Análise: Associação x SAF

03/12/2024, 20:09
11 mins
SAF no Flamengo

CONTEXTUALIZAÇÃO: Caros rubro negros e associados com direito a voto, na data 01/12/2024 o César Grafietti, especialista em análises financeiras, publicou artigo sobre a possível intenção de Floriano Perez, presidente do Real Madrid, em transformar o modelo associação sem fins lucrativos para clube empresa.

Esse artigo foi repercutido no perfil do twitter do Marcos Motta, apoiador da candidatura de BAP à presidência do Flamengo. Assim segue minha análise tentando analisar o tema sob a ótica dos diversos players interessados pelo tema SAF, com uma contextualização da indústria do futebol e a minha conclusão sobre a visão que o Flamengo deve adotar em relação a associação sem fins lucrativos versus o modelo de SAF.

Introdução

O Flamengo é um clube regido sob a égide de uma associação sem fins lucrativos, assim o seu resultado financeiro anual é incorporado ao seu patrimônio líquido, ou seja, o Flamengo deve buscar o resultado desportivo com responsabilidade financeira.

A situação financeira em que o clube se encontrava no início da gestão de Eduardo Bandeira de Mello em janeiro de 2013 era tão perigosa e até desconhecida, que foi necessária a contratação da Ernst & Young para aferir os indicadores financeiros do Flamengo quando do início da gestão de Eduardo Bandeira de Mello.

A dívida apurada (do final do exercício de 2012) era de aproximadamente 750 milhões de reais e a receita total de aproximadamente 212 milhões de reais.

A gestão de Eduardo Bandeira de Mello

A gestão de Bandeira de Mello empreendeu uma série de reformas estruturantes que ancoraram o clube para os anos seguintes, cito algumas1 :

  1. Obtenção das CNDs (Certidões Negativas de Débitos), que possibilitou ao clube auferir recursos de orígem pública, por exemplo verbas de incentivo fiscal a fim de custear os esportes olímpicos.

  2. Contratação da consultoria Ernst & Young a fim de diagnosticar a real situação financeira do Flamengo e sugerir planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo.

  3. Saída do Ato trabalhista em novembro/2017, que correspondeu ao fato do Flamengo atestar possuir condições de amortizar dívidas com credores, sem a obrigatoriedade de estar consignado no Ato trabalhista.

  4. Adesão à lei do PROFUT em 2015, com contrapartidas pelo Flamengo, foi possível escalonar o pagamento do passivo de dívidas tributárias por um período de 20 anos.

  5. Incorporação, no estatuto do Flamengo, em 2015, dos artigos relacionados à responsabilidade financeira, mais conhecida como LRFRN – Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro-Negra. A responsabilidade fiscal era uma das três dimensões da proposta de reforma estatutária que a diretoria liderada por Eduardo Bandeira de Mello protocolou no Conselho Deliberativo em 2013, as outras duas dimensões eram a governança corporativa e propostas para ampliação do quadro associativo com direitos políticos. Entretando essas duas outras dimensões da proposta de reforma estatutária batizada por CCF-Conte Comigo Flamengo não foram postas pela direção do CoDe à avaliação pelo plenário do CoDe no período de 2013 a 2018.

  6. Investimento em infraestrutura na sede social (nova piscina olímpica de ponta -Myrtha, novo Dojô, reforma da piscina olímpica que apresentava grande vazamento de água, inauguração do projeto CUIDAR, inauguração final dos 2 módulos do CT George Helal no final de 2018).

  7. Entre 2013 a 2016, os investimentos em contratação de jogadores foram quase nulos, a prioridade estava na reestruturação do fluxo de caixa, na redução da dívida, no alongamento da dívida tributária (adesão ao PROFUT com contrapartidas) e aumento da receita. A partir de 2017 tiveram início os investimentos mais vultosos em contratação de jogadores.

