A Terra não é plana, otário.

03/03/2019, 13:40

Zico, eu vi. Tão claro quanto a Terra esférica, tão lógico. O maior de sua época, um gênio. O melhor que eu vi.

Por Gerri Rodrigues – Twitter: @GerriRodrian

Chega. Desde sempre aprendemos a importância da compreensão. Desde sempre, o respeito acima de toda e qualquer divergência.

Mas chega. Avançamos os limites do bom senso. Avançamos os limites da razoabilidade. E agora nos vemos obrigados a conviver com a mais completa idiotia – e a respeitá-la.

Chega.

Há humanos que não merecem respeito e embora nos assustemos com a constatação – que justamente vai de encontro ao que elevamos – devemos urgentemente acabar com a farra dos cretinos.

A Terra, nosso tão maltratado planeta, é redondo.

Não é uma esfera perfeita, como a bola de futebol, sendo achatadinha nos polos, mas é assim como a lua, assim como Vênus, como Marte, como Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, assim como toda porcaria de planeta condensado pela atuação da gravidade e que não tenha sido explodido em colisão. E mais: tem foto, tem sombra de eclipse, satélite rodando o céu, tem um caralho de obviedades.

Até os gregos já sabiam. Eratóstenes já media a circunferência da Terra há dois mil e duzentos anos, de boa.

Aí veio a idade das trevas, aí veio o cego de religião, o que fecha os olhos na cara dura, que caga pra evidência, para a lógica, que faz o diabo para comprovar o impossível, justificando sua fé.

A gente entende. Cada um na sua. Aprendemos a importância da diversidade, que isso é bonito também. Mas chega. Diversidade de c* é mato.

Qualquer terraplanista merece apenas o desprezo, o tapa na cara, o vômito, o bullyng, o “vai dar pra quem tem tempo”, o “nasceu pra ser otário”.

Teoria da conspiração é o berço dos dementes.

E, assim também, não dá mais: quando vier desgraçado questionar o talento de Zico, que revidemos com violência, foice, gritos, palavrões sórdidos.

Não somos obrigados a conviver com esse tipo de doença de zumbi – que zumbi a gente trata decapitando.

Há vídeos, milhões de evidências, estatísticas, números, depoimentos, todo um conjunto de obviedades que só um zumbi não vê. E além de tudo: a minha memória. Eu sei. Eu tava lá. Ninguém me contou. Não teve nenhum filósofo de araque me manipulando, não teve pastor de voz hipnótica, não teve ninguém cagando na minha cabeça.

Zico, eu vi. Tão claro quanto a Terra esférica, tão lógico. O maior de sua época, um gênio. O melhor que eu vi.

E, se nestes tempos sombrios, até um jegue é capaz de dizer que Einstein estava errado, que Kepler era mentiroso, que Carl Sagan era apenas fruto de uma mentira da Nasa, é bem certo que vão mentir sobre a coisa mais certa que sei na vida, que Zico não foi o que foi o que foi.

1987: Zico da equipe do Flamengo, durante jogo contra a equipe do Palmeiras, em São Paulo (SP). (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

Mas comigo não violão. Chega. Agora é guerra. Não cruzem o meu caminho. Já estou de saco cheio de zumbi. Tudo o que eu posso sentir de tristeza no peito vou converter em raiva.

Sai da minha frente, otário! Não respondo mais por mim. Acabou a paciência! Agora só respondo na maldade.

Salve Zico! Salve Einstein! Que pra cada gênio, um milhão de imbecis cruzarão a Terra, tornando tudo muito pior, fazendo deste planeta, de fato, um inferno.

Orra, é Mengo! (2a Temporada, crônica II)




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Gerri Rodrian
Autor

Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.