5 anos da Era Landim no Flamengo: erros e acertos financeiros

02/01/2024, 11:55
Rodolfo Landim em coletiva do Flamengo; mandatário completa cinco anos de clube e gestão tem ótimos números financeiros

Rodolfo Landim completou cinco anos como presidente do Flamengo nessa segunda-feira (1º). Em seu período como mandatário do Mais Querido, o clube seguiu planejamento financeiro iniciado em 2013 e atingiu os maiores orçamentos da história do futebol brasileiro. Entre erros e acertos, e gestão bateu recordes de receitas e reduziu consideravelmente a dívida, mas também inflou os pagamentos do futebol.

Landim assumiu a gestão do Flamengo após a saída de Eduardo Bandeira de Mello, que liderou os primeiros seis anos de reestruturação financeira. Após temporadas de austeridade financeira, com receita muito menor e pagamentos de dívidas de curto prazo, o Fla chegou em 2019 com dinheiro em caixa e a possibilidade de ser agressivo no mercado.

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Contratações de peso resultaram nas conquistas de Brasileiro e Libertadores logo no primeiro ano, o que gerou grande receita de premiações. Além disso, a gestão de Landim conseguiu novos contratos de patrocínios e alavancou as receitas do clube. O Fla terminou 2019 com faturamento de R$ 950 milhões, muito superior aos R$ 538 milhões do ano anterior.

O Flamengo ainda oficializou o balanço de 2023, mas a expectativa é que o clube divulgue valor de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. O montante, caso confirmado, será o novo recorde de receita do futebol brasileiro. Superando valores do próprio clube, em 2022. Veja lista com faturamentos do Fla desde 2019:

  • 2019- R$ 950 milhões
  • 2020- R$ 756 milhões*
  • 2021- R$ 1,082 bilhão
  • 2022- R$ 1,151 bilhão
  • 2023- R$ 1,3 bilhão*

* Em 2020, o Flamengo precisou refazer os cálculos do orçamento em função da pandemia de Covid-19. O clube esperava arrecadar R$ 1 bilhão, mas revisou os números e faturou 20,5% a menos que 2019.

* A receita de 2023 não foi oficializada pelo Flamengo, o que vai ocorrer nos primeiros meses de 2024.

Novos patrocínios

Landim teve que lidar com a saída de Caixa Econômica Federal do posto de patrocinados master assim que assumiu. O banco estatal pagava R$ 25 milhões de reais por ano ao Rubro-Negro. No entanto, conseguiu se manter com o mesmo nível de arrecadação com patrocínios em um ano de queda para a maioria dos times do Brasil.

Desde então, o Manto Sagrado passou a ser a camisa com os patrocínios mais caros do futebol nacional. Na última semana, o Flamengo aprovou acordo para a Pixbet ser patrocinadora master do clube por dois anos. A casa de apostas irá pagar um total de R$ 170 milhões. Com a Caixa, o valor seria pago em sete anos de parceria.

Veja os patrocinadores masters da gestão Landim e os valores que cada pagou o Flamengo:

  • Caixa Econômica Federal- R$ 25 milhões por ano
  • BS2- R$ 15 milhões por ano + variáveis
  • BRB- R$ 32 milhões por ano
  • Pixbet- R$ 85 milhões por ano
Flamengo divulgou imagem do Manto Sagrado com patrocínio da Pixbet
Flamengo divulgou imagem do Manto Sagrado com patrocínio da Pixbet. Foto: Divulgação

No total, a camisa do Mengão inicia 2024 como a mais valiosa do Brasil: R$ 213 milhões.

  • Pixbet: R$ 85 milhões
  • Adidas: R$ 69 milhões
  • BRB: R$ 6,2 milhões
  • Mercado Livre: R$ 21,5 milhões
  • ABC: R$ 7,1 milhões
  • Tim: R$ 5 milhões
  • Assistant card: R$ 20 milhões

A gestão Landim foi responsável por praticamente todos os acordos, com exceção da TIM. Isso inclui o novo contrato milionário com a Adidas, a parceria com o Banco BRB e novo master. Em 2018, o setor de Marketing e Comercial arrecadou R$ 124 milhões. Montante que apenas a camisa de jogo já superou.

Contratos de direitos de transmissão

O atual contrato para as transmissões do Flamengo no Brasileiro foi assinado na gestão Bandeira de Mello, em 2016. Contudo, a gestão Landim teve participação para manter o Mengão com grande vantagem para os outros clubes na arrecadação.

Enquanto a maioria dos clubes adiantou verbas para quitarem dívidas ou atrasos com jogadores, o Flamengo manteve suas contas em dia. Até mesmo durante a pandemia, quando as receitas diminuíram, o clube sequer cogitou pedir adiantamento. Assim, manteve cláusula de mínimo garantido em contrato. Em 2022, o Fla arrecadou R$ 495 milhões em direitos de transmissão e premiações.

