5 fatores que levaram à demissão de Tite

30/09/2024, 15:14
Tite em jogo do Flamengo; treinador negou postura defensiva contra o Bahia

O Flamengo precisa encontrar um recomeço em 2024 para tentar buscar o título da Copa do Brasil e almejar uma evolução no Brasileirão. As atuações ruins pesaram e fizeram com que Tite fosse demitido, e agora, Filipe Luís comanda o time principal interinamente. O Mundo Bola aponta cinco fatores que causaram a demissão, e para isso, conversou com três analistas individualmente para corroborar as informações: Raphael Rabelo, do canal Falando de Tática, Victor Nicolau, do Falso Nove, e Douglas Fortunato.

Queda na Libertadores

O estopim, certamente, foi a eliminação na Copa Libertadores. A meta estipulada pelo clube era chegar, ao menos, na semifinal, mas parou no Peñarol. O desenrolar das quartas de final foi fatal, já que o Flamengo não jogou bem em nenhum dos dois jogos.

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Além da pobreza tática, com muitas bolas cruzadas e poucas finalizações, Tite, no jogo de ida, disse que poderiam cobrar caso o Flamengo não fizesse gol no Uruguai. Mas o empate por 0 a 0 classificou a equipe estrangeira, o que fez com que o técnico fosse confrontado pelo jornalista Gabriel Reis, do canal Paparazzo Rubro-Negro. Tite, no entanto, não gostou da cobrança durante a coletiva de imprensa e alegou que fez uma projeção de gols, e não uma promessa.

O principal sonho da Nação era ser tetracampeão da América, e com a eliminação na Libertadores, Tite ficou muito pressionado, sendo xingado pelos torcedores no Maracanã contra o Athletico. Apesar da vitória por 1 a 0, uma nova atuação ruim levou ao desfecho negativo para o técnico e sua comissão.

Pouca melhora em quase um ano de trabalho

A eliminação pode ter sido a gota d’água, mas foi um longo processo de fritura de Tite no Flamengo. O técnico teve o Campeonato Carioca, com adversários inferiores, como seu melhor momento no clube. A evolução do trabalho, no entanto, não foi constante, como explica o analista Douglas Fortunato, dando seu parecer sobre o que viu do time nessa temporada.

“Foram diversos começos de ciclo ao longo de um ano. Começava o time a engrenar e diversos problemas aconteciam, com relação ao Departamento Médico, convocações, problemas internos. Isso atrapalhou muito. Não conseguiu manter uma sequência mínima. Final do ano passado ele consegue engatar uma sequência legal, fica próximo da liderança, e perde para o Atlético-MG, não é campeão. Depois, chegada do Carioca, parada para Data Fifa, Copa América, sequência de lesões”, diz Douglas.

Além disso, Douglas também explica que Tite deixou a desejar na armação do ataque, além de uma defesa que também não foi bem montada.

“Pecou muito em ter soluções ofensivas. A equipe ficou muito engessada, conseguir acionar o Arrascaeta em último terço, pontas, e eles decidirem. Podia ter dinâmicas melhores para saída de bola. Ficou muito ruim. Soluções para sair por dentro, usar os dois meias. De La Cruz e Pulgar forçando muito o jogo pelo meio, em vez de balançar o jogo pelas pontas. Os jogadores atuavam sem uma orientação do técnico com relação à postura corporal, como executar ações. Uma combinação do ambiente do clube, mas também dificuldades de soluções ofensivas e defensivas”, completa.

Victor Nicolau, do Falso Nove, também criticou a falta de variação tática.

“Vieram lesões, que trouxeram a necessidade de fazer uma pré-temporada com maior variação tática e ter um plano B pronto. Não tinha plano B, e nem pré-temporada porque pediram a ele que vencesse o Campeonato Carioca”, lembra.

As teimosias de Tite

Os torcedores do Flamengo também se mostraram irritados com algumas insistências de Tite, como Allan, durante um bom tempo, mesmo com Léo Ortiz atuando melhor na função. O caso estourou principalmente na Libertadores, quando Ortiz começou no banco, na ida contra o Peñarol, sendo o último a entrar em campo. Raphael Rabelo, do canal Falando de Tática, lembrou alguns desses pontos.

