Após derrota para o São Paulo dentro do Maracanã, Flamengo vai precisar se inspirar nas suas oito viradas na Copa do Brasil para se classificar
Apesar da boa atuação na estreia de Rogério Ceni, o Flamengo sucumbiu, mais uma vez, para o São Paulo, dentro do Maracanã. Tal situação faz com que voltemos no tempo para dar aos flamenguistas uma esperança a mais na classificação. Desde que a competição foi criada, em 1990, o Mais Querido conseguiu oito viradas na Copa do Brasil
Teve virada emocionante com gol nos minutos finais, assim como uma remontada épica no Maracanã, que depois foi para a disputa de pênaltis, entre outras diversas circunstâncias. Se o Flamengo vai conseguir virar para cima do Tricolor do Morumbi, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: o histórico de reações do clube na competição pode deixar o torcedor com a confiança lá no alto.
1993: Flamengo x Paysandu
Três anos após a primeira conquista de Copa do Brasil pelo clube carioca, o Flamengo encarava o Paysandu, em Belém. Capitaneado pelo maestro Júnior, os visitantes perceberam desde o início que, naquela noite, nada seria fácil no estádio do Baenão. Arquibancadas totalmente abarrotadas e a pressão da torcida, que ficava a metros do campo, no melhor estilo caldeirão, dificultaram a missão rubro-negra.
Logo aos 15 minutos, os donos da casa abriram o placar. Ainda no final da primeira etapa, o Mais Querido conseguiu chegar ao empate, com gol de Júnior Baiano. A virada veio no início do segundo tempo, após Gaúcho balançar as redes da meta adversária. No entanto, o Papão da Curuzu fez valer o mando de campo e virou com gols de Edson Boaro e Oberdam, dando números finais a partida.
No jogo da volta, realizado no Caio Martins, em Niterói, tudo se desenrolou mais fácil para o então atual campeão brasileiro. Ainda no começo do duelo, aos três minutos, Gottardo aproveitou sobra de Paulo Vitor dentro da área para fuzilar. Aberto o placar a favor do Flamengo. Minutos depois, Charles fez cruzamento pela direita, na cabeça de Nélio, que não perdoou. 2 a 0.
No segundo tempo, para afastar qualquer possibilidade de reação dos paraenses, Júnior lançou Nélio pela ponta direita. O camisa 10 da Gávea engatou a quinta marcha e rolou a bola para Nilson. O atacante, com estilo e frieza, empurrou a redonda para o fundo do gol, sacramentando a vitória e classificação rubro-negra.
1996: Flamengo x Internacional
O estádio do Beira-Rio nunca foi de trazer boas recordações para o flamenguista. As gerações mais novas vão se recordar da eliminação traumática para o Inter, nesse mesmo estádio, em 2009, com gol de falta marcado por Andrezinho, nos minutos finais. Porém, na década de 90, a história foi outra.
Após a partida de ida, realizada no Rio Grande do Sul, ser vencida pelos donos da casa pelo placar de 3 a 2, o desfecho no Rio de Janeiro seria feliz para a maior torcida do mundo. E de novo, o destaque daquela noite seria Nélio, assim como em 1993, contra o Paysandu. Aos 19 do primeiro tempo, Mancuso chutou de dentro da área. Goycochea rebateu para o lado e Nélio estava lá para botar no fundo do gol.
Outro destaque do jogo foi o meia-atacante Sávio, que participou dos outros dois gols. Antes disso, ainda sofreu pênalti, cometido por Argel. Na cobrança, Romário acabou recuando para o arqueiro adversário. Mas, para amenizar o sentimento de apreensão, Sávio aumentou a vantagem rubro-negra.
Em jogada com estilo semelhante ao de Éverton Ribeiro, o camisa 10 puxou da direita para o meio e finalizou, contando com colaboração do goleiro argentino. Na segunda etapa, mais um pênalti, mais um em cima de Sávio. Dessa vez, cometido por Goycochea. Romário de novo para a cobrança, sem desperdiçar, colocando a vaga para a semifinal no colo do Flamengo.
Ainda teve tempo do Inter diminuir e lesionar Sávio. Durante toda a partida, o craque foi alvo de rodízio de pancadas do Colorado. Acabou saindo de maca, com o pé enfaixado, após dura entrada do paraguaio Gamarra.
1997 – Flamengo x Rio Branco
No estádio José de Melo, no Acre, o Flamengo sofreu um golpe inesperado. Mesmo enfrentando um time bem aquém, acabou saindo derrotado do Norte do país, pelo placar de 2 a 1. Mas, na partida de volta, tudo se desenrolou tranquilamente para os cariocas.