  8. O contrato de direitos de transmissão para o ciclo 2019 a 2024 foi extremamente positivo para o Flamengo pela cláusula de mínimo garantido do pay per view. Luvas desse contrato foram garantidas para a gestão seguinte, de Landim.

  9. Primeiras grandes vendas de jogadores da base, Vinícius Júnior e Paquetá, este último com forte entrada de recursos já na gestão seguinte, de Landim.

  10. Contratação de consultorias especializadas na prevenção de lesões (Exos) e scout de avaliação de jogadores (Double Pass).

  11. Acordo da reforma do edifício do morro da Viúva com a construtora RJZ Cyrela, o Flamengo tendo posse, à época, de 44 unidades do edifício reformado.

Esse legado da gestão de Eduardo Bandeira de Mello de 2013 a 2018, propiciou ao Flamengo o incremento de receitas, a redução das dívidas, o alongamento do pagamento das dívidas tributárias e o aporte de investimentos em infraestrutura do clube, com destaque para o Centro de Treinamento George Helal.

A gestão Rodolfo Landim

Durante a gestão de Landim foi possível alto investimento em contratações de jogadores já a partir de 2019. A contratação do técnico Jorge Jesus no meio da temporada de 2019, após o mal desempenho de Abel Braga, foi um acerto de tal magnitude que reposicionou todo futebol brasileiro, numa espécie de encontro com o futebol moderno. 

Os clubes brasileiros passaram a investir em comissões técnicas estrangeiras. Em relação aos indicadores financeiros, houve constante evolução, atestada pelo relatório anual da consultoria Convocados2, onde foi criado um indicador de nota de Rating, que é um cálculo ponderado com base em indicadores financeiros de três dimensões, que são:

  1. Geração de caixa
  2. Alavancagem
  3. Investimentos 

Constatou-se que dos clubes de maior torcida do Brasil, o Flamengo é o que apresentou a a melhor nota de Rating, tanto no ano-exercício de 2022, quanto no de 202. Esse indicador corresponde à saúde financeira dos clubes.

Apesar do Flamengo apresentar a melhor saúde financeira dos clubes do Brasil, observou-se uma série de trocas de treinadores na gestão Landim, evidenciando a baixa eficiência operacional no Departamento de Futebol, ainda gerido sob a tutela de um vice-presidente estatutário, cuja dedicação não é exclusiva, ou seja, não se dá na forma de tempo integral e profissionalizada.

Constata-se um ambiente mundial do futebol em que se requer cada vez mais dedicação exclusiva e profissionalizada às atividades:

  1. Fim (o futebol propriamente dito);
  2. Meio (atividade de captação de recursos, o marketing, a comunicação e o comercial)
  3. Atividades de apoio (jurídico, financeiro, recursos humanos, tecnologia da informação, compliance, processos etc.) 

A criação da Lei das SAFs

Durante a Gestão Landim transcorreu a pandemia da COVID19 que impactou no mundo inteiro, impactando todos setores econômicos, dentre eles a indústria do futebol, mais especificamente nos anos de 2020 e 2021, afetando em especial as receitas de matchday e de sócio-torcedor.

A crise financeira em que já se encontravam muitos clubes do Brasil se agravou, talvez aumentando a demanda pela aprovação da lei das SAFs, que foi promulgada no ano de 2021. Essa lei prevê, em relação às dívidas trabalhistas e cíveis das associações sem fins lucrativos, acordos com os credores através dos institutos de:

  1. RCE – Regime Central de Execuções
  2. Recuperação Judicial
  3. Recuperação Extrajudicial

Assim, com esses instrumentos de acordos com credores, as dívidas das associações sem fins lucrativos tiveram um forte deságio. Nessas associações sem fins lucrativos, a sua atividade do futebol passou a ser propriedade das SAFs, bem como a expectativa que a atividade do futebol passasse a ser gerida de forma profissionalizada.

