Análise: Após início parelho, Flamengo domina Vasco e se classifica à final
Após vencer o Vasco em duas oportunidades em 2022, o Flamengo completou a trinca de vitórias contra seu maior rival no último domingo (20) e carimbou sua vaga à final do Campeonato Carioca.
O Mengão teve dificuldades iniciais para lidar com uma postura vascaína mais agressiva, mas conseguiu tomar as rédeas da partida e venceu o segundo jogo válido pela semifinal da competição.
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Vasco equilibra 25 minutos iniciais contra o Flamengo
Com a desvantagem no placar, o Vasco iniciou o terceiro duelo contra o Flamengo em 14 dias com uma postura diferente. Ao invés de trabalhar em bloco médio/baixo para se proteger do Mengão com bola e eventualmente atacar em transições ofensivas, a equipe de Zé Ricardo buscou reter a posse e marcar mais alto a saída de bola rubro-negra.
Inicialmente com Nenê mais avançado, Raniel à direita e Figueiredo à esquerda, o Vasco procurava gerar igualdade numérica no setor e forçar erros rubro-negros. João Gomes e Arão também sofriam a pressão de Juninho e Zé Gabriel.
O resultado dessa postura mais agressiva vascaína gerou um equilíbrio inicial na partida, fazendo com que o Flamengo não conseguisse ter posses longas neste período do jogo. Tanto pela pressão vascaína, quanto por problemas de execução em organização ofensiva.
Retomando a posse, o Vasco buscava rapidamente atacar pelos lados do campo, através de cruzamentos, bem como buscava finalizações de fora da área. Nenê teve a grande chance do Vasco na primeira etapa, mas parou na boa defesa de Hugo
Com bola, o trabalho vascaíno pelo lado do campo era facilitado pela ainda ineficaz marcação rubro-negra na saída de bola. Gabi, Arrascaeta e Pedro tiveram dificuldades para pressionar a saída de três vascaína, com Leo Matos mais próximo dos zagueiros.
Arão e João Gomes eventualmente subiam pressão para incomodar Zé Gabriel, mas a dificuldade em proteger o lado do campo seguia latente. Isso fez com que os defensores vascaínos tivessem maior facilidade de acionar os corredores laterais com Pec e Edimar.
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O jornalista Carlos Eduardo Mansur questionou Paulo Sousa sobre a dificuldade de proteger os corredores laterais. E o treinador português confirmou que o trio tem problemas para realizar o balaço defensivo.
Contudo, mesmo sem domínio do jogo durante os 25 minutos iniciais, o Mengão gerou perigo ao Vasco. Em especial pelo lado esquerdo. Sem as dobras pelo setor, Lázaro e Arrascaeta ameaçaram com suas movimentações.
Enquanto a jovem promessa rubro-negra criava opções de apoio e de profundidade com assertividade, por outro lado, o craque uruguaio tomou algumas decisões equivocadas, por muitas vezes forçando passes mais longos sem êxito. Lázaro conseguiu acionar o Flamengo no último terço em duas boas oportunidades, com o próprio Arrascaeta e Pedro.
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Após parada técnica, Fla começa a se impor sobre Vasco
Passado os primeiros 25 minutos e a parada técnica, o Flamengo enfim conseguiu ter mais acertos nos passes e reter a bola por mais tempo. Segundo dados do FootStats, o Fla perdeu a bola por 11 vezes nos primeiros 30 minutos de jogo. Nos 60 minutos restantes, acumulou mais 13 posses perdidas. Assim, proporcionalmente, a equipe conseguiu reduzir praticamente pela metade o número de posses perdidas durante o restante do duelo.
Isso aconteceu não só por êxito rubro-negro, mas também pela dificuldade física vascaína em manter uma marcação mais alta por tanto tempo. Com isso, o Mais Querido voltou a ter o domínio com bola que construiu em boa parte dos outros dois confrontos na temporada.
Pela esquerda, a equipe voltou a criar oportunidades com a participação de Lázaro. Na principal delas, Arão acionou Arrascaeta em passe cavado e cruzou para Gabi. O “Príncipe da Gávea” acertou um voleio na pequena área, mas a bola ganhou altura e não chegou ao gol.
A primeira etapa terminou com um Flamengo mais próximo do gol e sofrendo menos com as transições ofensivas vascaínas.
Vasco assusta no início da segunda etapa, mas Flamengo marca em bola parada
No início dos 45 minutos finais do Clássico dos Milhões, o Vasco tentou incomodar novamente o Flamengo. Subindo a marcação na saída de bola rubro-negra, com Pec auxiliando o trio de ataque, o cruz-maltino trouxe perigo ao Mengão em duas oportunidades nos primeiros cinco minutos da etapa final. Rodinei foi responsável por dois erros que ocasionaram em chances de gol vascaínas.
