Por Jeff Farah
Após falar do resultado e da receita, vamos para o terceiro post da análise do Balanço 2020 do Flamengo aqui no MRN e no meu Twitter. Chegou a vez de falar sobre os gastos. Então vamos a uma análise horizontal e vertical de diversas despesas e custos. Abordarei também a folha do futebol.
Antes de entrar na análise uma explicação conceitual. Você sabe a diferença entre custo e despesa?
Custos = gastos relativos às atividades-fim, no caso, competição esportiva (exemplo: salário jogadores, jogos).
Despesa = gastos não relacionados com atividade-fim (administrativa, comercial).
Assim como nas receitas, a primeira análise é uma comparação horizontal, ou seja, o comportamento histórico dos gastos (despesas + custos).
Do mesmo autor: A análise das receitas no balanço de 2020 do Flamengo
Abaixo, apresento a série desde 2010 em valores atualizados para 2021. Como podem observar, houve um salto nos gastos a partir de 2017.
Abaixo, um comparativo do crescimento ou decréscimo entre os gastos do Flamengo, em valores de 2021, de um ano com o imediatamente anterior. Como pode se observar, mais uma vez, o patamar se eleva a partir de 2017. É o retrato do salto de qualidade que começamos a ver no time.
Parte da queda dos gastos em 2020 foi causada pelo fato do regime contábil ser de competência (leia mais aqui). Assim, como a temporada só terminou neste ano, parte dos gastos (e da receita) somente serão lançados no balanço de 2021.
Como seria o comportamento dos gastos se a temporada de 2020 tivesse sido encerrada no próprio ano? Abaixo, trago três visões distintas sobre o comportamento dos gastos (por isso que, muitas vezes, análises distintas mostram números diferentes). No 1°, o ano de 2020 ajustado.
Ainda sobre o gráfico anterior, em qualquer critério se observa uma queda de 2020 em comparação com 2019, o que demonstra que a diretoria fez o dever de casa reduzindo gastos. Porém, não foi suficiente para evitar o alto prejuízo. Então, vamos acompanhar como gastamos e o q reduziu.
O principal gasto é com o time de futebol. Em média, o custo com a folha do futebol representou, entre 2013 e 2020 (com acréscimos de receitas que, pela prorrogação da temporada, só serão registradas em 2021):
Ainda sobre o custo da folha do futebol, observa-se uma elevação percentual em 2020. Como a incerteza era enorme (ainda é), é natural que não se cortasse de imediato em nossa principal atividade. Mas, se não houver reversão no cenário da pandemia pode ser que seja necessário reduzir.
Abaixo, dois gráficos mostrando a composição dos gastos: custo (atividade-fim), despesas administrativas, comerciais e financeiras (juros).
Não deixe de ler:
O principal corte foi feito na área administrativa, mais especificamente na folha de pessoal administrativo, com um corte de 44%.
Segue a composição do custo operacional do Flamengo. Como já visto, trata-se dos gastos com a atividade de competição esportiva.
O maior é justamente a folha salarial, seguido por amortização que não envolve saída de caixa (vou explicar melhor em outro post) e, então, direito de imagem.
Em relação às despesas operacionais (comerciais ou administrativas), a principal é provisão para contingência que se trata apenas de um lançamento contábil (sem saída de caixa) e demonstra o aumento da “reserva para emergências”. Em seguida, a folha dos funcionários administrativos.
Ainda nas despesas operacionais, trago a evolução de 2019 para 2020 das principais. Nota-se que o grande corte, considerando a relevância da despesa vista acima, foi na folha de pessoal da administração, com a já mencionada redução de 44%.
Por fim, temos as despesas financeiras. Como se observa no gráfico abaixo, foi a desvalorização da moeda nacional a grande vilã do acréscimo. Houve ainda aumento nos juros pagos pelo Flamengo. O assunto será melhor explorado quando abordar o endividamento do clube.
Como todos, as contas do Flamengo também foram afetadas pela pandemia do Covid. Como consequência, a diretoria enxugou a folha de funcionários da administração. Mas, não tomou nenhuma medida drástica em relação à folha do futebol, até porque as incertezas eram e ainda são enormes.
Foi a responsabilidade fiscal assumida lá atrás que nos elevou de patamar. 2020 ainda não era momento de fortes cortes, mas é preciso manter a disciplina. Não podemos manter o elevado prejuízo em 2021 sob pena de atrasar contas e prejudicar o rendimento esportivo.