João Luis Jr: 2023, o ano em que a prepotência da diretoria do Flamengo cobrou seu preço

25/05/2023, 11:17
Flamengo cedeu o empate ao Ñublense nessa quarta

Uma coisa óbvia, mas que tem de ser repetida com frequência, é que o primeiro passo para corrigir um problema é reconhecer que ele existe. Só alcança a lâmpada quem reconhece que precisa de uma escada. Para curar a doença é necessário aceitar o diagnóstico. Só consegue corrigir o erro quem realmente admite que errou.

Mas esse processo de correção, de reconhecimento, de aprendizado, exige a aceitação da própria capacidade de falhar. Além disso da possibilidade de estar errado, da compreensão das próprias limitações. Para decidir pegar a escada você precisa aceitar que não é tão alto. Para ir ao médico você precisa reconhecer os sintomas. Entender seu erro exige a ciência de que você é capaz de errar.

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Processos que já vinham sendo sinalizados nos últimos anos, mas ficaram mais claros da temporada passada pra cá. A diretoria rubro-negra é absolutamente incapaz de realizá-los, presa numa lógica só vista antes nas falas do Professor Girafales. Rodolfo Landim, Marcos Braz e companhia parecem acreditar que só se enganaram uma vez: quando acharam que estavam enganados.

Isso porque os resultados decepcionantes na temporada, como, por exemplo, o empate lamentável dessa quarta-feira (24), diante do fraco Nublense, são fruto direto da prepotência e arrogância de uma diretoria que visivelmente sabe bem menos de futebol do que ela imagina.

Podemos, claro, criticar Sampaoli por escalar um Flamengo que não tinha criatividade pelo meio e nem velocidade pelos lados, dependendo basicamente de um milagre seguido de um eclipse seguido da passagem do Cometa Halley pra marcar um gol. Mas quem achou que o Flamengo não precisava contratar mais meias e deixou o treinador sem recursos diante das lesões de Arrasca e Éverton? Quem não trouxe nenhum lateral-direito e nos fez depender de Varela, o homem que faz parecer realistas aqueles filmes da série Bud em que se tira um ser humano de campo e se coloca um cachorro?

Se o Flamengo está hoje vivendo uma reformulação em plena metade da temporada, quem decidiu, no fim do ano passado, trocar o treinador campeão da Libertadores por um cidadão aleatório que teria “um teto mais alto”? Quem vem contratando treinador errado em cima de treinador errado, prometendo reforços que nunca vem, e ainda se comportando como se tudo isso fosse parte de um plano?

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Tomamos um dos gols mais patéticos da história do futebol, muito em virtude da total narcolepsia da nossa equipe. Mas quem deveria ter feito a renovação deste elenco? Se David Luiz ontem caminhava em campo, quem colocou no contrato dele uma cláusula de renovação automática? E não custa lembrar: quem disse que o Flamengo “não tinha do que reclamar” após o sorteio deste grupo onde agora temos 5 pontos em 4 jogos?

A verdade é que se muita gente tem culpa na temporada frustrante que o Flamengo vem vivendo, onde conseguimos, em poucos meses, passar de “campeões da Libertadores” para “equipe que corre o risco de cair na fase de grupos da Libertadores”, ninguém tem mais culpa do que Marcos Braz e Rodolfo Landim. Não apenas porque são eles as principais autoridades do futebol do clube, mas também porque é hora desses homens, sempre tão dispostos quando se trata de comemorar vitórias, começarem a aceitar também a responsabilidade das derrotas.

Mas também porque o primeiro passo para reconstruir o Flamengo vitorioso que vimos alguns anos atrás é reconhecer o processo de destruição que ele sofreu nesses últimos tempos. Porque o primeiro passo para consertar o departamento de futebol é Marcos Braz aceitar que ele parece não entender muito de futebol. E enquanto isso não acontecer, vamos continuar amargando resultados frustrantes e partidas lamentáveis, como vem acontecendo recentemente.