Análise tática – Flamengo 2x4 Bayern de Munique: o alto nível não perdoa vacilos

O futebol, por vezes, se resume a um duelo de convicções. No embate entre Flamengo e Bayern de Munique pelas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes, duas equipes que cultuam a posse de bola como caminho para a vitória se encontraram.
➕Sóbis vê erro amador no Flamengo e explica colapso contra o Bayern
O resultado, uma derrota rubro-negra por 4 a 2, mostrou o que acontece quando uma dessas convicções é abalada por erros: o time se torna, por momentos, irreconhecível. O Flamengo caiu de pé, fiel ao seu DNA, mas foi traído por si.

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A grande questão tática que pairava sobre o Hard Rock Stadium era sobre quem conseguiria impor seu estilo. A resposta veio de forma brutal e imediata.
O Bayern não esperou. Logo aos 6 minutos, um desvio infeliz de Pulgar contra o próprio patrimônio inaugurou o placar e estabeleceu o tom do jogo. Sabendo que o Flamengo não mudaria a proposta, os alemães intensificaram a pressão.
Essa blitz resultou no segundo golpe. Aos 9 minutos, Upamecano roubou a bola de Arrascaeta na entrada da área, e Harry Kane, o artilheiro implacável, finalizou. A bola ainda desviou em Léo Ortiz antes de morrer no fundo da rede de Rossi. Dois diretos no queixo que teriam levado muitos à lona.
Mas não este Flamengo. A equipe de Filipe Luís se levantou e foi para o jogo. Aceitou a trocação franca. Luiz Araújo testou Manuel Neuer, e a partida se transformou em um confronto aberto, com os dois times se instalando no campo de ataque.
O gol de Gerson, uma bomba de primeira após jogada bem construída, foi a prova de que o Rubro-Negro estava vivo. Foi um flerte com a ideia de que o jogo estava sob controle, uma ilusão quebrada pelo chute preciso de Goretzka, que restaurou a vantagem alemã e a dura realidade do placar.
Números mostram eficiência do Bayern sobre Flamengo
Se olharmos apenas para as estatísticas, a história parece contar um jogo equilibrado. O Flamengo teve mais posse (51% a 49%), mais finalizações (12 a 7) e o mesmo número de grandes chances de gol (cinco para cada lado). Então, onde esteve a diferença? Na eficiência. O Bayern foi cirúrgico, transformando as poucas chances claras em gols.
Mais do que a qualidade alemã, pesaram os presentes rubro-negros. Os quatro gols sofridos nasceram de falhas capitais. Neste nível de disputa, quem erra, raramente sai ileso. O gol contra de Pulgar, a perda de bola de Arrascaeta, o corte ruim de Luiz Araújo no terceiro gol e, por fim, outra perda de bola do camisa 7 no lance que selou o placar.
Vale destacar que o atacante, embora tenha pecado, foi um dos melhores do Mengão em campo, se doando, criando e aplicado taticamente.
O fator emocional foi visível. Nos minutos iniciais, a bola queimava nos pés de alguns jogadores, que sentiram o peso do adversário e da ocasião. O Flamengo demorou a entrar psicologicamente na partida e, quando o fez, já corria atrás de um prejuízo de dois gols.
Flamengo sai mais forte do que entrou
Seria injusto colocar a derrota na conta do técnico Filipe Luís. A escalação foi a base que venceu outro gigante europeu, o Chelsea, e a proposta de não se acovardar era a esperada. Contudo, fica o questionamento sobre as substituições, especialmente após a lesão de Pulgar, num momento em que uma ousadia maior poderia ter sido a chave para buscar o empate.
Apesar da eliminação, o balanço da participação na Copa do Mundo de Clubes é positivo. Financeiramente, o clube arrecadou expressivos R$ 152,6 milhões. Em campo, a torcida deu um show em Miami, mostrando a força global da Nação. Esportivamente, o time viu a consolidação de Jorginho como uma peça fundamental no meio-campo e a recuperação de De la Cruz.
A má notícia fica por conta da fratura no pé de Erick Pulgar, que deve desfalcar a equipe por cerca de dois meses. Ainda assim, o Flamengo se despede com uma imagem internacional muito superior à deixada no Mundial de 2023. Perdeu para um gigante, sendo fiel a si mesmo. No fim das contas, venceu quem foi melhor e mais eficiente. No futebol, às vezes, é simples assim.