Apesar de um público baixo no Maracanã (apenas 11 mil presentes), a noite foi de goleada. Mas, um evento inusitado pavimentou o caminho do Flamengo em direção à vitória. Após fazer cera para bater um tiro de meta, o goleiro Valtemir foi expulso. Inconformado, o jogador desferiu socos contra o árbitro.
Com um a mais, o jogo que estava encardido ficou mais viável para os mandantes. No final do primeiro tempo, depois de cruzamento de Lúcio, pela direita, Romário, mesmo baixinho, pulou mais que toda a defensiva do Rio Branco e abriu o placar. Na segunda etapa, Evandro aumentou a vantagem, aproveitando rebatida de chute de Sávio.
Para marcar o terceiro, Bruno chutou mascado dentro da área. E não parou por aí. Sávio conseguiu cavar pênalti, convertido por Romário. E, depois do gol de honra do time acreano, Sávio recebeu passe na marca da cal e só escorou de pé esquerdo para dar números finais à partida. Inevitavelmente, o que ficou no imaginário do torcedor foi a lamentável cena do goleiro Valtemir agredindo o juiz.
1999: Flamengo x Ponte Preta
Logo na segunda fase, o Fla enfrentou alguns problemas ao visitar a Ponte Preta, em Campinas. Por conta de uma má atuação, o resultado final foi favorável ao time da casa, que ganhou o primeiro jogo por 1 a 0. Na volta, mais uma vez, a tarefa foi resolvida de forma pacata pelo Mais Querido.
Após cobrança de escanteio que veio pelo lado direito, o goleiro da Macaca, Alexandre, saiu do gol caçando borboletas. O que foi perfeito para Leandro, que na entrada da pequena área, finalizou sem deixar a bola cair no chão. Placar aberto, que levaria a decisão do classificado para as cobranças de pênalti.
Novamente em cobrança de escanteio, o Flamengo assumiu a dianteira no marcador. Dessa vez, em corner efetuado pela esquerda, os visitantes aproveitaram mais uma falha da retaguarda pontepretana, com o oportunista Romário. Mestre da pequena área, o Baixinho teve frieza para dominar e marcar, mesmo com o arqueiro oponente fechando o ângulo.
Para concluir a atuação em grande estilo, um lindo gol. Começou pelos pés de Romário, que foi conduzindo a bola em meio a marcação adversária. Caio, fazendo o pivô, recebeu o passe, e de prontidão, deu um toque de letra espetacular para o Baixinho. Como era de costume, com uma tranquilidade impressionante, o artilheiro só deu um toque de leve por cima do goleiro. 3 a 0 e classificação confirmada.
2003 – Flamengo x Ceará
Geralmente, os torcedores rubro-negros, quando pensam na Copa do Brasil de 2003, não tem boas recordações. Apesar da boa campanha ao longo do torneio, o vice-campeonato para o Cruzeiro, no Mineirão, deixou cicatrizes vistas até hoje. Contudo, o confronto da segunda fase traz lembranças positivas, além de esperança de virada na edição atual da competição.
Em um Castelão lotado, o alvinegro fez valer o mando de campo e levou uma vantagem, ainda que magra, para o Rio de Janeiro. Triunfo por 1 a 0, em gol de pênalti convertido por Garrinchinha. Na volta, um verdadeiro teste para cardíacos. Pela primeira vez, o Flamengo iria conseguir reverter uma desvantagem em disputa de pênaltis no principal mata-mata do país.
O gol que igualou o confronto surgiu a partir de jogada criada por Athirson. O habilidoso lateral-esquerdo saiu driblando em meio a intermediária cearense e passou em direção a Andrezinho. O meia rubro-negro serviu Zé Carlos na grande área, que com liberdade para finalizar, não perdoou. Chute cruzado, que morreu no fundo da rede. 1 a 0 Flamengo.
O trunfo do Mais Querido nas penalidades que decidiriam o classificado estava debaixo das traves. Júlio César, ainda garoto, com uma carreira brilhante para trilhar no futuro. O goleiro de Seleção Brasileira pegou o pênalti de João Marcelo e ainda viu Santana jogar a bola no estádio de São Januário. Flamengo classificado para a próxima fase.
2013: Flamengo x Cruzeiro
Provavelmente, a virada mais marcante de todas essas listadas. O primeiro ano da gestão de Eduardo Bandeira de Mello veio com um mantra: momento de recuperar o clube financeiramente, cortar gastos e não almejar voos altos. Mas, como no Flamengo, reina o imponderável, esse prognóstico foi totalmente contraposto.