Agora, Landim representa o Fla nas negociações pelos direitos de TV a partir de 2025. O presidente é um dos líderes da Libra, bloco de clubes para a negociação, e deve assinar acordo superior a R$ 1 bilhão com a TV Globo. Desse valor, o Rubro-Negro terá a maior fatia.

Flamengo arrecadou mais de R$ 600 milhões com vendas de atletas da base desde 2019

Outro grande fator para o Flamengo atingir o atual patamar financeiro foi a arrecadação com venda de atletas. Um dos principais formadores de jogadores do Brasil, o time investiu nas categorias de base e teve retorno. Nos últimos cinco anos, o Fla faturou R$ 634,3 milhões com vendas de Garotos do Ninho.

Destaque para as saídas de Reinier, vendido por R$ 136 milhões, e Matheus França, que deixou o Mengão por R$ 104,5 milhões. No total, foram 19 jogadores revelados na base vendidos para atingir o valor. Alguns saíram por grande valor apesar de pouco espaço no profissional, como o caso de Yuri César (R$ 26,1 milhões).

É importante destacar que o valor não considera quanto os atletas renderam ao clube após vendidos. Lucas Paquetá, por exemplo, saiu do Fla em 2018 e rendeu R$ 10 milhões entre 2019 e 2022. Vendas como a do zagueiro espanhol Pablo Marí, que gerou R$ 55 milhões aos cofres do clube.

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Dívida do Flamengo atinge o menor índice desde 2013

A dívida do Flamengo era de R$ 455 milhões quando Rodolfo Landim assumiu a presidência. Valor muito menor dos que os R$ 737 milhões no início de 2023, mas um valor considerável. Afinal, o clube tinha arrecadado 538 milhões de reais e a dívida representava 84% do faturamento.

O endividamento aumentou nos primeiros anos de gestão Landim, chegando a R$ 721 milhões ao fim de 2020. Contudo, assim como a receita teve crescimentos exponencial, a dívida do clube reduziu drasticamente a partir de 2021. No final de 2022, o valor era de R$ 444 milhões.

Em entrevista recente, Landim afirmou que o Flamengo deve cerca de R$ 200 milhões atualmente. E é importante ressaltar que o valor considera dívidas e aquisições de atletas com parcelamentos já acordados.

“Hoje o Flamengo dá lucro operacional de R$ 370 milhões e a dívida é de aproximadamente R$ 200 milhões. Fomos de R$ 212 milhões para R$ 1,3 bilhão de receita anual. É outro clube, totalmente diferente”

Além disso, segundo números divulgados aos conselheiros e que o Mundo Bola teve acesso, a dívida líquida* do clube está em R$ 54 milhões. O montante representa apenas 4% da receita prevista para a última temporada.

* Dívida líquida é o valor que indica a diferença entre as contas a pagar e o dinheiro que o clube tem em caixa.

Folha salarial

A gestão de Rodolfo Landim no Flamengo é repleta de sucessos financeiros, mas apresenta falhas no futebol. A diretoria tem parcela em todos os títulos do período, já que montou o elenco vencedor, mas também cometeu erros que dificultam o clube no mercado de transferências. O principal certamente ao inflar a folha salarial.

É natural que grandes atletas como Arrascaeta, Gabigol, Bruno Henrique e outras estrelas do elenco recebam grandes salários. No entanto, os dirigentes ofereceram contratos muito superiores ao padrão do futebol brasileiro para atletas contratados para compor elenco.

Como resultado, tem dificuldades para negociar atletas no mercado de transferências. Os zagueiros David Luiz e Pablo, por exemplo, estão fora dos planos de Tite para 2024. Contudo, não receberam propostas financeiras sequer próximas ao que ganham no Fla e manifestaram o desejo de cumprir contrato.

A permanência dos jogadores influencia nas ações do Fla no mercado de transferências. O clube busca reforços de peso, mas se mantém alerta para manter o crescimento da folha dentro do orçamento. Além disso, deve contratar apenas um zagueiro caso não venda David ou Pablo.

Segundo Bruno Spindel, diretor-executivo do Flamengo, a folha salarial é de R$ 25 milhões, incluindo direito de imagem e 13º salário dos atletas. O montante não contabiliza apenas as premiações, já que os valores variam de acordo com o desempenho do time.


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Matheus Celani
Autor
Jornalista graduado no Centro Universitário IBMR, 23 anos, natural do Rio de Janeiro. Amante da escrita e um completo apaixonado pelo Flamengo, vôlei e esportes olímpicos.