Adversário do Flamengo na final do Campeonato Carioca, o Fluminense é atualmente o grande rival rubro-negro no Rio de Janeiro. Entre altos e baixos, os comandados de Abel Braga chegam ao duelo decisivo com uma ideia de jogo clara.
Nesse sentido, vamos realizar uma análise mais aprofundada acerca do trabalho tricolor em 2022. Utilizando como base seus principais jogos na temporada – os quatro confrontos eliminatórios pela primeira fase da Libertadores e os clássicos contra Flamengo, Botafogo e Vasco pelo Estadual.
Após falarmos sobre a forma como o Fluminense ataca, hoje falaremos sobre a forma na qual o tricolor vem se defendendo em 2022.
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Estrutura em Organização Defensiva do Fluminense
Diferentemente da fase ofensiva, onde o Fluminense possui uma estrutura padrão utilizada na maior parte do tempo, defensivamente a equipe possui algumas variações táticas.
Duas delas giram em torno do primeiro volante da equipe. Titular na maior parte da temporada até aqui, Felipe Melo varia seu comportamento em organização defensiva dependendo da altura de bloco em que o tricolor busca marcar.
Quando o Fluminense se defende em bloco médio/alto, Felipe é o volante entre as duas linhas de defesa da equipe, que atua no 4-1-4-1. Além de proteger as entrelinhas, o jogador tem a liberdade para avançar em zonas mais avançadas do campo, buscando se antecipar a um possível homem-livre na saída de bola adversária.
Já quando o Fluminense passa a se defender em bloco médio/baixo, o atleta se posiciona entre os zagueiros e a equipe passa a atuar num 5-4-1. Nos momentos em que o Fluminense enfrenta adversários com maior presença na área ou no último terço do campo, Felipe fica entre os zagueiros para gerar superioridade numérica no setor.
Normalmente atua na sobra de Nino e David Braz. Não gera o primeiro combate com os atacantes, mas sim busca se posicionar para confundir e defender a meta tricolor.
Uma outra variação tática menos usada, porém, que faz parte do repertório do Fluminense em 2022 é a utilização do 4-4-2. Normalmente esta formatação acontece quando Felipe Melo não está em campo e quando a equipe tem maior necessidade de marcar gols.
Essa formatação é mais utilizada quando a equipe possui dois jogadores de menor mobilidade para atacar. Quando a dupla de ataque é formada por Cano e Ganso, Fred ou William sobra atrás das duas linhas de quatro, o ponteiro de maior mobilidade precisa fechar a linha de meio campo e recompor o corredor lateral.
Nos raros momentos em que a formação em 4-4-2 é utilizada com Felipe Melo em campo, Yago Felipe é o homem encarregado para subir junto ao atacante de referência.
Subida de Pressão dos Volantes
A dupla de volantes tricolor André e Yago Felipe tem a missão de gerar incômodo a saída de bola adversária pelo corredor central. Os dois buscam subir pressão nos volantes rivais de forma coordenada: Enquanto Yago Felipe atua sobre o volante que recebe a bola, André busca orientação para se antecipar ao passe do opositor ou proteger a profundidade.
O gatilho de comando pode ser mudado caso André esteja mais avançado no campo ou mais próximo do adversário portador da bola, mas é possível enxergar que em poucos momentos a dupla sobe pressão juntos, muito por conta da necessidade de auxiliar Felipe Melo no entrelinhas.
Proteção do Corredor Lateral com William Bigode
Apesar de se posicionar em momento defensivo aberto pelo corredor lateral esquerdo, majoritariamente William não recompõe o setor para auxiliar Cris Silva quando o adversário chega próximo ao último terço. De modo geral, o atacante exerce pressão no zagueiro ou lateral que faz a saída pela esquerda e se mantém próximo a posição para participar das transições ofensivas.
Para compensar esse balanço, em muitos momentos Cris Silva busca se antecipar ao opositor que recebe passe nas costas de William subindo pressão e se desgarrando a linha defensiva. Esse movimento já gerou alguns problemas para a equipe, tendo como principal destaque o primeiro gol do Olimpia, na derrota tricolor no Paraguai que sacramentou sua eliminação na Libertadores.
Quando Cris Silva não faz esse movimento, um espaço é gerado e utilizado pelos adversários para trabalhar a bola com maior facilidade
Pelo lado direito, tanto Luiz Henrique, quanto Arias baixam bastante para proteger o lado do campo, facilitando o trabalho de Calegari. Assim o Fluminense consegue gerar maior proteção pela direita do que pela esquerda.
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Os problemas em bola descoberta do Fluminense
Antes de falar sobre bola descoberta é preciso explicar o conceito. O termo é utilizado para exemplificar situações em que o portador da bola recebe um passe sendo pouco constrangido. Ou seja, sem um opositor “cobrindo” suas linhas de passes.
A opção de utilizar Cano como atacante de referência e William pelo lado esquerdo até certa região do lado esquerdo faz com que o Fluminense não consiga pressionar com tanta agressividade a posse adversária. Isso gera situações de bola descoberta na linha de zagueiros adversários que, a princípio, é uma escolha de Abel.
É possível permitir que seu adversário tenha bola descoberta nas regiões mais distantes da sua meta e proteger a profundidade, caso seja atacado com bolas mais longas. Porém isso exige que a equipe consiga proteger com maior pressão as zonas mais próximas do gol. Seja pelo posicionamento dos atletas, como também pela sua orientação corporal.
Em especial na derrota para o Olimpia na Libertadores e nos jogos contra o Botafogo no Estadual o Fluminense teve bastante dificuldade para proteger sua área quando seus adversários trabalharam em bola descoberta.
Existem diversas situações pontuais que podem ocasionar em problemas defensivos quando não se pressiona tão bem a posse adversário, dado que no Flu isso pode ser explicado de maneira geral por dois fatores:
- A dificuldade de proteger o corredor lateral esquerdo em bloco médio/baixo com a presença de William. Não que o atacante não possa exercer essa função, mas ela faz mais sentido se a marcação for realizada num bloco mais alto. Onde o jogador precise realizar majoritariamente movimentos para frente, buscando pressionar seus adversários
- Má execução de movimentos de proteção em profundidade de alguns jogadores do Fluminense. Em destaque o zagueiro David Braz e o lateral-esquerdo Cris Silva
Transição Defensiva de Abel Braga
Após a perda da posse, o Fluminense de Abel Braga tem como gatilho de ação principal a recomposição de suas linhas defensivas. Em pouquíssimos momentos é possível identificar um pós-perda pressionante, ou seja, que busca retomar a posse da bola após perde-la.
Dado a opção do técnico tricolor, é possível também constatar que a equipe vem sofrendo alguns gols em transições ofensivas adversárias. Muito por conta das dificuldades dos defensores tricolores em conseguir proteger a profundidade e dificultar a finalização.
Bem como a perda de alguns duelos individuais entre marcadores do Fluminense e os atacantes adversários
Balanço Geral do Fluminense sem bola
Após avaliar o comportamento defensivo do Fluminense utilizando como base seus principais duelos na temporada 2022, é possível constatar que a equipe prefere ter uma postura menos agressiva sem bola, buscando proteger sua meta através de encaixes individuais por setor de seus defensores em regiões mais próximas do seu gol.
Quando concentrados, os jogadores conseguem defender sua meta de ataques adversários se impondo fisicamente e ocupando a maior parte dos espaços do campo de forma racional.
Contudo, a equipe possui alguns problemas sem bola que podem ser explorados como a dificuldade de proteção do corredor lateral esquerdo e de se proteger de bolas descobertas.