5 anos da Tragédia no Ninho: cronologia dos acertos com familiares
Há cinco anos, no dia 8 de fevereiro de 2019, dez jovens atletas do Flamengo morreram em um incêndio que atingiu alojamento da base no CT Ninho do Urubu. Dezesseis meninos sobreviveram. E, das 26 famílias envolvidas na tragédia, uma ainda não chegou a um acordo com o clube na Justiça.
O Flamengo finalizou a maioria dos acordos até o fim de 2021, mas a família de Cristhian acionou a Justiça para cobrar valor de indenização que considera justo. Montante que foi contestado e classificado como “exorbitante” pela defesa do clube, que citou a busca por acerto em nota oficial.
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Além de Christian, morreram no dia da tragédia no Ninho: Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 14 anos; Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos; Bernardo Pisetta, 15 anos; Vitor Isaías, 15 anos; Samuel Thomas Rosa, 15 anos; Athila Paixão, 14 anos; Jorge Eduardo, 15 anos; Gedson Santos, 14 anos; e Rykelmo Viana, 16 anos.
Relembre a cronologia das negociações com as famílias e veja como estão os sobreviventes da tragédia no Ninho após cinco anos:
Primeiros encontros com oferta baixa e poucos acordos no 1º ano
No dia 19 de fevereiro de 2019, representantes do Flamengo apresentaram proposta de indenização baixíssima e muito inferior ao sugerido por Defensoria Pública, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Rio de Janeiro. A sugestão era R$ 2 milhões por dano moral a cada família, mas o clube ofereceu uma proposta que, em média, variava de R$ 300 mil a 400 mil (20%).
Dirigentes também ofereceram pensão mensal equivalente a 1 salário mínimo para cada família pelo período de dez anos. Valor que representava 10% do que foi proposto, que era uma pensão de pelo menos R$ 10 mil mensais ao longo de 30 anos. O clube ainda divulgou nota defendendo a postura, o que gerou uma onde de críticas não só de torcedores rubro-negros, mas de outras torcidas e imprensa.
Sem acordo, a diretoria decidiu abrir negociações individuais com cada família e estipulou teto que gastaria com as indenizações. Em um primeiro momento, a lógica era que mãe e pai casados teriam direito a um valor de dano moral pouco acima de R$ 1 milhão, com pensão mensal por longo prazo.
A quantia total se aproximava de R$ 2 milhões. E, além disso, o acordo previa metade do valor para cada familiar em caso de guarda dividida.
Flamengo acertou com 4 famílias até 2020
O Flamengo avançou nas conversas com algumas famílias e conseguiu acordos após mudanças nas propostas. Entretanto, com sete recusas, a tragédia completou um ano no dia 8 de fevereiro de 2020 com o clube acertado com apenas quatro famílias das vítimas.
Seguindo o modelo estabelecido, dirigentes assinaram acordos com Dona Josete, avó de Vitor Isaías, e com os pais de Áthila Paixão e Gedson Santos. Além disso, o pai de Rykelmo foi o quarto familiar a entrar em consenso para receber a indenização. Ele conversou com o clube separado da mãe que, ainda em 2019, entrou na Justiça cobrando R$ 6,9 milhões.
Por determinação da Justiça do Rio de Janeiro, o Flamengo seguiu com pagamento de R$ 10 mil por mês aos familiares que não tinham acordo. Pagou, e ainda paga, as questões relacionadas a tratamento psicológico dos familiares, assim como dos sobreviventes.
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Clube intensificou conversas por acordos
A sequência do ano de 2020 foi muito importante para o Flamengo concluir a maiorias dos acordos com os familiares das vítimas. Quando a tragédia no Ninho completou dois anos, em 2021, o clube tinha indenização com nove das dez famílias. Assim como nos anteriores, os valores não foram divulgados em respeito à privacidade de cada família.
Além dos quatro familiares que já tinham o acerto, o Rubro-Negro assinou contrato indenizatório com os familiares de Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva Matos e Samuel Thomas Rosa.
