As categorias de base do futsal e o sucesso na revelação de talentos no futebol
Gustavo Genovese | Twitter: @GenoveseGustavo
Não é novidade para ninguém que o futsal virou a porta de entrada para os jovens talentos no mundo do futebol. O desaparecimento dos campos de pelada nas grandes cidades, em função do crescimento urbano e da especulação imobiliária, ajudam a entender um pouco esse fenômeno. De outro lado, é cada vez mais precoce a captação dos garotos com potencial pelos clubes. Para que se tenha uma ideia, a Federação de Futsal do Estado do Rio patrocina uma competição para atletas sub-07, torneio que o Fluminense acaba de se sagrar campeão.
É fato perceptível que existe uma forte correlação entre o trabalho desenvolvido nas categorias de formação do futsal (sub-07 até sub-13) e os resultados esportivos e, especialmente, no que diz respeito à revelação de jogadores para os times de futebol profissional. O maior exemplo disso é o Fluminense, de logo o clube que tem o melhor trabalho nas categorias de formação do futsal carioca (das sete categorias de base o Fluminense chegou à final em seis, enquanto o Flamengo chegou a três e possivelmente só será campeão em uma) e não por acaso, o clube que mais tem revelado jogadores nos últimos anos no futebol do Rio de Janeiro.
Desde que a atual administração assumiu o Flamengo, pode-se perceber uma clara opção por investir, prioritariamente, em se tratando das divisões de base, no sub-15 para baixo (o que está correto), especialmente se levarmos em conta que os melhores jogadores a partir dos 16 anos já possuem contratos profissionais com seus clubes. Assim, para se incorporar um jogador sub-16 seria necessário o pagamento de eventual multa rescisória. Agora, mesmo, para se trazer um jogador na faixa entre os 14 e os 16 anos com contrato de formação (no caso de clubes detentores de Certificado de Clube Formador), e mesmo sem o contrato, em função do acordo de cavalheiros entre os clubes, e chancelado pela CBF, também passou a existir a necessidade de negociação entre os clubes.
Nesse cenário, e diante da enorme restrição financeira pela qual o Flamengo passava, a opção feita pelo clube foi acertada. Mas o meu foco nesse texto é a questão das categorias de base do futsal como porta de entrada para a formação de jogadores de futebol de campo dentro do clube. Acompanho há bastante tempo o trabalho que vem sendo feito no futsal do Flamengo. Deve reconhecer que nos últimos dois anos a situação deu uma melhorada. Mas está muito longo do ideal, e muito aquém do trabalho que o Fluminense, por exemplo, faz. Existe, mesmo, um déficit de estrutura nas categorias de base do futsal do Flamengo que precisa ser corrigido. Existem poucos profissionais contratados para o setor. As duas grandes figuras, quase heroicas, que tem tocado esse trabalho, O Luiz Antônio Torres e o Spinelli (que se revezam como técnicos e preparadores físicos em diversas categorias), estão nitidamente sobrecarregados. Esses dois verdadeiros abnegados, além de serem responsáveis pelo treinamento técnico e físico dos grupos sub-10/sub-11/sub-12 e sub-13, ainda são responsáveis pela observação e captação de novos atletas para o futsal.
Nesse sábado, 11/07/2015, assisti a dois jogos pelas finais das categorias sub-13 (série prata, na verdade os grandes clubes jogam com times sub-12), na qual o Flamengo foi derrotado pelo Fluminense por 4x2, e sub-11 (série prata, na verdade os grandes clubes jogam com times sub-10), na qual o Flamengo perdeu para o Vasco pelo placar d 7x5. Nessa faixa etária, não comento sobre destaques, até porque só se pode ter uma avaliação definitiva do jogador quando ele passar a jogar o futebol de campo. Mas algo me chamou a atenção durante o jogo contra o Fluminense. Enquanto o Flamengo tinha como responsáveis pelo time os citados, Luiz Antônio Torres e o Spinelli ( e mais um duas pessoas), o Fluminense contava com o triplo entre membros de comissão técnica e dirigentes (até o coordenador geral de captação do futebol de campo estava presente ... depois nos lamentamos porque vira e mexe eles nos tomas jogadores da base do futsal, como o Vitor Muller, por exemplo).
Fora o time sub-13 (série ouro, que é um ótimo time, e cujo trabalho de transição para o futebol de campo é digno dos maiores elogios), a nossa base do futsal hoje fica muito atrás da do Fluminense, e diria que é superada até pela do Vasco. Precisamos, urgentemente, melhoras a estrutura (inclusive, com a contratação de mais profissionais, até para que a captação de novos talentos melhore) das categorias de base do futsal se quisermos alcançar a hegemonia nas categorias de base do futebol.