Primeiro, o lateral cabeceou mal uma bola na meia-lua e permitiu a finalização perigosa de Nenê. Logo depois, em cobrança de escanteio, Rodinei não acompanhou Edimar e o lateral-esquerdo vascaíno acertou um chute forte de fora da área, obrigando Hugo a fazer mais uma boa defesa. Devido aos erros em sequência, Paulo Sousa sacou Rodinei para a entrada de Matheuzinho.
Contudo, na sequência, a retomada vascaína foi interrompida. Aos sete minutos, João Gomes conseguiu roubar bola de Juninho no campo de defesa vascaíno e acionou Pedro em zona de finalização. O centro-avante obrigou Thiago a fazer boa defesa. No escanteio seguinte, Arão aproveitou passe de Lázaro na pequena área e marcou o gol rubro-negro na partida. 1×0.
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Falta de pontaria rubro-negra impede placar mais elástico
Com a desvantagem ampliada, as tentativas do Vasco de agredir o Flamengo continuaram, porém sem causar o mesmo desconforto da primeira etapa. Como já citado, o Mais Querido teve menos problemas na perda da posse, mesmo nos momentos em que o Vasco subia pressão. A principal chance vascaína após sofrer o gol foi em uma bola parada. Hugo saiu mal, não conseguiu encaixar com as mãos o cruzamento de Nenê e a bola foi parar na trave.
Com o cruz-maltino necessitando de gols, os espaços para os contra-ataque foram sendo gerados. Pedro perdeu grande oportunidade, após o Flamengo conectar uma transição ofensiva numa situação de 5×3.
Então, Paulo Sousa fez uma mudança tripla para dar vigor físico à equipe: as entradas de Léo Pereira, Vitinho e Marinho nos lugares de David Luiz, Lázaro e Arrascaeta. Com as mudanças, a equipe voltou a se defender num 4-4-2, com Marinho e Vitinho protegendo os corredores laterais.
O técnico Zé Ricardo também fez mudanças buscando gerar mais volume ofensivo. O treinador sacou a dupla de volantes Juninho e Zé Gabriel para a entrada de Yuri Lara e Luiz Henrique. Com isso, passou a se organizar ofensivamente num 4-3-3.
Mesmo com o Vasco precisando do resultado, o Flamengo conseguiu ter controle total da partida no terço final do jogo. Em organização ofensiva, continuou a gerar perigo pelos lados do campo com a dupla Marinho e Vitinho.
O atacante pela direita segue com problemas para trabalhar pelos corredores interiores e teve dificuldades para se associar com Matheuzinho. Porém, conseguiu gerar volume de jogo e finalizou com perigo na entrada da área em duas oportunidades.
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Já Vitinho conseguiu executar com mais eficiência as orientações do Mister. Gerando amplitude pelo lado esquerdo, o meia conseguiu abrir janelas no corredor central para Pedro e Gabi. Em transição ofensiva, serviu João Gomes livre para marcar, mas o volante errou a finalização.
Everton Ribeiro entrou no fim no lugar de Gabi, mas o ritmo do jogo pouco mudou: com a bola, o Flamengo controlava a partida e criava chances de gol. Sem bola, incomodava demais nos contra-ataques. Com melhor assertividade nas finalizações, o Mengão teria saído do Maracanã com um placar mais elástico.
Balanço final dos confrontos contra o Vasco
O Flamengo venceu o Vasco por três oportunidades em um período de duas semanas em cenário distintos. Seja com um Vasco se defendendo numa linha de seis ou subindo pressão na saída de bola rubro-negra.
É possível enxergar bons e maus momentos da equipe durante esses 270 minutos, tanto em execução coletiva dos atletas quanto em relação ao plano de jogo de Paulo Sousa. Positivamente é possível enxergar alternativas interessantes, como a consolidação de Lázaro e Vitinho pela esquerda e os bons jogos de João Gomes.
Contudo, apesar de ter conseguido boa fluidez na construção ofensiva, a equipe poderia ter gerado mais volume de jogo contra um adversário tecnicamente bastante abaixo. Além disso, a dificuldade para proteger o corredor lateral direito usando três atacantes na saída de bola adversária é um ponto a ser avaliado pelo Mister.
De qualquer maneira ainda estamos em março e no início da temporada. As dificuldades do Flamengo fazem parte do processo de evolução de um trabalho que começou há cerca de três meses. Por fim, cabe ao treinador português lidar com aplicação de suas ideias dentro de campo com a necessidade de resultados que a torcida rubro-negra cobrará ao longo desta trajetória.
SRN