O acerto com a mãe do volante Rykelmo, que tinha ação na Justiça, aconteceu no fim de 2021. Dona Rosana foi a única a entrar com processo ainda em 2019 e aguardava desenrolar da investigação criminal, mas retirou a acusação após chegar em entendimento em reuniões no fim de novembro.
Assim, o Flamengo chegou ao final de 2021 com 25 dos 26 acordos com vítimas fatais, físicas ou psicológicas da tragédia no Ninho do Urubu. A pendência está na família do goleiro Christian Esmério, que luta até hoje pela indenização.
Flamengo ainda não chegou a consenso com família de Christian
Cinco anos após a tragédia, a família de Christian ainda não entrou em acordo com o Flamengo pela indenização. A defesa no clube no processo, aliás, alegou considerar o valor de 9,3 milhões “exorbitante” e apresentou nova oferta.
A família do goleiro, que tinha 15 anos, pede que sejam pagos um total de R$ 9,3 milhões, divididos em R$ 5,4 milhões por danos morais e R$ 3,9 milhões referentes a pensão. Além disso, eles cobram o pagamento do valor à vista, algo que o Rubro-Negro não deseja fazer.
A defesa rubro-negra, no entanto, entende que o valor deve ficar entre R$ 150 mil e 500 salários mínimos (considerando o valor da época do acontecimento). Dessa forma, como o salário era de R$ 998 em 2019, o valor máximo por danos morais seria de R$ 499 mil. Esse montante ainda será acrescido de juros.
O caso corre na 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e há expectativa que uma sentença seja declarada em breve.
Nesta quarta-feira (7), enquanto o time disputava clássico com o Botafogo, o Flamengo divulgou nota oficial sobre os acordos com as famílias das vítimas. O clube afirmou que paga pensão à família de Christian e “continua aberto para alcançar uma composição com eles, a quem muito preza”. Veja na íntegra.
Tragédia no Ninho completa 5 anos sem punição aos responsáveis
Cinco anos depois da tragédia, o processo que investiga os responsáveis segue sem conclusão. São oito réus, incluindo ex-dirigentes do clube, que respondem em liberdade por incêndio culposo qualificado por causar morte e lesão corporal grave.
Entre os réus, estão o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, o ex-diretor financeiro Márcio Garotti e o ex-diretor adjunto de patrimônio Marcelo Maia de Sá. Os outros acusados são engenheiros responsáveis pelos contêineres e pessoas envolvidas em contratos e manutenção das estruturas.
A situação de cada um dos 16 sobreviventes:
Apenas três dos 16 sobreviventes da tragédia no Ninho do Urubu permanecem no clube em 2024. Dois seguem atuando e são tratados como grandes promessas: o goleiro Dyogo Alves e o volante Rayan Lucas. Já Jhonata Ventura, jovem teve 30% do corpo queimado, não conseguiu retomar carreira de zagueiro e se tornou membro do departamento de scout do clube no segundo semestre do último ano.
Seguem no Flamengo:
- Dyogo Alves (goleiro)
- Rayan Lucas (volante)
- Jhonata Ventura (scout)
Saíram do Flamengo:
- Jean Sales: 19 anos, atualmente defende o Santa Clara, de Portugal;
- Caike Duarte: 19 anos e atua pelo Barra, de Santa Catarina;
- Felipe Cardoso: aos 20 anos, defende o Santa Cruz;
- João Vitor Gasparin: está no Trieste, clube amador de Curitiba, e aguarda nova chance aos 19 anos
- Naydjel Callebe: 19 anos, se tornou jogador de futsal;
- Wendel Alves: 19 anos, atualmente está no time sub-20 no Internacional.
- Kennyd Lucca: 19 anos, está emprestado pelo Goiás ao Porto B;
- Pablo Ruan: 21 anos, profissional no Londrina;
- Gabriel de Castro: 20 anos, disputa torneios amadores em Curitiba;
- Filipe Chrysman: 21 anos, chegou ao Central de Caruaru no fim de 2023;
- Kayque Soares: 20 anos, Hatta Club, dos Emirados Árabes;
- Samuel Barbosa: 21 anos, defende o Aruriz;
- Cauan: 19 anos, busca novo clube após fim de contrato com Fortaleza.
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.