A escalada de concentração de poder no Flamengo pode ganhar mais um degrau hoje
Entendo perfeitamente que frustações do dia a dia com o Flamengo, nos levem a colocar todo nosso foco nos sintomas do problema. Mas se queremos buscar uma solução definitiva para esse problema, é preciso focar também na sua origem.
Na verdade, derrotas, contusões, contratações equivocadas, deficiências no elenco etc não são o problema. Como a febre e a dor, que são os sintomas perceptíveis da verdadeira causa, a doença em si.
Se apenas direcionarmos nossa atenção para os sintomas, tomando analgésicos e antitérmicos, os sintomas até poderão melhorar no curto prazo, mas o problema real não tratado fará com que voltem rapidamente.
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Nesse contexto, temos um quadro político no Flamengo hoje que aponta para uma forte concentração de poder nas mãos do Conselho Diretor, inclusive com grande influência deste sobre todas as outras instâncias de poder no Clube.
Essa concentração, determina, cada vez mais, que as decisões estratégicas do Clube sejam tomadas por um pequeno grupo de pessoas. Temos visto isso se intensificar desde 2019 e aos poucos vai diminuindo o espaço para vozes dissonantes.
Independentemente da qualidade daqueles que concentram o poder, um processo onde cada vez mais um menor número de pessoas decide mais e mais pessoas decidem menos é sempre nocivo. E sempre termina mal.
Nessa segunda-feira (09/4), o Conselho Deliberativo do Flamengo se reúne para decidir sobre duas pautas que representam mais um degrau na escalada de concentração de poder no Clube.
A pauta votada prevê temas como a limitação do número de sócios off-rio, e a prerrogativa concedida ao presidente do CODE de decidir, a seu critério, quando uma votação também será online, ou apenas presencial.
Esse temas, aparentemente desconexos, representam o mesmo movimento. O de limitar cada vez mais o colégio eleitoral do Flamengo, impedindo a participação de mais pessoas, e consequentemente concentrando o poder em uma pequena minoria.
No futebol brasileiro, já vimos isso acontecer antes, como nos exemplos de Vasco e São Paulo, com graves e previsíveis consequências. Lamentavelmente, o Flamengo caminha na direção do precipício político, sem aprender com os erros anteriores cometidos por outros clubes.
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Nesse momento gostaria de fazer um apelo aos conselheiros aptos a votar amanhã. Para os que na eleição de dezembro votaram nos candidatos de oposição, que não desistam do Flamengo. Compareça, o Flamengo precisa de vocês, precisa de seu voto.
Para os conselheiros que votaram pela reeleição do presidente, gostaria de fazer uma ponderação. Sei que votaram buscando o melhor para o Flamengo. Respeito o processo democrático e reconheço as qualidades de Rodolfo Landim.
Entretanto, apoiar o presidente e sua gestão, e tomar posições eventualmente divergentes no interesse do Flamengo, não são incompatíveis. Apoio irrestrito só devemos dar ao Flamengo, não às pessoas, por mais que as respeitemos.
O fato é que, independente da qualidade do gestor, a ninguém deve ser entregue o poder absoluto de qualquer organização. A história está repleta de projetos de concentração de poder, que a despeito de suas boas intenções iniciais, terminaram em desastre.
Faço um pedido aos que amanhã irão votar. Esqueçam grupos políticos, esqueçam pessoas, esqueçam simpatias, antipatias pessoais. Observem os exemplos do passado e votem apenas com o coração rubro-negro. Não votem contra nada ou ninguém, votem simplesmente a favor do Flamengo.
Votem a favor de um Flamengo grande, aberto, transparente, democrático, NACIONAL! Um Flamengo que reflita em sua vida política a grandeza da Nação Rubro Negra.
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