Alguns objetivos estratégicos de investidores no futebol

Alguns investidores dos clubes do Brasil, também são investidores em outros clubes pelo mundo, o que se conhece como rede MCO – Multiclub Ownership (multi propriedade de clubes), uma tendência no futebol mundial. 

O objetivo do investidor pode variar desde a ser um investidor para a prática da estratégia de soft power (fundos soberanos árabes3), cuja intenção é melhorar a imagem do país, de uma maneira geral conhecidos pela violação de direitos humanos.

O investidor pode ter também, como principal meta, o retorno dos dividendos e a valorização do ativo em detrimento do compromisso pelas conquistas de títulos, caso por exemplo do Manchester United, no período em que foi propriedade da família Glazer4.

Outra motivação pode ser abarcar um clube da rede MCO num país sem regulamentação de sustentabilidade financeira, e assim boa parte do prejuízo contábil da rede é alocado ao clube da rede onde não há regra de sustentabilidade financeira. O caso do Botafogo-SAF é um exemplo ilustrativo dessa estratégia. Ainda assim, o Lyon, principal clube da rede de propriedade do grupo Eagle (a flagship, nome que se dá ao principal clube de uma rede COM), está sendo punido na França por infringir regras de sustentabilidade financeira.

Em suma, os investimentos no Botafogo-SAF não têm lastro na geração de caixa do clube e tendem a gerar uma bolha de investimento no Brasil, uma vez que os demais clubes, para que possam ter competitividade, precisarão investir mais, alguns até sem o lastro na geração própria de caixa.

A estrutura de captação de recursos para compor a geração operacional de caixa na indústria do Futebol

A origem de recursos da operação do dia a dia na indústria do futebol se enquadra em três grandes correntes de receitas recorrentes e uma grande fonte de receita não recorrente.

Direitos de transmissão

Na Europa constata-se a tendência de atingimento de um platô dessas receitas, tanto nos direitos de transmissão internacionais, quanto nos domésticos5.

A realidade no Brasil é anacrônica em relação à Europa pelo simples fato de não haver uma liga com a autonomia para captar recursos e distribuí-los conforme regras acordadas entre os interessados, bem como desenvolver a qualidade do produto, o Campeonato Brasileiro, aprimorando dimensões como:

  1. Calendário justo
  2. Quadro de arbitragem profissionalizado
  3. Desenvolvimento de ativações do campeonato brasileiro em países que se julgue relevante internacionalizar o campeonato etc. 

Essas ações aumentarão o valor do campeonato brasileiro, a captação de recursos, e por conseguinte a distribuição dos mesmos aos clubes que assim passarão a auferir maiores receitas de direitos de transmissão.

Em outras palavras, há potencial para aumento, no futuro, das receitas do Flamengo em direitos de transmissão pela perspectiva de instituição de uma liga para o Campeonato Brasileiro.

Matchday e sócio-torcedor 

Na Europa observa-se investimento em novos estádios que fará com que possam explorar melhor os ativos e aumentar as receitas.

César Grafietti menciona6 o aumento nas receitas anuais com o novo Santiago Bernabeu do Real Madrid de 175 milhões de euros para 325 milhões de euros anuais. 

O Flamengo estima receitas recorrentes com o novo estádio na ordem de R$ 659 milhões ao ano. Em outras palavras, há potencial para aumento nas receitas com estádio no futuro. Quanto ao programa de sócio torcedor, há evidente potencial de aumento de adesões e retenção ao programa, através do foco em relacionamento com o torcedor e não em um mero programa de prioridades e descontos para compra de ingressos.

Patrocínios e licenciamentos

Na Europa observa-se um potencial para aumento real nessa corrente de receitas recorrentes, no Flamengo há potencial para exploração dessa fonte de receitas, especialmente por conta do estádio, também pelo canal próprio de distribuição de conteúdo próprio, a OTT (Over The Top) do Flamengo.

