Gerrinson. R. de Andrade | Twitter: @GerriRodrian
Imaginem: o menino xinga todo mundo na rua.
Passa o leiteiro, o menino xinga.
- Vagabundo!
Passa o afiador de facas, passa o carteiro, passa a vizinha voltando, o menino xinga:
- Safado! Peidorreiro! Gorda-porca!
O dia todo o menino xinga. Seu avô, já acostumado, se desculpava a todo mundo:
- Não teve jeito, já falei pro menino parar, que isso é coisa feia, que ninguém gosta dele assim. Mas ofensa de retardado a gente precisa relevar.
O menino era só xingamento. Xingava de corno-manso, de corno-cebola, de corno-churrasco. Sua vontade era só xingar, meio que nos escondidos, atrás de muro, de poste ou de carro estacionado.
Um dia cedo, quando já xingava, o transeunte vestido de Flamengo na revolta chegou junto, pegou no susto e deu uma bofetada que o menino caiu de olho aberto, no nocaute.
O menino foi pra casa tropeçando, se apoiando nas paredes. O avô foi que lhe disse:
- Agora vê se toma jeito, aprende. Jumento!
O moleque conseguia mal falar, boca dormente. Foi pro quarto, deitou na cama, e grunhiu:
- Flamerda...
Pegou seu celular, ligou o 3G, instalou aplicativo e abriu uma conta no Twitter.
Passou a xingar com gosto, sem medo de levar bofetão.
Tomou gosto ainda mais, baixou ferramenta, fez avatar no Illustrator. Ficou profissionalizado, com seguidor.
Xingava o Flamengo 87 vezes por dia, chamava de urubu com preconceito, que era time filho da mãe Globo, que só ganha no apito. E barbarizava ofendendo Zico.
O avô ficou inclusive satisfeito com o tal Twitter. Xingando no computador, o moleque deixava a vizinhança em paz.
E o avô até entendeu que nesse tal Twitter muito demente se trata, faz terapia e se realiza nas suas fantasias.
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Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.