Nesse ano, foi a primeira edição da Copa do Brasil em que os times que jogaram a Copa Libertadores também participariam do mata-mata nacional. Porém, o confronto era contra o Cruzeiro, que apesar de não ter atuado na principal competição das Américas, liderava com sobras o Campeonato Brasileiro. Por conta disso, tinha todo o favoritismo do duelo.
Favoritismo que começou sendo confirmado. No Mineirão, abriu 2 a 0, com direito a um gol épico de Éverton Ribeiro. Que, para muitos, é o gol mais bonito do século no Brasil. No segundo tempo, uma confusão entre Fábio e Dedé foi o que manteve o Flamengo vivo na disputa. A bola sobrou para Carlos Eduardo, após se chocar na trave. O meia só teve o trabalho de empurrar para o gol.
2 a 1, uma desvantagem reversível. Por isso, torcida presente em peso no Maracanã. 90 minutos de apoio, cantoria, tudo valia para empurrar o Mais Querido rumo à classificação. Entretanto, não parecia ser o dia. O jogo não encaixava, o Cruzeiro tinha o contra-ataque à sua disposição. É, acho que não vai dar…
Até o minuto 43. O minuto mágico. Da cobrança de falta de Petkovic que deu o tri carioca para o Flamengo. E do gol de Elias. O volante recebeu na entrada da área e chutou sem dó, estufando as redes de Fábio. Uma classificação que muitos duvidavam e tratavam ser impossível. Mas, se tratando de Flamengo, impossível é uma palavra que é carta fora do baralho.
2014: Flamengo x Coritiba
Outro lugar indigesto para o Flamengo. Estádio Couto Pereira. O Coritiba vinha de uma fase excelente, sendo finalista da Copa do Brasil em 2011 e 2012. Apesar do vice nas duas edições, chegava mais uma vez com a confiança de fazer uma boa campanha. E, após massacrar o Flamengo no Paraná, por 3 a 0, essa expectativa ficou ainda maior. Mas ainda tinha jogo.
Apesar da confiança da torcida, que encheu o Maracanã e cantou boa parte do tempo, a primeira etapa ia se encaminhando para o 0 a 0. Até que, nos acréscimos, Zé Love derrubou João Paulo dentro da área. Pênalti convertido por Alecsandro. O pulso ainda pulsa. E nos 10′ do segundo tempo, outro pênalti. Dessa vez, bem discutível.
João Paulo cruzou pela esquerda. Wagner Reway apontou infração de Norberto, que teria colocado o braço na bola. Mas, o Flamengo, que não tinha nada a ver com aquilo, aproveitou para diminuir a vantagem agregada do Coxa. 2 a 0, gol novamente de Alecsandro. O gol do empate surgiu novamente pelo lado esquerdo.
O motorzinho, Éverton, puxou contra-ataque e cruzou na área. Depois de bate-rebate, a bola ficou com o brasileiro naturalizado croata, Eduardo da Silva. De pé canhoto, o atacante mandou para o fundo do gol. Mais uma disputa de pênaltis no Maracanã. E, quem terminaria sendo o nome da noite? Paulo Victor.
O goleiro pegou duas penalidades e deixou nos pés de Léo Moura a ida do Flamengo para as quartas-de-final. O experiente lateral não desperdiçou e sacramentou uma remontada histórica do Mais Querido no Rio de Janeiro.
2016 – Flamengo x Confiança
Uma Copa do Brasil em que nada deu muito certo para o Flamengo. A esperança da torcida estava alta, pois o clube havia contratado o campeoníssimo Muricy Ramalho como técnico. Todavia, o trabalho não foi nem um pouco como o esperado. E sinais disso já vinham sendo mostrados no mata-mata nacional.
A derrota no Sergipe, para o Confiança, foi uma amostra de que, apesar do currículo, Muricy já não era mais o mesmo. No segundo jogo, em Volta Redonda, a vitória veio com tranquilidade. Aos 26′ do primeiro tempo, o gol marcado por Mancuello, após assistência de Willian Arão, igualou o duelo.
Arão, inclusive, tornaria a dar assistência para o gol de um companheiro. Aos 10′ da segunda etapa, Mancuello bateu escanteio pelo lado esquerdo. O volante apareceu na primeira trave para escorar para trás. Lá estava Marcelo Cirino, que também de cabeça, marcou mais um para os mandantes.
Bom, quem faz três gols, geralmente pede música. E quem dá três assistências, pede o quê? Bom, assim como você, não sabemos. Mas de uma coisa temos certeza: a atuação de Willian Arão nessa noite foi de encher os olhos. Agora, uma assistência magistral, novamente para Cirino. Dentro da área, o atacante driblou o goleiro e marcou seu segundo do dia. 3 a 0, Flamengo classificado.
Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Ricardo Moraes/Reuters/Veja