A festa de despedida ideal pra um time que vai buscar o título mundial

É inegável que existe, no coração rubro-negro, uma tendência natural à megalomania. Um efeito colateral de ter a maior torcida, que se agravou diante da hegemonia local e se transformou quase numa forma de delírio quando, após algum tempo sendo imenso apenas fora de campo, o Flamengo finalmente voltou a ser proporcionalmente grande dentro dele. Se o flamenguista já não era humilde quando trazia cinco jogadores do Ipatinga, imagine agora quando cede cinco para a seleção brasileira?
E também é inegável que essa ausência espontânea de humildade com grande frequência turva o nosso julgamento. É uma vocação pra abordar partidas com aquela postura de “menos que goleada em nem comemoro”, é uma tendência a subestimar adversários, é perder o torneio mata-mata e já vir surgir no Maracanã a faixa “BRASILEIRO É OBRIGAÇÃO”, sinalizando que não vamos aceitar nada menos do que a conquista da competição mais complicada do país e uma das mais equilibradas do mundo.
Então eis que surge ela, a Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Um torneio inédito, reunindo os melhores clubes do mundo, num esquema que parece até competição de videogame. É Botafogo enfrentando PSG, é Fluminense pegando o Dortmund, somos nós num grupo com Esperance da Tunísia, Los Angeles dos Estados Unidos e Chelsea, da Inglaterra.
Um sorteio que, como você pode imaginar, já ativou novamente nossos instintos mais desumildes. “Time da Tunísia? É pra golear”. “Major League Soccer? Nem tem futebol nesse país”. “Chelsea é da Inglaterra, ok, mas é time de Conference League, né? Assim, é abaixo da Sula da Europa, se a gente jogar certinho a gente termina esse grupo com 9 pontos”.
E se caberia à última rodada do Campeonato Brasileiro antes da pausa pro Mundial deixar o rubro-negro com os pés mais no chão, deixar a torcida mais centrada, lembrar ao torcedor que a visão mais realista desse próximo torneio é “se passar da fase de grupos tem que comemorar”, a verdade é que ela falhou miseravelmente.
Porque mais do que uma vitória, mais do que uma goleada, o que se viu no Maracanã foi um recital. Um Flamengo dominante, que se defendia com intensidade, armava em velocidade e principalmente no segundo tempo, mostrou que é capaz de concluir com eficiência – mesmo que pudesse ter feito ainda mais gols.
Uma grande partida de Varela, uma atuação decisiva de Luiz Araújo, Gérson dominando o meio de campo e Arrasca voltando a brilhar, sem contar Léo Ortiz mostrando mais uma vez que tem mais capacidade de armação que muito camisa dez por aí.
Com isso um dos clubes menos humildes do Brasil acaba indo para a Copa do Mundo de Clubes sem grandes razões para humildade: líder do Brasileirão, com o melhor ataque, a melhor defesa e um saldo de gols superior ao dobro do segundo colocado.
E acima de tudo uma grande esperança de que, se o time jogar, se os astros conspirarem, se tudo der certo nos Estados Unidos, a gente possa voltar desse torneio ainda menos humildes e ainda mais megalomaníacos do que já somos. É a expectativa mais realista? Não é. Mas se formos sinceros, expectativas realistas nunca foram mesmo o nosso forte.