Receita não recorrentes de vendas de torcedores

Há potencial para o Flamengo aprimorar seu scout na captação de jogadores de base, bem como no processo de formação desses jovens, a fim de que o atleta, ao atingir o alto nível, possa propiciar o retorno do investimento do Flamengo.

Por informação em reunião do Conselho Deliberativo do Flamengo, a cada um real investido na base, o retorno ao clube é de 4,1 reais, com base na média de investimentos e receitas da atividade de futebol da base nos últimos anos. No último triênio, de 2021 até 2023, houve drástica redução de investimento na base, passando de 54 milhões de reais em 2021 para 16 milhões de reais em 2023, de acordo com o Relatório Convocados.

Análise do aspecto de valor (valuation) da Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF

A metodologia comumente utilizada para cálculo do valor de uma empresa é o fluxo de caixa descontado. Ocorre que para a indústria do futebol essa metodologia é imprecisa porque o desempenho desportivo ano a ano não é garantido.

Há a proposta da fórmula de Markhan, que se baseia em indicadores financeiros7, 8. Pode-se admitir que o valor de um clube é um múltiplo da sua receita, sendo esse múltiplo um indicativo da saúde financeira do clube. Admitamos, para simplificar, a aplicação de que o valor do Flamengo é um múltiplo da sua receita.

Conforme mencionado nas fontes de receita da indústria do futebol, a perspectiva para o Flamengo é de aumento real de receitas nas três correntes de receitas recorrentes e na receita não recorrente de venda de jogadores.

  • No direito de transmissão, quando for criada a Liga, a perspectiva é pelo aumento de receita do Flamengo.

  • No matchday e sócio-torcedor, o próprio Flamengo estimou receitas recorrentes com o novo estádio da ordem de R$ 659 milhões ao ano. No sócio-torcedor, o programa tem evidente potencial de crescimento na proposta de um programa de relacionamento e não um mero programa de descontos e prioridades em compra de ingressos.

  • Nos patrocínios e licenciamentos, o fortalecimento da marca, a geração de conteúdo próprio, a distribuição própria desse conteúdo via OTT, as estratégias de engajamento com o torcedor, são ações que evidenciam a perspectiva de crescimento nas receitas nessa fonte.

  • Nas vendas de jogadores da base, a profissionalização do Departamento de futebol propiciará um aumento na eficiência operacional, através da captação de atletas por scout profissionalizado, melhoria nas rotinas de desenvolvimento dos atletas da base, bem como a retomada de aportes de investimentos no futebol de base.

O valor atual do Flamengo está aquém do platô de valor que pode atingir em virtude da perspectiva latente de aumento de receitas. 

Ou seja, uma venda da atividade do futebol do Flamengo para um terceiro acarretará uma perda de patrimônio, em outras palavras, uma transferência do patrimônio do Flamengo para terceiros.

Análise da Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF, sob o aspecto da governança:

Durante a gestão de Eduardo Bandeira de Mello foi elaborada a proposta de reforma estatutária, a CCF- Conte Comigo Flamengo9, que incorporava três dimensões:

  1. Responsabilidade financeira
  2. Governança Corporativa e 
  3. Ampliação do quadro associativo com direitos políticos

A proposta foi protocolada no Conselho Deliberativo ainda em 2013. Em 2015, os artigos correlacionados à responsabilidade financeira foram desmembrados da CCF ao passo da promulgação da lei do PROFUT a qual o Flamengo aderiu com as devidas contrapartidas. 

Esses artigos da responsabilidade financeira foram inseridos no estatuto do Flamengo em 2015, conhecida como LRFRN-Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro Negra.

Em relação às dimensões de governança corporativa e ampliação quadro associativo com direitos políticos, não foram abarcadas pela direção do Conselho Deliberativo no período de 2013 a 2018. Desde então essas duas dimensões permanecem sem desenvolvimento.

A implantação da governança corporativa é requisito imperativo para que a profissionalização do Flamengo, como associação sem fins lucrativos, ocorra de forma sustentável e perene.

