Por Daniel Giotti de Paula
Foi ontem, durante a transmissão do jogo entre Flamengo e Juventude, que ouvi a frase: “Andreas, o homem que fala Flamengo”. Quem a disse foi nossa enciclopédia do futebol, o PVC, e não sei se ele já dito ou escrito sobre antes.
Deixo o registro aqui para esclarecer de quem a frase, com a qual fiquei tão fascinado por descrever bem o que o Andreas Pereira tem representado, que não pude evitar escrever esta crônica.
Brincando com as palavras, PVC pega a origem do jogador – Andreas tem dupla nacionalidade, do Brasil e da Bélgica, onde se fala flamengo – para realçar que ele entendeu o que é e como é jogar no time rubro-negro.
Ele fala Flamengo, mesmo não sendo nativo, formado em casa: “craque o Flamengo faz na base” e hoje também em seu ajustado time.
Mas os casos de jogadores que não entendem o Flamengo não são raros.
É que não cai bem em todo mundo o Manto Sagrado: para alguns a camisa é tão pesada, que na primeira crítica da passional torcida flamenguista, perdem-se na história do clube ou mesmo para sempre em suas carreiras no futebol.
Nas arquibancadas do Maracanã, nos bares e botequins, em programas esportivos, no trabalho ou em casa, os torcedores se perguntam por que há jogadores que não rendem no Flamengo.
Ronaldinho Gaúcho, gênio, não rendeu o que deveria no clube. Sócrates, o de logo após a Copa de 1982, foi um péssimo figurante naquele timaço da década de 80. E todos concordam que Vitinho poderia jogar melhor no Flamengo.
As razões são várias: gênio em time mediano não consegue brilhar, craque que desistiu de se empenhar tem apenas lampejos de bom futebol, jogador que sente demais a pressão não resiste à força dúbia da Magnética, que endeusa e destrói jogadores, muitas vezes durante a mesma partida.
Mas falando sobre Andreas, o que realmente importa nesta crônica, as vestes rubro-negras ficaram muito boas para ele, obrigado!
O jogador chegou chegando, mostrando uma disposição em campo, que o levou a entender logo a linguagem rubro-negra, algo que vem, sobretudo, das arquibancadas entoando hinos, canções e palavras expressando o termômetro da torcida.
Versátil, com bom passe, posicionamento invejável, sabendo ocupar os espaços vazios no meio-campo e no ataque, ele deixou no banco um dos queridinhos desta nova Era rubro-negras, Diego Ribas.
Sua disposição de jogador raçudo, senha para ganhar a torcida do Flamengo, e seu fino toque de bola, que dá aquele orgulho em flamenguista por ter craque em seu time, já demonstravam que ele estava muito fluente na linguagem do clube.
A proficiência, porém, veio no jogo de 13 de outubro, com o gol de falta, num jejum raro na história do Flamengo, de mais de três anos.
Mal acostumados com a habilidade de Zico como melhor batedor de faltas de todos os tempos e ainda sentindo a memória afetiva recente de tantos gols do Pet, o golaço de falta que Andreas Pereira fez selou com ele nosso amor da torcida.
Como no conto de Lima Barreto “O homem que falava javanês”, que despertava a admiração de toda gente por esse feito, mesmo sendo uma grande mentira, Andreas foi tentar aprender uma língua difícil.
Só que no caso dele, a mística de falar fluentemente Flamengo em tão pouco tempo o torna encantado para torcida, que jogo após jogo vê seu jogador aprimorando seus dotes linguísticos, digo, futebolísticos.