No dia 9 de fevereiro de 1964, há exatos 60 anos, o mundo perdia o ilustre compositor e ícone do rádio Ary Barroso. Rubro-Negro apaixonado, Ary marcou época e revolucionou cobertura esportiva no Brasil ao torcer desesperadamente pelo Mengão durante narrações e debates. Em atuação política, foi um dos grandes responsáveis pela construção do Maracanã, onde o Fla conquistou grande parte de suas glórias.
Mineiro de Ubé, nascido em 1903, Ary Barroso se mudou para o Rio de Janeiro aos 17 anos para cursar direito. Foi quando passou a aprofundar seus interesses por esporte- principalmente o Flamengo- música e política. Sua primeira música de sucesso foi “Vamos deixar de intimidades”, lançada em 1929, e logo em 1930 voltou a chamar atenção com “Dá Nela”. Em evidência ingressou na Rádio Philips dois anos depois.
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A partir desse momento se mostrou um grande comunicar, trabalhando com estrelas de música e locuções esportivas. Ele trabalhou no programa “Calouros em Desfile”, que revelou Elza Soares, e pôde externar todo seu talento para narração e sua paixão pelo Flamengo nas transmissões dos jogos.
Hoje os clubes disponibilizam narrações parciais em seus canais oficiais, mas Ary ia muito além quando o assunto era torcer. Trabalhando primeiro na rádio Cruzeiro do Sul, e depois na Tupi, ele ficava em silêncio quando um adversário se aproximava do gol rubro-negro. Geralmente o momento tinha algum bordão como “Eu não quero nem olhar” ou comemoração em caso de erro do rival.
Ele fez muito sucesso também por gaita que usava em momentos de gol. Em muitos momentos, narrava no meio de torcedores, o que dificultava o entendimento nos momentos de euforia. A solução foi tocar uma gaita com som agudo, que anunciava a bola na rede e foi um sucesso absoluto. Foi em um desse momentos na torcida, aliás, que apelidou a primeira organizada de Charanga Rubro-Negra.
“Nos gols do Flamengo, ele soprava muito mais tempo do que naqueles marcados pelas demais equipes. Os gols contra o Flamengo eram registrados por duas sopradinhas, e olhe lá”, escreveu Sérgio Cabral na biografia ‘No Tempo de Ary Barroso’.
Ary Barroso deixou muitos outros momentos que são eternos. Como por exemplo quando os ouvintes da rádio não escutaram a voz dele nos momentos finais da conquista do Tricampeonato Carioca de 1944. Isso porque, ao apito final, Ary já estava na beira do campo para comemorar com os atletas.
Seu rubro-negrismo marcante era o motivo de seu grande sucesso. Ele atraia não só os torcedores do Flamengo, mas também os rivais que queriam ver suas reações quando o resultado era negativo. Mas nem todos aprovavam seu amor pelo Mengão nas narrações, já que ficou extenso período barrado de entrar em São Januário.
Fora do esporte, seu principal trabalho foi a composição do samba exaltação “Aquarela do Brasil”. Foi também o primeiro brasileiro indicado ao Oscar e concorreu na categoria de Melhor Canção com a música “Rio de Janeiro”, escrita para o filme “Brazil”, de Carmen Miranda.
Ary Barroso e a construção do Maracanã
Em 1947, filiado à UDN (União Democrática Nacional), Ary Barroso foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro com o segundo maior número de votos. Ele teve menos votos apenas que Carlos Larceda, também udenista, com quem protagonizaria batalha política pela construção de um estádio de futebol na então capital federal.
O narrador defendia um campo para 150 mil pessoas no bairro do Maracanã, enquanto Lacerda sugeriu estádio de 60 mil lugares em Jacarepaguá. O jornalista tinha influência política e apresentou discurso contra a proposta de Ary. Foi então que o rubro-negro decidiu recorrer ao povo carioca.
Ele encomendou por conta própria uma pesquisa de opinião pública junto ao Ibope. O levantamento escutou 500 torcedores na saída de partidas ( Botafogo x Olaria, Vasco x Bonsucesso e América x Madureira), e mais 580 moradores do Rio. E os resultados mudaram a história.
79,2% dos entrevistados queriam ver a iniciativa no terreno no Maracanã, e somente 6,9% preferiam Jacarepaguá. Além disso, 53,6% afirmaram que aceitariam “cooperar na medida de seus recursos” para a construção. Já no recorte dos 500 torcedores, 95% foi a favor de mais um estádio no Rio e 85,3% aprovaram a cidade ter o maior estádio do mundo na época.
Ary Barro usou a pesquisa para pedir apoio da bancada comunista e afirmou que se tratava de um interesse nacional. Com 29 votos a favor, dois contra e 19 abstenções, a proposta foi aceita. O Templo Sagrado foi construído para a Copa do Mundo de 1950 e se tornou a casa do Flamengo.
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.