Assim, dizer que a associação somente se profissionalizará sob a égide de uma SAF é indevido, pois através de uma reforma estatutária a associação sem fins lucrativos passaria a incorporar a governança corporativa e o regime profissionalizado teria segurança estatutária e perenidade.

Análise de Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF, sob o aspecto da concentração de poder versus ampliação da participação do associado

Durante o período de 2019 até 2024 nenhum novo título de sócio proprietário foi disponibilizado à venda pela diretoria do Flamengo.

Conforme mencionado, uma das dimensões da CCF era justamente a ampliação do quadro associativo com direito a voto. Assim, há necessidade da associação estimular o aumento da sua democracia, seja pelo aumento do quadro associativo, através do voto à distância, até por eleições no final de semana e não num dia útil da semana.

Somente através dessas ações seria possível algum tipo de comparação se a concentração de poder que uma SAF impõe seria mais benéfica que uma ampliação do poder com a ampliação do quadro associativo.

Destaque-se que o quadro de associados com direito a voto no Real Madrid atualmente está em 94 mil associados, ao passo que no Flamengo está em 6 mil associados. Acrescento uma matéria jornalística de Irlan Simões10, onde há um detalhamento da quantidade de votos apurados em uma série de clubes pelo mundo. 

 

CLUBE

PAÍS

QUANTIDADE DE VOTOS APURADOS

ANO DA ELEIÇÃO

River Plate

Argentina

19833

2021

Fenerbahce

Turquia

20736

2018

Sporting

Portugal

22400

2018

Atlético de Bilbao

Espanha

23506

2022

Internacional

Brasil

29796

2023

Real Madrid

Espanha

33116

2000

Al Ahly

Egito

34930

2017

Benfica

Portugal

40115

2021

Boca Juniors

Argentina

46402

2023

Barcelona 

Espanha

57745

2010

Flamengo

Brasil

2002

2021

Análise do grau de transparência em relatórios de gestão de algumas SAFs pelo Brasil

RedBull Bragantino é um clube empresa que foi criado antes da lei das SAFs em seus relatórios de gestão. Apõe como patrocínio aportes de capital do sócio majoritário.

No caso do Botafogo-SAF está informado no relatório da Convocados (2023), que a dívida do Botafogo Associativo somada ao do Botafogo-SAF está acima de R$ 1,3 bilhão de reais.

No caso do Vasco-SAF, o Vasco Associativo, ao constatar que o investidor 777 Partners sofre uma série de ações internacionais, conseguiu através de decisão da justiça do Brasil retomar o controle da SAF.

Tal decisão da Justiça brasileira tem potencial para gerar um risco jurídico na lei das SAFs. No caso do Cruzeiro-SAF, houve a venda secundária do controle de Ronaldo Fenômeno para o empresário Pedro Lourenço, dono dos supermercados BH. Antes dessa venda, os recursos de 96,4 milhões reais da Liga Forte União que o Cruzeiro-SAF recebeu pela venda de 10% das receitas de direitos de transmissão por 50 anos foram repassados para a Cruzeiro-SAF, ainda sob gestão de Ronaldo.

Análise de Associação sem Fins Lucrativos versus SAF, sob a ótica do clube social e dos esportes olímpícos

Nos balanços anuais do Flamengo, as atividades do clube social e dos esportes olímpicos são deficitárias. São subsidiadas pela geração de caixa da atividade do futebol. Sob a égide de uma SAF haverá a cisão do futebol das demais atividades.

Análise de Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF, sob a ótica de novos processos e tecnologias orindas das constantes inovações tecnológicas

No caso de uma SAF, a associação sem fins lucrativos estaria sem a posse da gestão desses ativos relacionados às atividades do futebol, em outras palavras, esse patrimônio estaria sendo transferido ao sócio majoritário da SAF.

