Aquecimento para a final: relembre gols decisivos na história do Flamengo
Os 109 anos do Clube de Regatas do Flamengo multicampeão dentro do futebol trazem para o torcedor as melhores recordações em meio a véspera da decisão contra o Palmeiras, válida pela grande final da Libertadores.
Com uma história avassaladora e São Judas Tadeu como padroeiro do clube, é claro que grandes momentos do Mais Querido ocorreram com um retoque de impossibilidade. De Valido a Gabigol, o rubro-negro ressalta: nada é impossível.
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Nesse sentido, o MRN destaca cinco gols dentre os mais importantes que renderam títulos ao Flamengo – sem contar um bônus no final da matéria para motivar ainda mais os rubro-negros.
Para o duelo contra o Palmeiras, o Flamengo busca o Tricampeonato da América no Estádio Centenário, em Montevidéu, às 17h do próximo sábado (27).
Valido: o primeiro tri do Flamengo
O início dos anos 40 trouxeram grandes alegrias aos torcedores do Flamengo. Se hoje o tri remete a busca pela Copa Libertadores, antigamente significou a vitória espetacular dos Campeonatos Cariocas de 1942, 1943 e, sobretudo, 1944.
O primeiro dos seis tricampeonatos estaduais do Flamengo teve um personagem muito marcante como herói. Trata-se de Agustín Valido, atacante argentino que marcou o gol da decisão de 1944 sob muitos fatores que tornaram a história ainda mais maravilhosa.
Depois de conquistar o Carioca sobre o Botafogo, em 1942, e sobre o Fluminense, em 1943, faltava bater o forte Vasco comandado por Ondino Viera. E foi assim, em uma decisão com mais de 20 mil torcedores no estádio José Bastos Padilha, a tradicional Gávea.
Após uma ótima campanha do Flamengo liderada pelo craque Zizinho e pelo artilheiro Pirilo, restava ao Mais Querido enfrentar o Fluminense e, posteriormente, o Vasco para erguer o tricampeonato.
Acontece que Agustín Valido não fazia parte do elenco, ele havia se aposentado em 1943. Porém, no final da competição, o treinador Flávio Costa convenceu o atleta de jogar as duas partidas finais após ver seu bom desempenho em peladas na Gávea.
Contra a vontade de sua família, Valido voltou a vestir o Manto Sagrado para ser eternizado como ídolo do clube.
Depois da vitória de 6×1 sobre o Fluminense, na qual o argentino não marcou nenhum dos gols, uma febre pesada quase tirou o atacante da decisão contra o Vasco.
Contudo, Valido esteve em campo e, aos 41 minutos do segundo tempo, testou para o fundo das redes o único gol da partida: Flamengo 1×0 Vasco, para a alegria da maior torcida do país.
O início da Era de Ouro
Em 1977, quando o Flamengo perdeu a decisão do segundo turno do Campeonato Carioca para o Vasco, Zico reuniu o elenco no saudoso Barril 1800, no Arpoador. O encontro gerou certas críticas ao time, afinal acabara de perder um título importante para o maior rival e estavam todos bebendo no bar ao lado da Praia de Ipanema.
Entretanto, o recado era claro: a partir desse momento, o Flamengo ganharia tudo com o que era considerado, por eles próprios, o melhor elenco do país.
Depois disso, o título do Carioca de 78 era tido como fundamental para a permanência dos jovens craques que ainda não tinham convertido esse talento em conquistas.
Sob o comando de Zico e Junior, o Flamengo realizou uma excelente campanha e enfrentou, mais uma vez, o Vasco na final. Precisando vencer para se vingar da derrota nos penais no ano anterior, o Mais Querido encontrou um Maracanã abarrotado de gente.
Em sua maioria, estavam torcedores rubro-negros que queriam ver o título. Do lado direito das cabines, a torcida vascaína ostentava o posto de favorito pelo fato do Flamengo não vencer o Cruz-Maltino desde março de 1977.
Com o adversário recuado e pouca inspiração do Mais Querido, não parecia que a Nação Rubro-Negra veria o time erguendo o troféu. Mas, aos 41 minutos do segundo tempo, a personificação de raça apareceu na área, subiu mais que Abel Braga e testou para o fundo das redes após escanteio cobrado por Zico.
Rondinelli, o camisa três, o Deus da Raça, foi o autor do título que marcaria o início da Era de Ouro. Nos anos seguintes, o Flamengo conseguiu seu terceiro tri-carioca, três brasileiros, uma libertadores e um mundial.