“Ele colocou outras coisas na frente da tática. A gestão de elenco, por exemplo. Ele colocou o Gabriel contra o Peñarol só para dizer que colocou. Ontem deixou o Gabriel 90 minutos, só para dizer que colocou. Ele demorou para colocar o Ortiz, colocou no banco em jogo decisivo. Não fez o Viña virar titular rapidamente. O uso que ele fez dos pontas foi horrível. Colocou a gestão de vestiário acima do mais importante, que é o time jogar bem. Fora as decisões erradas. Leitura de jogo errada muitas vezes. Incapaz de ler o jogo, o que estava acontecendo”, diz Raphael.

O analista também criticou o conservadorismo de Tite, além de falta de variações táticas.

“Esse conservadorismo absurdo dele, acima do tom, foi o grande erro. Taticamente tem algumas coisas também. Não ter alternativas táticas, não ter coragem de mudar para um falso 9 depois que perdeu o Pedro. O fato de não ter pedido um camisa 9. Ele está vendo que o Gabi e o Carlinhos não estão jogando nada. Devia ter sido mais incisivo com a diretoria”, complementa.

Faltou comando e pulso firme para Tite

Outro ponto importante apontado por Raphael Rabelo foi a falta de um pulso mais firme. Tite acatou todos os pedidos da diretoria do Flamengo sem fazer contrapontos.

“Teve questão de planejamento. Ele compõe demais com a diretoria, com os jogadores e não bota o ‘pau na mesa’, digamos assim. Na hora que os dirigentes falaram para ele que tinha que ganhar tudo, ele devia ter dito: ‘Tá, beleza. Então vamos aumentar esse elenco’, ou ‘não, com esse elenco não vai ganhar tudo’. Mas, não: ‘Tá bom, pode deixar’. Não é assim. Esse planejamento fez com que o time ficasse fisicamente um lixo”, inicia, antes de complementar:

“Essa questão de compor com a diretoria, não bate de frente com a diretoria ou com as lideranças do grupo. É a questão de querer ser bonzinho demais com todo mundo, compor com todo mundo. Isso é um grande pecado. Acabou não permitindo com que ele tomasse certas decisões, colocar certos jogadores para jogar, como Ortiz. Barrar um ou outro, fazer uma mudança tática”, finaliza.

Victor Nicolau seguiu caminho parecido.

“O técnico agora precisa fazer um movimento de autocrítica sobre a interminável hierarquia que ele sobrepõe a parte tática e também sobre a falta de dimensão do próprio tamanho. Ele poderia ter colocado algumas cartas na mesa, se negado a alguns movimentos, exigido mais coisas. Poderia ter sido mais veemente, mas esse não é seu perfil”, garante.

Eleições influenciaram decisão

Victor Nicolau declarou ainda sua visão sobre a influência das eleições na decisão de demitir o técnico Tite. O analista entende que a diretoria atende o pedido dos torcedores com outras intenções.

“É um movimento óbvio da diretoria às vésperas de eleições, no plural. A diretoria faz um movimento óbvio de demissão, um movimento de infidelidade ao que pediu ao próprio treinador”, diz.

A visão não é exclusiva de Victor, e até o jornalista João Guilherme mostrou posicionamento parecido em vídeo publicado em suas redes sociais: “O processo eleitoral no clube também pesou e Landim decidiu mandar Tite embora”.

Victor Nicolau ainda complementou com sua visão sobre o trabalho de Tite, mas também criticou a direção.

“Em relação ao treinador, me parece não ter tido um bom trabalho. Pode, sim, ser classificado como trabalho decepcionante. Mas temos que analisar o que foi pedido a ele. Uma diretoria que tentou priorizar tudo, não conseguiu priorizar nada e recomendou a ele foco total no Campeonato Carioca, conquistado com uma campanha histórica. Depois, a Data Fifa com a Copa América fez ele esticar a corda do elenco, tirando condições de trabalho para fazer algo melhor”, finaliza.


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