Análise: Flamengo sofre para furar bom bloqueio defensivo do Vasco
O Flamengo venceu o Vasco no clássico dos milhões da tarde do último domingo (06), pela 10ª rodada da Taça Guanabara. Apesar do bom resultado, o Mengão teve muitas dificuldades para atacar a defesa cruz-maltina.
Os comandados de Zé Ricardo tiveram uma boa jornada sem bola e quase saíram do Engenhão com o empate. Isso fez como que o Fla de Paulo Sousa tivesse muitas dificuldades para furar o bloqueio defensivo vascaíno.
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Paulo Sousa testa Bruno Henrique como referência no ataque do Flamengo
Desde que a bola rolou no clássico, rapidamente foi possível constatar uma mudança de Paulo Sousa na organização do Flamengo em campo. O Mister optou por escalar Bruno Henrique como o homem de referência no ataque rubro-negro. Dessa forma, Gabi atuou partindo do lado esquerdo do campo e Arrascaeta pelo lado direito.
A equipe se organizou defensivamente no já habitual 4-3-3, no qual Gabi teve maiores responsabilidades defensivas fechando o lado direito do campo. Eventualmente, o Príncipe da Gávea acompanhou as subidas do lateral esquerdo vascaíno Edimar e o ponta Riquelme. Assim, às vezes, formava uma linha de quatro no meio de campo junto aos outros três meias: Arão, Andreas e Everton Ribeiro.
Em relação ao momento com bola, a ideia era explorar a velocidade de BH em atacar as costas da defesa adversária com passes em profundidade. Além disso, o atacante tem bom aproveitamento nos duelos aéreos, seja nas bolas paradas ou nos cruzamentos de Gabi próximo à área.
Por coincidência, foi dessa maneira que o Flamengo abriu o placar. Em cobrança de escanteio, Arrascaeta cruzou bola baixa no 1º pau. Arão teve sorte de sobrar com a bola após dividida com defensor cruzmaltino e cruzou na cabeça de Filipe Luís. O lateral esquerdo só teve o trabalho de desviar para o gol e marcar o primeiro gol do Mengão aos 10 minutos. 1×0.
Vasco impõe dificuldades ao ataque do Flamengo
Apesar do gol no início do jogo, o panorama pouco mudou durante a primeira etapa. Enquanto o Flamengo tinha dificuldades para transformar sua posse no campo ofensivo em oportunidades de finalização, por outro lado o Vasco não conseguia chegar próximo ao último terço em suas posses.
E isso pode ser explicado pelas ideias de Zé Ricardo com e sem bola. Em organização defensiva, a equipe conseguiu bloquear com eficiência as maneiras nas quais o Flamengo busca acionar Gabi e Arrascaeta.
A princípio Getúlio foi escalado como a referência no ataque do Vasco, mas no momento sem bola o atacante se tornava um meia junto a Zé Gabriel e Juninho. Nenê marcava a saída de bola do Flamengo. O trio tinha o objetivo de gerar superioridade numérica na região em que Arão e Andreas trabalhavam com bola, realizando subidas de pressão coordenadas e impedindo que a bola chegasse limpa para a dupla de volantes.
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Os pontas Gabriel Pec e Riquelme realizaram perseguições individuais nos alas Rodinei e Everton Ribeiro. Como resultado, em muitos momentos era possível enxergar uma linha defensiva vascaína com seis jogadores, dado as subidas para o ataque da dupla rubro-negra. Por fim, Léo Matos e Edimar eventualmente marcavam Arrascaeta e Gabi quando recebiam a bola.
Com esses encaixes definidos, o Flamengo não conseguiu gerar dinâmicas para encontrar o trio de ataque. A equipe chegava próximo ao último terço, mas a lenta troca de passes e as poucas movimentações faziam a equipe se tornar previsível e facilmente anulada. Logo, o trio de zaga rubro-negro se viu forçado a realizar ligações diretas, seja buscando os alas, como Bruno Henrique.
Apesar das dificuldades com bola, Vasco encontra gol no início da segunda etapa
Se sem bola o Vasco deu trabalho ao Flamengo, com bola também teve muitas dificuldades. Em organização ofensiva a equipe trabalhou em 4-4-2/4-2-3-1 que teve muita trabalho para sair com a bola, dada a pressão rubro-negra. Com isso, as posses vascaínas ou se concluíam em passes longos ou na perda da bola.
Mesmo assim, o Vasco terminou a primeira etapa criando duas chances de gol. Após cobrança de escanteio, Hugo fez grande defesa em cabeçada de Zé Gabriel. E David Luiz interceptou no limite o passe de Riquelme, que encontraria Getúlio livre na grande área.
E começou a segunda etapa achando seu gol de empate.
