Andrade sobre o hexa em 2009: "Não tinha chances de dar errado"
Em entrevista ao canal “Mais Nação”, Andrade falou sobre o jogo do hexa em 2009 e a importância da luta contra o racismo
No mês em que é comemorada a homenagem à consciência negra, é de extrema importância que nos recordemos dos negros que ocupam uma posição de destaque na sociedade. E, sem dúvidas, um deles é Andrade. Nada mais, nada menos, que o maior vencedor da história do Campeonato Brasileiro. Com seis títulos, o “Tromba” foi o treinador do hexa em 2009.
Quando Andrade assumiu o comando na Gávea, o clube carioca ocupava a 11ª colocação do torneio, com 1% de chances de ser campeão. Em entrevista concedida ao canal “Mais Nação”, o ex-volante falou sobre diversos temas. A arrancada rumo ao improvável sexto título brasileiro do Mais Querido, a importância do combate ao racismo no país e detalhes da sua saída do Flamengo, foram alguns dos tópicos abordados.
Contraste de emoções: anti-clímax contra o Goiás e a certeza do título diante do Grêmio
Na 36ª rodada do Brasileirão de 2009, tudo se desenhou perfeitamente para que o Flamengo ficasse com a faca e o queijo na mão para conquistar o título. Momentos antes do jogo contra o Goiás, no Maracanã, Botafogo e São Paulo se enfrentavam a alguns quilômetros de distância, no Engenhão.
O alvinegro carioca se encontrava em uma jornada árdua para tentar escapar do rebaixamento. Enquanto isso, o Tricolor paulista era o líder da competição. Logo, os rubro-negros precisaram fazer algo inusitado: torcer efusivamente para um rival. E deu certo. O time da estrela solitária ganhou por 3 a 2, criando um cenário em que só bastava o Flamengo vencer para assumir o topo da tabela.
Porém, a partida se desenhou mais complicada do que o imaginado. Um empate frustrante em 0 a 0 deixou um sentimento de apreensão no elenco, segundo Andrade. Inclusive, o treinador admitiu que o fato do grupo flamenguista ter acompanhado os momentos finais do cotejo no estádio botafoguense aumentou a ansiedade nos jogadores.
“A gente estava no vestiário se arrumando para o jogo. Ao mesmo tempo, estávamos acompanhando o jogo do Botafogo. Como o Botafogo ganhou, acredito que isso gerou uma ansiedade dentro dos jogadores”, contou Andrade.
No entanto, tudo voltou a ficar favorável para o Mais Querido. Na rodada seguinte, o São Paulo voltou a ser derrotado, enquanto, em Campinas, o Flamengo bateu o Corinthians. A liderança, pela primeira vez no campeonato, era vermelha e preta. Justamente nas vésperas da última rodada.
“Dentro do Maracanã, não tinha como perder”, revela Andrade sobre o hexa em 2009
38ª rodada do Brasileirão. Contra todos os prognósticos que previam um Flamengo lutando para não cair até o fim. A equipe comandada por Petkovic, Adriano e Andrade tinha tudo para levar a sexta taça de campeão brasileiro para a Gávea. Bastava vencer um Grêmio repleto de jogadores reservas para soltar o grito preso na garganta por 17 anos.
E, conforme disse o Tromba, dentro do clube, existia uma única certeza: não havia chances do título não ser rubro-negro naquele 6 de dezembro de 2009. Mas, com sua humildade de sempre, ele relacionou essa certeza de conquista à força do Flamengo em seus domínios, sem menosprezar o adversário.
“Dentro do Maracanã, com todo o respeito, a gente não vai perder. Eu cheguei a várias finais de Brasileiro e nunca perdi. E não é que eu estava subestimando, mas jogando dentro do Maracanã, com tudo a favor, não tem chances de dar errado”, relata Andrade, confessando que a sua confiança naquele dia era maior que qualquer chance matemática de outro time levantar o troféu de campeão brasileiro.
E ele estava certo. Apesar do susto que toda a Nação Rubro-Negra levou no início da partida, com o gol do Grêmio marcado por Roberson, tudo voltou aos eixos posteriormente. David Braz e Ronaldo Angelim foram os responsáveis por virar o placar e garantir o título. O primeiro do clube na era dos pontos corridos.
O simbolismo da conquista de Andrade
Com a conquista do Flamengo em 2009, um tema passou a ser debatido no país: seria Andrade o primeiro técnico negro a ser campeão do Campeonato Brasileiro? Esse questionamento se dá por conta de que, na opinião de muitos, esse feito seria de Vanderlei Luxemburgo. Perguntado sobre o tema, o Tromba preferiu fugir de polêmica.
“Há muita controvérsia em cima disso. Eu sei da importância que tinha, para a nossa raça, de um negro chegar onde cheguei, ser campeão brasileiro, eleito melhor treinador do ano”, reflete Andrade. Aproveitando o assunto, o ex-técnico do Flamengo ressaltou que sua saída do clube nada teve a ver com um possível preconceito da diretoria.
“Muitos acreditam que eu saí do clube por causa disso (preconceito). Mas eu não vejo assim, foi mais por conta da política do clube, existe um viés político muito forte dentro do clube. Para quem estava chegando, o Andrade não cabia mais naquele contexto”, revela.
Entretanto, num aspecto macro, referente a sociedade como um todo, Andrade entende que muita coisa precisa mudar para que a população negra não encare mais esse tipo de adversidade. “As nossas leis são muito brandas, enquanto não mudar isso, vai continuar todo o preconceito. São necessárias punições mais duras”, desabafa.
Andrade foi campeão brasileiro pelo Flamengo quatro vezes como jogador (80,82,83 e 87), além de ter conquistado um campeonato pelo Vasco, em 89. Apesar da passagem pelo maior rival, o Tromba continua imortalizado na galeria de ídolos rubro-negros. Ainda mais depois de ter sido peça-chave em um dos títulos mais marcantes da história do clube.
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