A Copa do Mundo começou e… Eu não vejo a hora dela acabar. O baixíssimo interesse pela seleção brasileira combinado com a minha visão do time da CBF como algo que prejudica o Flamengo, faz com que eu não tenha nenhuma ambição de ver o hexa. É até interessante ver alguns jogos aqui e ali mas a Copa do Mundo tem como grande efeito para mim a abstinência de Flamengo.
É só o Flamengo para de jogar que as informações sobre o Mais Querido rareiam. Logo depois os programas esportivos passam dias discutindo se a convocação do Daniel Alves foi certa. Ou se o Tite vai jogar com Raphinha, Antony ou Vini Jr.. Eu não podia me importar menos com isso.
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E se estou sem “consumir” Flamengo, se torna difícil falar de Flamengo. Confesso que tinha minhas dúvidas a respeito do que escrever essa semana. Felizmente, essa dúvida se dirimiu quando pude ler o excelente texto de Gustavo de Almeida, no qual ele faz uma honrosa citação à minha coluna de semana passada.
O texto intitulado “Eu preciso do Flamengo” – o qual eu parafraseio aqui – explorava a instrumentalização política de símbolos nacionais e como isso distanciou o brasileiro da equipe canarinha, o que não aconteceu com o Flamengo. Após ler a excelente coluna, estive a pensar em como nenhum dos ditadores (ou pretensos ditadores) conseguiu colocar rédeas no amor rubro-negro e usá-lo.
Não seria a primeira vez que um governante utilizaria o maior clube de um país para aumentar sua popularidade. Principalmente porque esse processo costuma ser benéfico para ambas as partes. O líder autoritário utiliza a imagem do clube para se promover, por outro lado o clube se aproveita das benesses exclusivas daqueles que estão próximos ao poder.
O Real Madrid com o Franquismo é o exemplo mais explícito de império construído com base em corpos, mas isso se estendeu a diversos outros países que passaram por ditaduras. Curiosamente, no país do futebol, o clube de massa nunca teve essa mancha. O Flamengo, cuja existência é quase tão longeva quanto a nossa república, passou por todos os períodos de turbulência institucional ileso.
É claro, há ponderações a se fazer como o fato de que a popularidade do Flamengo e o próprio clube e si não eram os mesmos lá em 1895. Ainda assim, significa termos passado por pelo menos duas ditaduras sanguinárias e populistas sem que nossas cores e símbolos fossem tomados.
E na história recente, não foi por falta de tentativa. O (ainda) atual presidente não se furtou de fazer figuração em jogos importantes do Flamengo usando o manto sagrado. Aliás, também não mostrou reservas em receber os jogadores após o tri da Libertadores (o que nós torcedores não pudemos). Mesmo assim, ele nunca conseguiu associar sua imagem ao clube, por maiores que fossem as facilitações para isso.
Agora mais do que nunca, é importante que tenhamos o Flamengo como parte do que nos define, além de resgatar a função social dos clubes desde suas primeiras fundações. “Acima de tudo rubro-negro” deve ser mais do que um canto de estádio e sim uma bandeira a ser levantada por cada um de nós. Somente dessa forma a identidade do clube pertencerá aos seus torcedores, mesmo com patrocinadores tentando fazer terrorismo econômico pra ameaçar o clube por questões políticas. Seja qual for o presidente ou a posição política de seus dirigentes, o Rubro-Negro sempre será o mesmo. O Flamengo do asfalto, do morro, de Deus e do povo e do nosso coração. Como diria o poeta
Renato Veltri é Advogado, formado pela UFRJ em 2019 e flamenguista formado pela irmã dele na final da Copa do Brasil de 2006. Twitter: @veltri_renato