Gerrinson. R. de Andrade | Twitter @GerriRodrian
Nada mais difícil para alguém admitir que esteve errado.
E é proporcional: maior o tempo de engano, mais difícil fica para (de repente) se admitir um engano.
Tanto que o cérebro humano especializou-se em manobras, encontrar fórmula, ardilosa que seja, para reafirmar que a sua escolha, apesar de todas as evidências, está certa.
E há quem considere inadmissível considerar que esteja errado. Seja em política, religião ou futebol, muitos preferem morrer abraçados ao conforto de seus equívocos a aceitar que errar é humano.
Muita gente vivendo num descompasso com a realidade. Fugindo, fingindo, com medo de mudar.
A vida não é como cada um quer. Muita frustração, muita série B, muita derrota. Mas é inútil chorar, esperar e perder mais do tempo que resta.
Gente que vive mal por anos,
aceitando calado os desaforos da vida, humilhado.
Mas deveria ser considerado culturalmente nobre:
mudar e aceitar as mudanças.
Pra que ainda experimentar uma roupa que lhe faz mal?
Por que insistir nessa torcida por um barco que está furado?
É a vergonha que impede,
remoendo um passado tão ruim,
vestido de camisa feia, tão desenganado.
Mas foi tanta vergonha que veio também,
tanta noite noite mal dormida,
tantos tapetões, tantos rebaixamentos, tantos calotes.
Tantas vezes estupefato,
confuso de tanta inveja,
com o grito da torcida,
com a beleza daquele vermelho e preto,
com a capacidade que o Flamengo tem,
superação, raça, conquistas, mesmo nas piores fases.
Muitos botafoguenses, vascaínos, tricolores,
na intimidade, sonham, querem,
com seu segredo, de porta fechada, tabu que nem se conta pra ninguém.
Desejo secreto, camuflado, vibrando quieto a cada gol do Flamengo.
Na mesa de bar, fala mal, faz piada de urubu, mas no quarto é com o urubu que sonha, de olhos fechados.
A torcida do Flamengo é de 80 milhões - é que tem gente ainda que está se preparando, gente que tem dificuldade de aceitar que esteve errado, por tanto tempo.
Orra, é Mengo!
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Paulista de Osasco, nascido em 1974, casado. Formado em Letras na USP, dramaturgo, profissional da área multimídia e servidor público federal. Rubro-negro desde 1980.