'Acabou o dinheiro': 15 anos depois da icônica declaração, esportes olímpicos do Flamengo são referências

23/01/2024, 12:43
Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, atletas do Flamengo, exibem medalhas do Mundial de Ginástica Artística 2023

Em janeiro de 2009, Márcio Braga, então presidente do Flamengo, proferiu frase durante coletiva que ficaria marcada por anos: “Acabou o dinheiro”. A declaração estava relacionada aos Esportes Olímpicos e chegou acompanhada de anúncio cortes financeiros. 15 anos depois, o Mengão vive situação financeira completamente oposta e retomou posto de referência nas modalidades olímpicas. Assim, o Mundo Bola relembra como foi o processo de recuperação do Flamengo:

Márcio Braga, em 2009, referia-se aos contratos com as estrelas da ginástica Diego Hypólito, Daniele Hypólito e Jade Barbosa. O vínculo dos atletas com o clube tinha se encerrado em dezembro do ano anterior e não seriam renovados. Além disso, nomes do basquete como Marcelinho Machado e Rafael “Baby” Araújo também estavam em risco.

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“O que acontece é exatamente o seguinte: acabou o dinheiro. Em razão da crise que abala o mundo, não há condições de gerir unidades fora do futebol”, disse Márcio Braga, antes de ser interrompido por falta de luz na Gávea.   

O presidente rubro-negro fez duras críticas e apontou o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) como culpado pelos problemas do clube para financiar os Esportes Olímpicos. Isso porque a entidade não repassava dinheiro aos clubes, o que obrigava o Flamengo a tirar dinheiro do futebol. No entanto, o clube esgotou os recursos e passou a enfrentar problemas em todas as modalidades.

“Não falta recurso. Mas está mal versado. Só naquela festa para o Prêmio Brasil Olímpico, foram gastos R$ 1,78 milhão de verba federal. Se o dinheiro da festa do COB chegasse aqui, não haveria atleta insatisfeito.”

Através da então vice-presidente de Esportes Olímpicos, Patrícia Amorim, o clube conseguiu convênio com a prefeitura de Niterói para a ginástica. Com isso, conseguiu manter Jade Barbosa e os irmãos Daniele e Diego Hypólito. Além disso, novos patrocínios permitiram ao clube manter os principais nomes do basquete, que seria campeão do NBB em junho de 2009 e mais seis vezes desde então.

No entanto, a ginástica do Flamengo voltaria a enfrentar grande crise poucos anos depois. Em 2012,  incêndio atingiu o ginásio Cláudio Coutinho e destruiu a estrutura do clube. Os atletas rubro-negros foram obrigados a treinar em outras instalações por três anos. O local foi reaberto em 2015, com investimentos do Fla, do COB e do Comitê Olímpico dos EUA, para servir de sede da equipe norte-americana nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Gestão Eduardo Bandeira de Mello (2013-2018)

Eduardo Bandeira de Mello assumiu o Flamengo em janeiro de 2023 com plano de recuperação financeira. Uma das primeiras decisões como presidente foi acabar com modalidades adultas de esportes olímpicos: judô, natação e ginástica olímpica. O clube manteve promessas da base, incluindo a ginasta Rebecca Andrade, que estava na categoria juvenil.

“Infelizmente, nós estamos sendo obrigados a suspender temporariamente as equipes de ginástica artística e judô. Fomos conversar com a prefeitura, com o governador e com o COB para tentar explicar a situação e tentar uma ponte para 2013. Nos ofereceram algum tipo de ajuda em outras áreas, mas nenhum dinheiro vivo nos foi oferecido”, justificou o vice-presidente de esportes olímpicos, Alexandre Póvoa, na época.

A gestão Bandeira focou em conseguir Certidões Negativas de Débito, que representam equacionamento de dívidas fiscais com Governos Federal, Estadual e Municipal. Com as o documento, o clube ficou apto para receber patrocínios do Estado e implementar projetos incentivados para captação de recursos.

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Ainda em 2013, o clube lançou o projeto “Anjo da Guarda”, que hoje se tornou o Fla-Anjo e arrecadou quase R$ 10 milhões para os esportes olímpicos em 2023.

O clube retomou as categorias profissionais em 2014 e já teve atletas convocados para Seleção Brasileira de judô. Em 2015, o Conselho Diretor rubro-negro anunciou que todos os esportes olímpicos era autossuficientes e não dependiam mais de verba do futebol.

