A Libertadores já é complicada, a gente não precisa se complicar também

11/04/2024, 09:00
Erick Pulgar, do Flamengo, tenta recuperar a bola de jogador do Palestino, pela Libertadores 2024

São duas as grandes correntes quando se trata de analisar adversários não-argentinos na Libertadores: subestimar e superestimar.

A mais comum, que é o de subestimar, consiste em presumir que qualquer time que não seja Boca ou River – às vezes um Estudiantes, quem sabe – se trata de uma galinha morta que todo time brasileiro tem a obrigação de golear dentro e fora de casa. Time paraguaio? Não vale nada. Time chileno? Fase de bônus. Time do Equador? Esse país nem existe, você tá inventando país, não tá?

Uma análise preconceituosa e um bocado reducionista, que acabou causando como reação uma tendência, em setores mais progressistas da mídia, de tratar absolutamente qualquer equipe da Libertadores, por mais fraca que ela seja, como “muito perigosa”.

‘Empatite’, mas sem perder? Torcedores comemoram vitória com críticas

17º colocado do Campeonato Venezuelano? Tá vindo forte aí. Meio de tabela no Peruano? Potência sim. Quase rebaixado na Bolívia que só se cria porque joga numa altitude tão absurda que se cutuca a camada de ozônio com a mão? “É preciso respeitar a tradição”.

Por isso é preciso começar a discutir a vitória um tanto quanto sofrida do Flamengo nesta noite de quarta-feira com uma análise realista do Palestino. É o 4º colocado de um Campeonato Chileno ainda em seu começo? Sim, é. Mas também é uma equipe que, dentro da sua casa, foi goleada pelo Bolívar, por um dilatado placar de 4×0.

Ou seja, é um time que merece respeito e atenção, como todos que disputam a Libertadores, mas é também uma equipe que apanhou, e feio, de um time que não aparece em nenhuma lista de favoritos ao título do torneio.

Então é sim um pouco complicado entender como o Flamengo conseguiu ter tanta dificuldade para garantir essa vitória no Maracanã. Como perdemos tantos gols no primeiro tempo, quando poderíamos ter definido a partida? Como caímos tanto de produção na segunda etapa, quando a equipe chilena chegou até mesmo a ter chances de empatar? Como pode uma equipe com tanta qualidade oferecer um futebol tão burocrático?

Porque ainda que Tite preze pelo equilíbrio – e faz todo sentido buscar uma equipe equilibrada – o que se viu hoje não foi um Flamengo organizado e seguro, mas sim a soma de falta de eficiência com queda de rendimento, que por pouco não levaram a mais uma vergonha como a vivida na partida de estreia da Libertadores.

Não que não tenhamos tido bons momentos na partida, obviamente. Pedro mais uma vez deixou sua marca, Léo Ortiz fez ótima estreia e até mesmo os garotos da base que entraram no segundo tempo tiveram boa participação – destaque para o escanteio cobrado por Lorran no segundo gol. Mas ainda assim a sensação é de que, mais uma vez, o Flamengo se pegou tentando complicar uma partida que queria e poderia ser muito mais fácil.

Cabe então a Tite entender as razões desse cenário. São as limitações do esquema tático? É cansaço da equipe? Faltam peças de reposição? Porque a única certeza que fica é que mais uma vez, na mesma partida em que mostrou possuir qualidade o bastante pra vencer de forma tranquila, o Flamengo fez questão de demonstrar que tem também a capacidade de se complicar sem a menor necessidade. E sem subestimar nem superestimar adversários, tá aí um cenário que preocupa sim o torcedor.


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