A Copa do Mundo de Clubes é um torneio pra maluco e nenhum time é mais maluco que o Flamengo

Por mais que seja uma competição oficial, séria e organizada pela FIFA, existe algo de inerentemente irreal e delirante na atual Copa do Mundo de Clubes.
É o Bayern enfrentando um clube onde jogam empacotadores e funcionários da prefeitura é o Botafogo atuando em Seattle, é o Flamengo pegando um time da Tunísia enquanto a torcida se concentra perto de uma estátua do personagem Rocky Balboa. O Fluminense vai enfrentar o Borussia Dortmund, o River Plate pega um time do Japão, mesas redondas brasileiras estão discutindo com grande intensidade quem veio mais forte, Benfica ou Porto.
A ideia de realmente reunir alguns dos melhores times de futebol do mundo num país que pouco ou nada se importa com futebol e onde as poucas pessoas que se importam estão sendo deportadas é ao mesmo tempo brilhante e totalmente absurda, já que você tem aquele que talvez seja o maior torneio interclubes da história do esporte, mas realiza ele no pior lugar possível, pelas regras do capitalismo mais infantil imaginável. Ou seja, sabemos que foi mesmo organizado pela FIFA.
Mas como qualquer rubro-negro sabe, por mais que o Flamengo hoje seja um clube profissional e saneado, ainda existe uma parte da nossa alma, uma fibra do nosso ser, uma tirinha do nosso DNA, que se alimenta exatamente desse caos, dessa confusão, do clima de urubu sendo libertado dentro de campo, de jogador maluco decidindo partida, de descobrir que já jogamos sim contra o Esperance da Tunísia, numa excursão caça-níqueis, o Fábio Baiano tava lá, os caras são fregueses.
E nesta segunda-feira, um dia maluco pra se jogar futebol, o Flamengo fez sua estreia nesse torneio maluco que é a Copa do Mundo de Clubes. E espantando qualquer risco de zebra, deixando de lado qualquer trauma do último Mundial, fez um 2x0 seguro – ainda que não exuberante – diante do Esperance, já colocando nas ruas do Rio de Janeiro aquele peculiar e perigoso grito de “ô Chelsea, pode esperar, a sua hora vai chegar”.
Com uma grande estreia de Jorginho, outro grande jogo de Arrascaeta e uma partida decisiva de Luiz Araújo, com um gol e uma assistência, o que se viu foi o Flamengo tão dominante quanto se esperava, ainda que criando menos chances e cometendo ao menos uma meia dúzia de erros bisonhos de saída de bola que teriam comprometido se nossa dupla de zaga não fosse tão eficiente e nossos adversários não fossem tão pouco.
Foi uma grande partida? Seria exagerado dizer que foi. Pedro apareceu pouco, tivemos um apagão de quase vinte minutos no segundo tempo e Rossi teve que fazer uma belíssima defesa quando vencíamos apenas por 1x0. Mas num torneio como esse, em que cada partida acaba se tornando uma decisão, estrear com vitória, ainda mais diante de um time tecnicamente inferior, era essencial pra manter vivo qualquer sonho de título.
E agora temos pela frente o Chelsea. Um dos grandes europeus, um clube de investimento bilionário que vai nos fazer conhecer o lado inverso daquelas situações do tipo “um jogador do Flamengo tem mais valor de mercado que todo o time do Deportivo Táchira”. Tende a ser fácil? Claro que não. Somos os favoritos? Não é bem o caso. Mas vamos lutar até o final pra conquistar o mundo pela segunda vez? Pode ter certeza que sim, seja na organização, seja na bagunça