A América é nossa pela primeira vez
O ano de 1981 é, certamente, o mais importante da história do clube. Em sua primeira participação na história, o Flamengo disputou uma violenta Copa Libertadores e se sagrou campeão contra o desleal Cobreloa, time chileno que havia sido vice, também, na edição anterior.
Na decisão, a vitória por 2×1 no Maracanã, no jogo de ida, mostrava o que seria intensificado em Santiago. Zico marcou duas vezes para o Mengão, mas o Cobreloa diminuiu com Victor Morello.
Nos noventa minutos, se viu um Flamengo interessado em jogar futebol e um Cobreloa focado em agredir atletas rubro-negros. Dessa forma, a tensão pré-decisão no Chile cresceu ainda no Rio de Janeiro.
Desde a chegada em Santiago até o Estádio Nacional, o que se via era o Flamengo contra um país – como conta Zico. A forte presença de militares destacava o que era o Chile no período, assolado pela ditadura de Pinochet.
Durante o jogo, os atletas do Flamengo afirmam que os defensores chilenos utilizavam pedras na mão para golpeá-los. Adilio, inclusive, abriu o supercílio após soco de Mario Soto, que também pisou no camisa oito.
No final do jogo, o Cobreloa marcou o único gol da partida em jogada aérea. O lateral e ídolo Leandro errou cabeçada, que terminou no fundo das redes de Raul Plassmann.
O título, portanto, foi adiado para um terceiro jogo em campo neutro. Comandados por Carpegiani, a delegação do Flamengo viajou até o Uruguai para decidir e erguer o troféu no Estádio Centenário, em Montevidéu.
Para ironia do destino, o Flamengo enfrenta o Palmeiras no mesmo local de seu primeiro título de Libertadores.
Os jogadores deixaram claro entre si mesmos: esqueceriam o mau caratismo do adversário e jogariam futebol. E assim foi. Gol de Zico ainda no primeiro tempo e, na segunda etapa, a consagração no seu estilo. De falta, no ângulo, com o goleiro rival completamente imóvel.
Tudo normal: Tetra-Tricampeão
Por mais que não se dê tanto valor aos títulos estaduais atualmente, o Flamengo escreveu sua mais que centenária história, principalmente, com gols e títulos sobre rivais do Rio de Janeiro.
Outra conquista de suma importância na Gávea, os tricampeonatos sempre reservam significados únicos. No caso dos títulos de 1999, 2000 e 2001, o fato dos três terem sido em cima do Vasco apimentam ainda mais o Clássico dos Milhões e o tamanho da competição.
Além disso, a forma como foram conquistados os troféus. No caso da última competição, com um golaço aos 43 minutos do segundo tempo quando, mais uma vez, tudo parecia estar perdido.
O incrível ex-treinador e jornalista Apolinho cantava a pedra quando Petkovic pegou colocou a bola na grama para bater um tiro livre bem distante da baliza de Hélton. Receoso, Joel Santana – à época, treinador do Vasco – sentiu o golpe antes mesmo da execução do sérvio.
Trabalhando na Rádio Tupi, Apolinho pediu a São Judas Tadeu a sua presença aos 43 minutos do segundo tempo. Um momento de torcedor. Nas arquibancadas, rubro-negros estendiam a mão visando carregar a bola até o fundo das redes. Outros, com diferentes crenças, rezavam diferentes preces. Tudo pelo gol do título.
Apesar da vitória parcial por 2×1, o Flamengo precisava marcar mais um para sair campeão. Os dois primeiros gols foram marcados por Edílson. O primeiro, de pênalti. O segundo, de cabeça após lindo passe de Pet.
Caso não conseguisse dois gols de diferença, o título iria para São Cristóvão. Desse modo, Dejan Petkovic – que quase não participou da partida em decorrência dos problemas internos no clube – pegou a bola, chamou a responsabilidade e colocou na gaveta.
Um chute perfeito. Na potência, na curva, na exaltação da arquibancada. Um chute de São Judas Tadeu.
A catártica final do Flamengo em Lima
“Incrível, épico, memorável”, grita João Guilherme, narrador da Fox Sports, ao ver de perto o gol marcado por Gabriel Barbosa.
“Toca la copa, carajo. Por qué la quiero para mí”, sintetizou Alberto Jesús López, narrador televisivo oriundo do Chile.
