clube, por exemplo.
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Em um pior cenário, sem Fair Play Financeiro, poderemos até ver um sheik (mais humildezinho) querendo brincar de Football Manager em terra brasilis. O mercado brasileiro não é o mais atrativo, mas se um magnata quiser torrar seu dinheiro fora da Europa… Quem sabe?
Enquanto isso, seguimos por aqui, com um quadro associativo cada vez menor e mandando dinheiro suado do futebol para o parquinho e o time de bocha, enquanto os adversários recebem recursos de forma de forma indiscriminada de mecenas ou, de forma regulamentada, de investidores.