Para torcedores de outros times, ver reclamação do Flamengo de Renato Gaúcho é sinônimo de loucura. “Como assim, reclamar desse timaço?”; “Vocês são malucos! Ruim mesmo é meu time”.
Essas e outras frases são fáceis de serem escutadas em mesas de bar e lidas em grupos de WhatsApp e postagens nas redes sociais. Até mesmo nas nossas lives do Tática Didática também vemos estes comentários.
É claro que a torcida rubro-negra ainda é orfã de Jorge Jesus. O trabalho vitorioso de 2019 e 2020 deixou marcas. É necessário separar o joio do trigo, mas ao mesmo tempo ser justo: as análises do Flamengo de Renato Gaúcho, criticando a postura do time têm sentido.
Óbvio que o Flamengo não jogará como naquele período. Há muitos fatores que se modificam com o passar dos anos, mesmo com a base do elenco. O preparo físico não é o mesmo, o aspecto anímico também não. Os outros treinadores estudam mais profundamente o time e há um relaxamento natural de quem já ganhou tudo.
Mais detalhes no vídeo abaixo, feito pelo Tática Didática.
Colocar o time de Jorge Jesus como o espelho de como o time deve jogar é um erro. No Tática Didática sempre falamos sobre isso. O correto é colocá-lo como um parâmetro do que esse elenco pode produzir.
E, venhamos e convenhamos, hoje Renato Gaúcho tem um material humano melhor do que o português teve. É inconcebível um time com esse poder de fogo ter dificuldades contra sistemas defensivos mais fechados.
Contra o Cuiabá é preciso relevar. A estratégia toda da equipe foi jogar daquela maneira. E, taticamente, fizeram uma partida perfeita. Fecharam todos os espaços, mesmo com o ataque do Flamengo se movimentando. Agora, contra o Athletico não há justificativa. O time paranaense deixou espaços ao longo dos 90 minutos. A entrelinha, então, estava aberta o tempo todo.
Não dá para cravar se é um relaxamento do elenco rubro-negro. Mas algo errado não está certo, como diz a gíria popular. O time está apático, sem tesão. Há uma percepção de que os jogadores acreditam que podem ganhar a qualquer momento. E isso não vai ocorrer. Futebol de alto nível não se joga assim, como sempre falamos nos vídeos do Tática Didática.
Assistir Pedro dizer que o Flamengo “jogou de igual para igual” contra o Athletico é revoltante. Pode perguntar para qualquer torcedor paranaense. Todos, até o mais otimista, vão ser claros: “O Flamengo tem um time superior ao Athletico”. Quem tem que jogar de igual para igual são eles. Não o Flamengo.
É como se ao final de um Liverpool e Wolverhampton, Jurgen Klopp falasse que o Liverpool está de parabéns porque jogou de igual para igual contra um adversário inferior.
É óbvio que muitas respostas são pragmáticas e orientadas pela assessoria de comunicação. Mas se esse discurso estiver como realidade na cabeça dos jogadores, o Flamengo corre sérios riscos de não ganhar nenhum dos títulos que está disputando.
O Flamengo de Renato Gaúcho não tem que ser mágico como o de Jorge Jesus. O trabalho dele, enquanto técnico, é potencializar os jogadores para que eles encontrem, dentro de campo, formas de sair das dificuldades impostas pelo adversário.
Assim como o português fez em 2019.
E assim como equipes com o potencial técnico do Flamengo, ao redor do mundo, fazem. Qualquer coisa fora disso é decepcionante e configura um péssimo trabalho.