Se a sensação de profissionais, estrangeiros e até torcedores de outras equipes foi completamente fora do comum, imagine a da Nação Rubro-Negra. Esse é o peso da Libertadores conquistada depois de exatos 38 anos, no dia 23 de novembro de 2019.
Depois de realizar uma campanha mata-mata incrível, com direito a virada histórica sobre o Emelec e baile nas semifinais sobre o Grêmio, o Flamengo enfrentou o poderoso River Plate.
Na época, o time comandado por Marcelo Gallardo era o atual campeão da competição, pois havia derrotado o grande rival Boca Juniors em 2018.
O Flamengo vinha com o seu estilo avassalador, que lhe daria o título de campeão brasileiro, conquistado no dia seguinte.
Entretanto, o futebol apresentado pelo Mais Querido na partida não condizia com o que vinha sendo mostrado nas fases anteriores. Por conta de uma desatenção na defesa, Borré abriu o placar aos 14 minutos.
O time de Jorge Jesus não conseguiu furar o River Plate no primeiro tempo. Por outro lado, os argentinos podiam ter ampliado e tiveram as melhores oportunidades.
Na segunda etapa, o Flamengo passou a criar mais, mas a bola não entrava. Até o momento, Gerson era o melhor em campo, porém saiu desgastado para a entrada de Diego.
Com o camisa dez, o Mais Querido cresceu na partida e manteve a bola no campo de ataque. Ainda assim, o gol não saía.
Até que, aos 43 minutos do segundo tempo, um dos maiores trios da história do clube colocou o Flamengo, de fato, na decisão. Sob olhares de São Judas Tadeu, Arrascaeta desarmou Pratto e entregou para Bruno Henrique. Com passadas largas, o camisa 27 deu lindo passe para o próprio Arrascaeta que, com a ponta do pé, encontrou Gabigol: 1×1.
A arquibancada desmoronou – no bom sentido. Mas viria mais. Logo em seguida, aos 47 minutos, Diego lançou para o camisa nove. Predestinado, Gabriel disputou com Pinola, que cedeu para o craque.
Dessa forma, em poucos segundos, o Flamengo foi de derrotado para campeão do troféu mais aguardado de sua história. Pelo contexto, o bicampeonato da Libertadores tem o tamanho de uma conquista mundial, amorosa, bélica, universal. Trinta e oito anos depois, o príncipe Gabriel nos colocava no topo da América. Carregado, é claro, por sua Nação.
Bônus: Show no Parque Antártica
Em meio ao clima de final de Libertadores, é impossível não falar da grande final da Mercosul de 1999. Na ocasião, disputaram o título Flamengo e… Palmeiras, o adversário do próximo sábado (27).
Na época, a Mercosul era tratada como a segunda competição continental mais importante da América. Comparando as equipes, o Palmeiras vinha dos títulos da Copa do Brasil e da própria Mercosul, em 1998. No ano seguinte, a equipe já havia conquistado a Copa Libertadores.
O Flamengo vinha de um título estadual, no qual também tinha uma equipe inferior à do Vasco. No Brasileiro, tropeçava constantemente e vinha sendo muito criticado. Além disso, perdeu o artilheiro Romário no meio da temporada. Entretanto, o Manto Sagrado e a Nação, como já vimos diversas vezes, ganham campeonato.
No Maracanã, Flamengo e Palmeiras fizeram belo jogo que terminou com vitória por 4×3 para o Mais Querido. Juan, Caio Ribeiro (2x) e Reinaldo marcaram para o Flamengo; Júnior Baiano, Asprilla e Paulo Nunes fizeram para o alviverde.
A partida de volta manteve o alto nível e a busca incessante das duas equipes pelo gol. Arce, de pênalti, abriu o placar, mas Caio Ribeiro igualou na saída para o segundo tempo.
O Palmeiras se colocou na frente com Arce, dessa vez de falta e vacilo do goleiro Clemer. Porém, o goleiro Marcão nada pôde fazer no chute de Rodrigo Mendes: 2×2. Pouco depois, o meia do Palmeiras Zinho cruzou para Paulo Nunes fazer o terceiro do adversário.
Treinado pelo eterno Carlinhos Violino, o Flamengo não se abalou e buscou o gol no final. Após linda tabela com Reinaldo, o inesperado herói, Lê, guardou o gol do título. Será que teremos mais um gol improvável em Montevidéu?