Logo aos seis minutos, após perda de posse de Andreas Pereira, Filipe Luís buscou antecipar e Juninho e também perdeu o duelo individual. Gabriel Pec foi acionado pelo lado direito em velocidade e enfrentou David Luiz. O zagueiro optou por proteger a profundidade ao invés de encurtar a distância com seu opositor. A opção permitiu que o atacante vascaíno acertasse um chute de rara felicidade na entrada da área para empatar o jogo. 1×1.
Paulo Sousa promove mudanças ofensivas sem mexer na estrutura ofensiva da equipe
Após sofrer o empate, Paulo Sousa passou a mexer em alguns peças da equipe, porém manteve a mesma organização ofensiva. Inicialmente, Vitinho e João Gomes entraram nos lugares de Everton Ribeiro e Andreas. A dupla atuou no mesmo setor, mas com características diferentes. O meia-atacante entregou maior profundidade ao lado esquerdo, já o volante entregou maior combatividade ao meio de campo.
Ainda assim, o Flamengo seguia com dificuldades para encontrar seu trio de frente em zona de finalização. Então o Mister decidiu por trazer Pedro a campo e ganhar uma referência que fixasse mais os zagueiros na área. Ele e Rodinei entraram nos lugares de Arão e Matheuzinho.
Com as novas mudanças, Arrascaeta passou a atuar mais próximo de João Gomes e Bruno Henrique no setor direito.
Nesse meio tempo, Zé Ricardo também fez mudanças no Vasco. Raniel já havia entrado no lugar de Getúlio para realizar perseguições a Arrascaeta na zona de volantes. O técnico vascaíno seguiu trazendo peças mais descansadas e ofensivamente mais perigosas, buscando agredir o Flamengo em contra-ataques.
Figueiredo e Luiz Henrique entraram para atuar nos respectivos lugares de Riquelme e Juninho. Logo depois, Andrey Santos entrou no lugar do extenuado Zé Gabriel e o jovem Jhon Sánchez no lugar de Pec.
O Vasco seguiu se defendendo numa espécie 6-3-1 buscando proteger os corredores laterais com os pontas baixando cada vez mais na linha defensiva e com os laterais encaixando nos dois atacantes do Flamengo mais distantes da área. Com isso, o Flamengo pouco produziu além das bolas longas de David Luiz para Rodinei e das bolas paradas.
Arrascaeta encontra chute raro e garante a vitória para o Flamengo
Com pouquíssimo perigo defensivo, Paulo Sousa fez sua mudança final mantendo a estrutura ofensiva em 3-4-2-1. Entretanto, com peças que possuem dinâmicas diferentes. Marinho entrou no lugar de Fabrício Bruno para atuar na ala direita, fazendo com que Rodinei passasse a ser um zagueiro.
Apesar de atuar mais alinhado a linha de defesa, Rodinei tinha liberdade para avançar pelo corredor e acionar Marinho em amplitude. Do lado esquerdo, Filipe Luís também tinha essa liberdade para acionar Vitinho pelo lado esquerdo.
E com essa dinâmica o Flamengo chegou à vitória contra o Vasco aos 44 minutos da segunda etapa. Em jogada que se iniciou com Filipe Luís, Vitinho recebeu pela esquerda e atraiu a dobra de Andrey Santos. Arrascaeta conseguiu receber com liberdade próximo a grande área. O uruguaio tomou pouquíssima distância e acertou um belo chute de fora de área para o fundo do gol. 2×1.
Apesar da vitória, Flamengo precisa evoluir em dinâmicas ofensiva
Antes de mais nada, vencer um clássico nos últimos minutos é motivo de alegria para o torcedor. Mas para Paulo Sousa o jogo precisa servir de alerta para alguns ajustes na temporada. A equipe precisa criar dinâmicas para conseguir furar um adversário mais fechado, trabalhando de forma mais coordenada o jogo entre o corredor lateral e o central.
Por exemplo: dinâmicas de 3º homem entre o zagueiro, o ala e o volante do setor, buscando encontrar os atacantes por dentro. Maior rapidez das inversões de bola buscando encontrar o ala numa situação de 1×1 contra o adversário.
Mas, além disso, alguns jogadores precisam evoluir na assimilação das ideias de Paulo Sousa. Em especial a dupla Arão e Andreas. Os volantes precisam gerar mais dinâmicas de desmarque para facilitar o acionamento dos meias e atacantes por dentro.
Isto posto, ainda é cedo para cobrar um Flamengo pronto para os desafios de 2022. Ainda é início de temporada e o espaço para testes e erros é exatamente nesse momento. Contudo, continuidade é diferente de continuísmo.
Em suma: é possível constatar os erros e encontrar soluções mantendo o planejamento pré-estabelecido, visando o início do Campeonato Brasileiro e da Taça Libertadores da América.
(Errata: Leia-se Hugo na posição de goleiro nos campinhos onde Diego Alves)
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