Análise de Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF, sob a ótica do interesse público do Flamengo

O Flamengo é uma instituição de enorme interesse público ao redor do território nacional. Caso permaneça gerido sob a égide de associação sem fins lucrativos, há possibilidade de um torcedor, ao passar a integrar o quadro associativo com direitos políticos, participar das decisões estratégicas da associação.

Em uma hipotética SAF, o torcedor ficará definitivamente afastado desse processo de decisão, que passaria a estar restrito aos conselheiros do Conselho de Administração da SAF, nomeados conforme a composição acionária da SAF.

Análise de Associação Sem Fins Lucrativos versus SAF, sob a ótica do investidor

Para o investidor, a atividade do Futebol é um meio para desenvolver seus interesses particulares. Alguns agrupamentos de investidores que podemos listar:

Investidor para desenvolver a estratégia de “soft power”, que corresponde a uma espécie de tentativa de melhorar sua imagem na região onde está investindo. Esses investidores são os fundos soberanos árabes;

Investidor que entra no futebol para ter retorno financeiro em especial por valorização do ativo para uma revenda futura

Investidor, através de redes MCOs, que assim podem aportar recursos em clubes em países sem regras de sustentabilidade financeira. Propiciam um derrame de recursos sem lastro na geração de caixa. Produzirão déficit nesse clube, mas posteriormente poderão negociar os jogadores contratados para outros clubes da rede onde há a regra de sustentabilidade financeira e assim promovem uma bolha de investimento no país sem a regulamentação, provocando uma possível onda de investimentos por outros clubes para poderem competir com aquele que provoca a bolha, este exemplo se encaixa no Botafogo-SAF.

Conclusão

Diante do exposto, a opção que o Flamengo deve seguir pelo modelo de associação sem fins lucrativos com governança corporativa e gestão profissionalizada, bem como ampliação do quadro associativo com direitos políticos em evidente oposição à concentração de poder que é uma consequência do modelo SAF. 

Até que sejam exauridas todas alternativas de desenvolvimento de ativos de propriedade do Flamengo, enquanto associação sem fins lucrativos, a cessão desses ativos a uma SAF corresponde à transferência de patrimônio do Flamengo associativo a um terceiro com interesse privado.

 

Referências bibliográficas:

1-Livro “Paixão e sucesso, a gestão que transformou um clube” , autores: Pedro IoottY, Fábio Giambiagi e Rodrigo Madeira

2- Relatório anual da consultoria CONVOCADOS, de análise financeira do balanço anual dos clubes das séries A e B do campeonato brasileiro. Análise do indicador Rating, Páginas 113 a 116

3- https://www.playthegame.org/news/the-saudis-in-sport-ambitions-much-larger-than-sportswashing/

4- https://trivela.com.br/inglaterra/premier-league/manchester-united-ratcliffe-premier-league/

5- https://www.infomoney.com.br/colunistas/cesar-grafietti/a-liga-de-clubes-e-os-direitos-internacionais/

6- https://inteligenciafinanceira.com.br/mercado-financeiro/negocios/real-madrid/

7- Livro “The price of football” , autor Kieran Maguire, páginas 163 a 179

8- A reestruturação financeira do clube de Regatas do Flamengo e seu impacto sobre o Valuation”, por Breno Moutinho Grossi Miranda (TCC)

9-Livro “Paixão e sucesso, a gestão que transformou um clube” , autores: Pedro IoottY, Fábio Giambiagi e Rodrigo Madeira , páginas 135 a 147 

10- https://ge.globo.com/blogs/blog-do-irlan-simoes/post/2023/12/20/o-que-as-eleicoes-gigantes-de-inter-e-boca-juniors-dizem-sobre-o-futuro-dos-demais-clubes.ghtml

 

Maurício Cardoso Couto, sócio proprietário do Flamengo, conselheiro do Conselho Deliberativo do Flamengo e integrante da chapa-2 de Maurício Gomes de Mattos na lista do corpo transitório do Conselho de Administração.