Alexandre Póvoa e Eduardo Bandeira de Mello ao lado re Rebeca Andrade e outros atletas no lançamento do "Anjo da Guarda"
Alexandre Póvoa e Eduardo Bandeira de Mello ao lado de Rebeca Andrade e outros atletas no lançamento do “Anjo da Guarda”. Foto: Divulgação/ Flamengo

Gestão Landim (2019): Rebeca Andrade e chegada de campeões olímpicos

O Flamengo foi referência nos esportes olímpicos brasileiros nos últimos anos, chegando ao ápice em 2023. E muito desse sucesso está relacionado ao momento de carreira que vive a ginasta Rebeca Andrade. A atleta formada no Rubro-Negro conquistou 15 medalhas nos últimos quatro anos, somando Olimpíadas, Mundiais de Ginastica e Jogos Pan-Americanos.

Rebeca foi medalha de ouro no salto e prata no individual geral nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021. Em Mundiais, a atleta também subiu ao pódio em diferente categorias e soma tem três medalhas de ouro (Kitakyushu 2021, Liverpool 2022 e Antuérpia 2023), três de prata ( Kitakyushu 2021, Antuérpia 2023, Antuérpia 2023) e duas de bronze ( Liverpool 2022 e Antuérpia 2023).

Além de Rebeca Andrade, as ginastas rubro-negras Flávia Saraiva, Jade Barbosa e Lorrane Oliveira fizeram história no Mundial de Ginástica em 2023. Juntas, elas conquistaram medalha de prata inédita para o Brasil em competição por equipes.

Equipe de ginástica do Brasil, com quatro atletas do Flamengo, que conquistou medalha de prata inédita no Mundial
Foto: Al Bello/Getty Images

A gestão de Rodolfo Landim também investiu na contratação de grandes nomes olímpicos para o Fla. O primeiro foi o canoísta Isaquias Queiroz que havia conquistado três medalhas na Rio 2016 e era pentacampeão mundial . Como atleta rubro-negro, ele subiu ao lugar mais alto do pódio nas Olimpíadas de Tóquio e igualar recorde de medalhas de um atleta brasileiro em 2024.

Atletas do Flamengo brilharam no Pan-Americano 2023

Os atletas do Flamengo se prepararam para as Olimpíadas de Paris 2024 e a expectativa é de medalhas para muitos. Afinal, o ótimo desempenho dos rubro-negros no Pan-Americano de 2023 chamou a atenção e aumentou os holofotes sobre os profissionais.

Com uma delegação de 40 atletas e três treinadores, os rubro-negros conquistaram 30 medalhas. Foram 10 de ouro, 12 prata e oito de bronze. Se fosse um país, o Mengão estaria na nona colocação do quadro de medalhas, que conta com 38 países.

Veja a lista de medalhas do Fla no Pan:

Ouro:

  • 4x Guilherme Caribé (natação – 100 m livre, revezamentos 4×100 livre masculino e misto e 4×200 livre);
  • 2 x Rebeca Andrade (ginástica -salto e trave);
  • Murilo Sartori (natação – 4×200 livre); Rafaela Silva (judô); Felipe Kluver (remo); Igor Jesus (futebol) e Loku Cuello (basquete).

Prata: 

  • 4x Flavia Saraiva (ginástica – equipes, solo, trave e individual geral);
  • 2x Rebeca Andrade (ginástica- equipes e barras paralelas);
  • Jade Barbosa (ginástica – equipes);
  • Diogo Soares (ginástica – individual geral);
  • Guilherme Caribé (natação – revezamento 4×100 medley); 
  • Isaquias Queiroz (canoagem – C1 1000 m);
  • Rafaela Silva (judô por equipes);
  • Felipe Kluver (remo);
  • Alexandre Mendes, Logan Wolverine e Alipio Nardaci (polo aquático masculino);
  • Lais Vasques, Sabrina Machado e Helena Hoengen (vôlei feminino).

Bronze: 

  • Flávia Saraiva (ginástica – barras paralelas);
  • Diogo Soares (ginástica – equipes);
  • Murilo Sartori (natação – 200 m livre);
  • Gabrielle Assis (natação – 200 m peito);
  • Laura Micucci e Gabi Regly (nado artístico – dueto);
  • Alejandra Alonso (remo);
  • Rebecca Moreira, Samantha Rezende e Jeniffer Kathlen (polo aquático feminino);
  • Gabriel Jaú, Maique, Scott Machado, Didi Louzada e Gui Deodato (basquete masculino).

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Matheus Celani
Autor

Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.