O vencedor deste Atlético-MG x Flamengo vai ter que superar problemas recorrentes e potencializar virtudes além do adversário
Os principais jogos do futebol mundial vêm sendo decididos em cima da capacidade que as equipes têm de pressionar a saída de bola adversária e superar essas mesmas pressões quando são alvos delas. O duelo entre Flamengo e Atlético Mineiro, ainda na 1ª rodada do Brasileirão, teve essa característica. O Galo superou o Rubro-Negro no Maracanã na estreia de Domènec Torrent. Neste domingo certamente veremos um duelo com as mesmas características. Promessa de jogão!
Leia também: Ele voltou! Gabigol está na lista de relacionados do Flamengo para jogo contra Atlético-MG
Por mais que tenham um nível de intensidade diferente, Atlético Mineiro e Flamengo possuem muitas similaridades em seus modelos de jogo. São notadamente voltados ao ataque, com problemas distintos em fase defensiva. Utilizam o ”modelo posicional” para criar, têm potentes transições ofensivas, mas lacunas importantes nas transições defensivas.
Abaixo alguns tópicos importantes para ficar de olho na análise das duas equipes e que podem definir o importante duelo:
Ocupação de espaços no campo de ataque
A forma como Jorge Sampaoli e Domènec Torrent dispõem suas peças no campo de ataque é diferente. Como já citado, ambos executam o ”modelo posicional”, mas há diferenças importantes nas organizações ofensivas de mineiros e carioca.
Na maioria das vezes Sampaoli utiliza três jogadores na primeira linha de passes do Galo. Guga se alinha a Réver e Junior Alonso. No Flamengo, Dome varia entre uma saída com os quatro defensores ou Willian Arão no meio da dupla de zaga, já projetando os laterais mais a frente. Isla dá amplitude pela direita e Everton Ribeiro circula para o centro. Bruno Henrique fica aberto na esquerda, e Filipe Luis encosta para o meio constantemente.
No Atlético, Guilherme Arana ataca basicamente como um meia-esquerda, enquanto Keno e Savarino dão amplitude ao time. Por dentro, há sempre um atleta mais próximo aos zagueiros, Jair ou Allan, e dois meias centrais com funções diferentes. Nathan geralmente encosta mais no centroavante, quase sempre Eduardo Sasha. E o outro meia, que pode ser Alan Franco, Zaracho ou o próprio Jair, caso Allan atue, faz a meia-direita.
A faixa central do rubro-negro desta vez deverá ter Willian Arão mais fixo, Gerson e Thiago Maia circulando na intermediária, um à direita e o outro à esquerda, se aproximando de Pedro, que atua centralizado na referência ofensiva. Ao contrário do Atlético, que dá um pouco mais de liberdade para Sasha sair da área, o artilheiro rubro-negro joga mais plantado entre os zagueiros.
Circulação da bola, movimentação e definição dos lances.
Por mais que tenham percentuais parecidos de acerto nas finalizações, Atlético e Flamengo possuem uma taxa diferente de conversão das chances criadas. Não é segredo para ninguém a dificuldade que a equipe de Sampaoli têm para balançar as redes. O time cria, finaliza na direção da meta muitas vezes, mas não tem a tranquilidade para tirar do goleiro e tomar a melhor decisão seguidamente. Esse é o ponto que mais os diferencia na produção ofensiva.
De resto, fazem a bola circular com velocidade e utilizam muito bem as vantagens do ataque posicional na criação de constantes linhas de passe. Os movimentos de chegada ao fundo de campo também são coordenados, as aproximações para tabelas e triangulações e ataque em massa para definir os lances dentro da área. Flamengo e Atlético em campo é certeza de chances criadas com frequência.
Capacidade de superar ”pressões altas”
Saber sair da marcação adiantada adversária será a chave para vencer o jogo. O Atlético conta como trunfo o passe vertical de Junior Alonso, que mesmo pressionado encontra companheiros mais à frente. Everson também sabe tirar a bola da pressão, e por isso foi contratado pelo Galo. A mobilidade de Guilherme Arana e os demais atletas de meio-campo do time serão primordiais para oferecer essas linhas de passe ainda no momento de saída de bola.
Outra alternativa é o passe longo e em profundidade para Keno e Savarino. Os pontas ficam bem abertos desde o primeiro momento de construção e são constantemente acionados desta forma a partir de passes de Réver, que faz bem esse trabalho.
O Flamengo possui individualidades mais significativas no meio-campo para vencer uma marcação pressão do Atlético. Gerson e Thiago Maia se mexem bastante para gerar as linhas de passe, costumam se desvencilhar bem da marcação ao receberem de costas, giram o corpo e ganham espaço com passadas largas e condução de bola. Everton Ribeiro é um importante auxílio partindo da direita pro meio. Sem contar a qualidade de passe de Filipe Luís neste momento.
Natan e Thuler, possível dupla de zaga titular, precisam se aprimorar neste aspecto. Isla não é exatamente esse jogador. E o jovem goleiro Hugo também oscila jogando com os pés. Assim como com o Galo, uma alternativa bem interessante é o passe longo. Pedro já criou gols assim. Recebe a ligação direta, controla a bola e aciona os companheiros com mais espaço. Bruno Henrique também já balançou as redes recebendo passes diretos em profundidade. Hugo, Filipe Luís e Arão são bons nisso.
Capacidade de pressionar a bola e sistemas defensivos
Mora aqui o grande problema dos rivais. Atlético e Flamengo têm muitos pontos a melhorar sem a bola. O Galo até consegue fazer uma pressão mais forte e bem coordenada na saída rival. Mantém intensidade alta fazendo isso, até pelo calendário mais tranquilo que possui em 2020. Sobe com pelo menos seis jogadores com alvos pré-definidos, utiliza esses encaixes para pressionar, e costuma ter bons resultados.
O problema vem quando o adversário supera esse primeiro momento. Há uma imensa dificuldade em reagrupar os setores e proteger o ”fundo” do campo. A última linha de defesa não tem mostrado uma coordenação eficaz. Erra bastante. E o Flamengo pode se aproveitar disso. Assim como o Galo pode se beneficiar das vezes em que o rubro-negro ”sobe” a marcação, mas não o faz com intensidade.
Ao contrário de Sampaoli, Domènec gosta que seus jogadores se adiantem marcando por zona, sem encaixes pré-determinados, mas falta pegada para pressionar a bola muitas vezes. O excesso de jogos pode influenciar nisso, mas o fato é que os setores acabam se distanciando e os espaços aparecem para os rivais.
Essa ausência de ”pressão na bola” também é uma realidade de Flamengo e Atlético quando o bloco de marcação recua. No Galo há até uma confusão grande de posicionamento. Seguidos espaços entre os integrantes da última linha de defesa e compactação irregular para a linha de meio-campo. O rubro-negro até consegue se compactar nesse momento, mas segue dando espaço a quem tem a bola no pé.
Atlético-MG x Flamengo: times no divã
Vencer o jogo deste domingo não dará o título do Brasileirão nem a um nem a outro. Mas conseguir superar os problemas citados acima e potencializar as virtudes dará mais confiança para a sequência na temporada e reduzir a pressão que paira sobre as cabeças de Jorge Sampaoli e Domènec Torrent.