Idolatria no Nordeste e insucesso em grandes clubes: a carreira de Rogério Ceni como técnico até aqui
Mito debaixo das traves, e tentando construir seu caminho fora das quatro linhas, a carreira de Rogério Ceni é composta por altos e baixos
Na manhã dessa terça-feira (10), a paquera virou namoro. A carreira de Rogério Ceni continuará no Flamengo. O treinador assinou contrato com o Mais Querido até o fim de 2021. A expectativa é que o ex-goleiro já comande o time nessa quarta-feira, contra o São Paulo, no Maracanã, pela Copa do Brasil. Justamente contra o time que o consagrou como jogador, mas quase o queimou como técnico.
Em 2015, Rogério se aposentou como goleiro. Jogando sua carreira inteira pelo Tricolor do Morumbi, se tornou o maior ídolo da história do clube. Foram 1237 partidas e 131 gol marcados, ambos feitos que se tornaram recordes mundiais. Em 2016, foi auxiliar de Dunga na vexatória campanha da Seleção Brasileira, eliminada na fase de grupos.
A primeira grande chance na carreira de Rogério
Em 24 de novembro de 2016, Rogério assinou seu primeiro contrato como treinador. E já começando por um desafio árduo: treinar o time pelo qual ele foi ídolo em campo. Um São Paulo que vivia forte crise política, e buscou na figura do ex-goleiro, uma esperança de voltar aos trilhos das conquistas.
No entanto, diversas condições tornaram o trabalho do treinador insustentável. A venda de nomes importantes do elenco, como Thiago Mendes e Luiz Araújo, fez com que a equipe se tornasse mais frágil. Como consequência disso, eliminações sucessivas nas principais competições que o Tricolor ainda disputava.
A mais traumática de todas, para o Defensa y Justicia, na Copa Sul-Americana, em pleno Morumbi. No Campeonato Paulista, caiu perante o maior rival, Corinthians. E na Copa do Brasil, o algoz foi o Cruzeiro. Tantos fracassos minaram o trabalho de Rogério, que, além de se ver pressionado, foi utilizado pela diretoria como uma espécie de escudo.
Após uma sequência de seis jogos sem vencer, o técnico foi demitido. E aí mora uma curiosidade que parece fruto do destino. Rogério caiu logo depois de uma derrota para o seu atual clube, o Flamengo. Na Ilha do Urubu, com gols de Guerrero e Diego, o Mais Querido venceu por 2 a 0 e tornou a situação do treinador adversário insustentável.
No Fortaleza, o início de uma idolatria
Uma história que precisa ser contada em duas partes. Afinal, foram duas passagens pelo Leão cearense. A primeira, certamente, a mais marcante delas. Chegou ao Fortaleza em 2017, um ano antes do centenário do clube, que é sempre um ano muito aguardado por qualquer torcida. E a espera valeu a pena.
Em sua primeira temporada, Rogério conseguiu um feito inédito para o Fortaleza: a conquista de um título nacional. Liderando o Campeonato Brasileiro da Série B na maior parte do tempo, sagrou-se campeão com duas rodadas de antecedência. Ali, começava a ser escrita uma linda página na história do Tricolor do Ceará.
No ano seguinte, mais duas conquistas: o do Campeonato Cearense e o da Copa do Nordeste, contra Ceará e Botafogo-PB, respectivamente. O segundo, obviamente, ainda mais expressivo. Era o ressurgimento do clube como uma potência dentro da região. Ambas as conquistas vieram de forma categórica, com duas vitórias em cada final.
Um adeus temporário e um retorno com mais conquistas
Porém, no meio do ano, um baque para a torcida do Leão. Rogério deixava o clube para comandar o Cruzeiro. Com o fracasso retumbante em Belo Horizonte, o técnico voltou a terras cearenses para assumir o Fortaleza novamente pelo restante do campeonato. A nona colocação ao final do torneio deu ao clube uma vaga na Sul-Americana.
Em 2020, outro título estadual, no pós-pandemia. Novamente contra o Ceará, e com duas vitórias na final. Entretanto, antes da paralisação por conta da Covid-19, provavelmente o momento mais triste de Rogério no comando do Tricolor de Aço. Uma eliminação cruel para o Independiente, na Sul-Americana.
O jogo no Castelão se encaminhava para uma vitória por 2 a 0 dos mandantes. Esse resultado levava o Fortaleza para a próxima fase. Mas, um gol contra de Bruno Melo aos 48′ do 2º acabou tirando a equipe brasileira do torneio mata-mata. Ademais, uma campanha segura no Brasileirão, com direito a melhor defesa do campeonato.
No Cruzeiro, um fracasso com culpa mínima
Rogério chegou em Belo Horizonte com uma missão: tentar salvar o Cruzeiro do rebaixamento. O final de trabalho de Mano Menezes deixou o clube em situação crítica. Na Copa do Brasil, tinha que reverter, em Porto Alegre, a vantagem de 1 a 0 criada pelo Internacional, no Mineirão. Sem êxito. Derrota acachapante por 3 a 0 no Beira-Rio, e o sonho do tricampeonato chegava ao fim.
No Brasileirão, duas vitórias nos primeiros três jogos, contra Santos e Vasco. Contudo, ao passo em que Rogério tentou afastar os “medalhões” do time titular, ele cavou sua própria cova. Motim feito por nomes como Edilson, Dedé e Robinho, capitaneado por Thiago Neves, acabou fritando o treinador. Na Raposa, o treinador fez apenas oito jogos e saiu com o respeito da torcida
A carreira de Rogério Ceni como treinador em números
São Paulo: 34 partidas (14V, 11E, 9D)
Cruzeiro: 8 partidas (2V, 2E, 4D)
Fortaleza (as duas passagens somadas): 153 partidas (81V, 33E, 39D)
Créditos da imagem destacada no post e nas redes sociais: Bruno Lafaiete/FolhaPress